A matéria água de "A terceira margem do rio" é poeticamente dinâmica, porque não se encontra estática no tempo suspenso entre o antes e o depois das tristes recordações do filho ausente.
Formalizando artisticamente um Pai ficcional, o Criador Literário reencontra o Sertão de Minas Gerais, reencontra seus mortos, revive o passado no plano das probabilidades de seus antigos hábitos de vida. Submetido aos reflexos dinâmicos do rio imaginário, preocupado em descobrir os segredos de sua profundidade, constrói um caixão diferente para seu personagem, envolvendo-o numa atmosfera mágica, materializando uma realidade diferenciada que não condiz com a simplicidade da estória.
O viver diário do Pai, dentro da canoa, só se torna possível com a colaboração do leitor. Este aceita como real o mundo dos sonhos estranhos visualizado pelo Artista. E, no entanto, a narrativa é aparentemente normal.
O leitor aceita a solidão do Pai e entende a angústia do Filho, porque ele também possui o conhecimento da realidade do momento histórico de quem narra; assim, interage com os aspectos referenciais do texto ficcional, integra-se à narrativa e passa a relembrar seus medos e culpas; associa às imagens dos assertos ficcionais os reflexos imagísticos de seu próprio passado, representações mentais díspares que pouco têm a ver com o narrado. Lembranças de entes queridos, pais que se separaram, mães autoritárias, pais fracos, todo um elenco de emoções vêm à tona, no decurso da estória de um Pai solitário e um Filho repleto de culpas burguesas.
"Aquilo que não havia, acontecia". O Artista moderno está liberto — solitário e triste — no momento da criação. Os domínios do imaginário são infinitos, por isto, a realidade do rio da infância se amalgama à realidade dos sonhos bem sonhados da maturidade. Os reflexos do rio do passado encontram sustentação nos reflexos da profunda contemplação interior, acrisolada numa imaginação ímpar. O Pai só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, porque o Artista não destaca apenas a beleza da superfície da água, antes, procura realçá-la "em sua massa” (Bachelard), com a invenção do rio grande, fundo, calado que sempre, associada às lembranças íntimas do rio do passado.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
Formalizando artisticamente um Pai ficcional, o Criador Literário reencontra o Sertão de Minas Gerais, reencontra seus mortos, revive o passado no plano das probabilidades de seus antigos hábitos de vida. Submetido aos reflexos dinâmicos do rio imaginário, preocupado em descobrir os segredos de sua profundidade, constrói um caixão diferente para seu personagem, envolvendo-o numa atmosfera mágica, materializando uma realidade diferenciada que não condiz com a simplicidade da estória.
O viver diário do Pai, dentro da canoa, só se torna possível com a colaboração do leitor. Este aceita como real o mundo dos sonhos estranhos visualizado pelo Artista. E, no entanto, a narrativa é aparentemente normal.
O leitor aceita a solidão do Pai e entende a angústia do Filho, porque ele também possui o conhecimento da realidade do momento histórico de quem narra; assim, interage com os aspectos referenciais do texto ficcional, integra-se à narrativa e passa a relembrar seus medos e culpas; associa às imagens dos assertos ficcionais os reflexos imagísticos de seu próprio passado, representações mentais díspares que pouco têm a ver com o narrado. Lembranças de entes queridos, pais que se separaram, mães autoritárias, pais fracos, todo um elenco de emoções vêm à tona, no decurso da estória de um Pai solitário e um Filho repleto de culpas burguesas.
"Aquilo que não havia, acontecia". O Artista moderno está liberto — solitário e triste — no momento da criação. Os domínios do imaginário são infinitos, por isto, a realidade do rio da infância se amalgama à realidade dos sonhos bem sonhados da maturidade. Os reflexos do rio do passado encontram sustentação nos reflexos da profunda contemplação interior, acrisolada numa imaginação ímpar. O Pai só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, porque o Artista não destaca apenas a beleza da superfície da água, antes, procura realçá-la "em sua massa” (Bachelard), com a invenção do rio grande, fundo, calado que sempre, associada às lembranças íntimas do rio do passado.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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