10.2 - A TEMÁTICA DA ÁGUA
NEUZA MACHADO
Em "A terceira margem do rio", a matéria eleita é a água, acasalada à terra, elemento material sólido que permite concretude ao sertão.
“[As] combinações imaginárias reúnem apenas dois elementos, nunca três. A imaginação material une a água à terra; une a água ao seu contrário, o fogo; une a terra e o fogo; vê por vezes no vapor e nas brumas a união do ar e da água. Mas nunca, em nenhuma imagem natural, se vê realizar a tripla união material da água, da terra e do fogo. A fortiori, nenhuma imagem pode receber os quatro elementos. Tal acúmulo seria uma contradição insuportável para uma imaginação dos elementos, para essa imaginação material que sempre tem necessidade de eleger uma matéria e de garantir-lhe um privilégio em todas as combinações. Se surgir uma união ternária, podemos estar certos de que se trata apenas de uma imagem artificial, de uma imagem feita com idéias. As verdadeiras imagens, as imagens do devaneio, são unitárias ou binárias. Podem sonhar na monotonia de uma substância. Se desejarem uma combinação, é uma combinação de dois elementos” (Bachelard).
Nos devaneios fundamentais de quem narra, terra e água se unem, formando a massa consistente de um sertão ficcional muito particular. No caso específico de "A terceira margem do rio", a água se destaca, refazendo a dialética do raso e do profundo, por intermédio de lembranças rasas, provindas da memória experiente, aliadas às recordações profundas, submissas ao domínio do imaginário poético.
O sonhador-ficcionista sonha os rios de seu sertão de origem, associando seu sonho ao conhecimento real que possui de cada milímetro daquele lugar que marcou profundamente seus primeiros anos de vida. Só que esse lugar possui um outro elemento de vital importância (a terra), elemento estável e tranquilo, e é impossível separá-lo definitivamente de sua matéria eleita, tão instável e intranquila.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
NEUZA MACHADO
Em "A terceira margem do rio", a matéria eleita é a água, acasalada à terra, elemento material sólido que permite concretude ao sertão.
“[As] combinações imaginárias reúnem apenas dois elementos, nunca três. A imaginação material une a água à terra; une a água ao seu contrário, o fogo; une a terra e o fogo; vê por vezes no vapor e nas brumas a união do ar e da água. Mas nunca, em nenhuma imagem natural, se vê realizar a tripla união material da água, da terra e do fogo. A fortiori, nenhuma imagem pode receber os quatro elementos. Tal acúmulo seria uma contradição insuportável para uma imaginação dos elementos, para essa imaginação material que sempre tem necessidade de eleger uma matéria e de garantir-lhe um privilégio em todas as combinações. Se surgir uma união ternária, podemos estar certos de que se trata apenas de uma imagem artificial, de uma imagem feita com idéias. As verdadeiras imagens, as imagens do devaneio, são unitárias ou binárias. Podem sonhar na monotonia de uma substância. Se desejarem uma combinação, é uma combinação de dois elementos” (Bachelard).
Nos devaneios fundamentais de quem narra, terra e água se unem, formando a massa consistente de um sertão ficcional muito particular. No caso específico de "A terceira margem do rio", a água se destaca, refazendo a dialética do raso e do profundo, por intermédio de lembranças rasas, provindas da memória experiente, aliadas às recordações profundas, submissas ao domínio do imaginário poético.
O sonhador-ficcionista sonha os rios de seu sertão de origem, associando seu sonho ao conhecimento real que possui de cada milímetro daquele lugar que marcou profundamente seus primeiros anos de vida. Só que esse lugar possui um outro elemento de vital importância (a terra), elemento estável e tranquilo, e é impossível separá-lo definitivamente de sua matéria eleita, tão instável e intranquila.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
Nenhum comentário:
Postar um comentário