12.2 - UMA ÍNTIMA ESCALADA AOS COGITOS SUPERIORES
NEUZA MACHADO
A imaginação, segundo Bachelard, seria "a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção”, ao contrário do que a psicologia moderna ensina, ou seja, que a imaginação é a faculdade de formar imagens.
A partir de Primeiras Estórias, o Artista começa a deformar criativamente tudo o que fora re-formado nas anteriores páginas de recuperação ficcional do sertão. O encantamento inicial, os questionamentos existenciais e os inumeráveis pensamentos transmutativos eram características de um escritor de substâncias palpáveis que, naquela fase, vivenciava o cogito(2), plano habitado apenas por uma pequena porção privilegiada de seres pensantes.
As verticais labaredas do fogo consumidor — que inegavelmente marcaram Grande Sertão: Veredas: labaredas de amor e labaredas de guerra — induziram-no a um íntimo contato com o elemento ar. Isto porque o ar em movimento é uma espécie de fogo. Quando frio, o ar está repleto de milhares de partículas, que por sua vez estão repletas de energia potencial, inertes; quando quente, as partículas entram em um movimento tão acelerado, que sua energia potencial é transformada em energia cinética (movimento), podendo ser então vislumbrada sob a forma de energia luminosa ou energia calorífica. Mas isto não é privilégio apenas do ar: a lava de um vulcão é a terra transformada em fogo; o vapor de um geiser é a água também transformada em fogo.
É importante salientar que, quando uso aqui nestes exemplos a palavra fogo, estou a referir-me a um fogo microscópico, ou seja, a própria energia calorífica, e portanto não quero dizer que um e outro elementos possam coexistir em harmonia, pois, por exemplo, uma chuva pode apagar um incêndio, um sopro pode apagar uma vela, um punhado de terra pode extinguir uma fogueira. Em contrapartida, quando o fogo é o elemento dominante nesta disputa de elementos, pode modificar a estrutura da terra e/ou da água, liquefazendo-as ou vaporizando-as. Quando associado ao ar, o fogo se harmoniza com ele, mas reafirmo que nem sempre o ar se harmoniza com o fogo (o sopro e a vela, como já foi mencionado). O ar, volúvel e infiel, acasala-se indistintamente com a terra, a água e o fogo.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8.
NEUZA MACHADO
A imaginação, segundo Bachelard, seria "a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção”, ao contrário do que a psicologia moderna ensina, ou seja, que a imaginação é a faculdade de formar imagens.
A partir de Primeiras Estórias, o Artista começa a deformar criativamente tudo o que fora re-formado nas anteriores páginas de recuperação ficcional do sertão. O encantamento inicial, os questionamentos existenciais e os inumeráveis pensamentos transmutativos eram características de um escritor de substâncias palpáveis que, naquela fase, vivenciava o cogito(2), plano habitado apenas por uma pequena porção privilegiada de seres pensantes.
As verticais labaredas do fogo consumidor — que inegavelmente marcaram Grande Sertão: Veredas: labaredas de amor e labaredas de guerra — induziram-no a um íntimo contato com o elemento ar. Isto porque o ar em movimento é uma espécie de fogo. Quando frio, o ar está repleto de milhares de partículas, que por sua vez estão repletas de energia potencial, inertes; quando quente, as partículas entram em um movimento tão acelerado, que sua energia potencial é transformada em energia cinética (movimento), podendo ser então vislumbrada sob a forma de energia luminosa ou energia calorífica. Mas isto não é privilégio apenas do ar: a lava de um vulcão é a terra transformada em fogo; o vapor de um geiser é a água também transformada em fogo.
É importante salientar que, quando uso aqui nestes exemplos a palavra fogo, estou a referir-me a um fogo microscópico, ou seja, a própria energia calorífica, e portanto não quero dizer que um e outro elementos possam coexistir em harmonia, pois, por exemplo, uma chuva pode apagar um incêndio, um sopro pode apagar uma vela, um punhado de terra pode extinguir uma fogueira. Em contrapartida, quando o fogo é o elemento dominante nesta disputa de elementos, pode modificar a estrutura da terra e/ou da água, liquefazendo-as ou vaporizando-as. Quando associado ao ar, o fogo se harmoniza com ele, mas reafirmo que nem sempre o ar se harmoniza com o fogo (o sopro e a vela, como já foi mencionado). O ar, volúvel e infiel, acasala-se indistintamente com a terra, a água e o fogo.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8.
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