12.1 - O NARRADOR MARAVILHADO PERDE A VEZ: UMA ÍNTIMA ESCALADA AOS COGITOS SUPERIORES
NEUZA MACHADO
Em sua última fase ficcional, o Artista deforma criativamente o sertão da infância e adolescência. As formas conceituais que o compuseram até então terminam com Diadorim, em Grande Sertão: Veredas. Essa longa narrativa marca o fim de um ciclo de criação literária, em que as substâncias sociais, míticas e ficcionais se amalgamavam, materializadas e questionadoras.
Depois da intromissão do elemento fogo, depois de um longo narrar, dialético e maravilhado, as terras e rios do sertão roseano já não serão recriados sob as antigas perspectivas ficcionais que comandavam o olhar e mão do sonhador. Agora, um novo elemento, o ar, direciona o Artista, sustentando a sua íntima escalada aos cogitos superiores do pensamento puro. Nesta fase, e em outra dimensão de seu intelecto privilegiado, ele está hipnotizado pelo seu novíssimo vôo horizontal, depois da ascensão vertical ao autêntico individualismo. Afastado agora das imagens primeiras de suas anteriores substâncias ficcionais e propenso a mudar o seu ângulo de visão, vê-se submetido unicamente a seu próprio momento criador dinâmico.
Se antes já manuseava um discurso dialetal insolitíssimo, a partir de Primeiras Estórias, o ficcional-criativo será totalmente aberto aos movimentos aéreos de sua poderosa imaginação. A novidade, de ora em diante, não será mais a descoberta de um sertão pitoresco e mítico: será o próprio ato de criar um mundo além das imposições conceituais.
Sua imaginação literária, neste último estágio, livre dos conceitos cerceadores, abeira-se do plano da loucura ou, usando outra terminologia, da espiritualidade transcendente. O reino da pura imaginação — plano literário — seria, para os teóricos da literatura, o cogito(4) pensado, com reservas, por Bachelard, já que, para ele, apenas três cogitos permitiriam ao ser pensante uma vida normal e equilibrada. O cogito(3), no caso, já ocasionaria um distanciamento entre o indivíduo que o alcançasse e a massa, solidamente ancorada no cogito(1) das ideologias sacralizadas.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
NEUZA MACHADO
Em sua última fase ficcional, o Artista deforma criativamente o sertão da infância e adolescência. As formas conceituais que o compuseram até então terminam com Diadorim, em Grande Sertão: Veredas. Essa longa narrativa marca o fim de um ciclo de criação literária, em que as substâncias sociais, míticas e ficcionais se amalgamavam, materializadas e questionadoras.
Depois da intromissão do elemento fogo, depois de um longo narrar, dialético e maravilhado, as terras e rios do sertão roseano já não serão recriados sob as antigas perspectivas ficcionais que comandavam o olhar e mão do sonhador. Agora, um novo elemento, o ar, direciona o Artista, sustentando a sua íntima escalada aos cogitos superiores do pensamento puro. Nesta fase, e em outra dimensão de seu intelecto privilegiado, ele está hipnotizado pelo seu novíssimo vôo horizontal, depois da ascensão vertical ao autêntico individualismo. Afastado agora das imagens primeiras de suas anteriores substâncias ficcionais e propenso a mudar o seu ângulo de visão, vê-se submetido unicamente a seu próprio momento criador dinâmico.
Se antes já manuseava um discurso dialetal insolitíssimo, a partir de Primeiras Estórias, o ficcional-criativo será totalmente aberto aos movimentos aéreos de sua poderosa imaginação. A novidade, de ora em diante, não será mais a descoberta de um sertão pitoresco e mítico: será o próprio ato de criar um mundo além das imposições conceituais.
Sua imaginação literária, neste último estágio, livre dos conceitos cerceadores, abeira-se do plano da loucura ou, usando outra terminologia, da espiritualidade transcendente. O reino da pura imaginação — plano literário — seria, para os teóricos da literatura, o cogito(4) pensado, com reservas, por Bachelard, já que, para ele, apenas três cogitos permitiriam ao ser pensante uma vida normal e equilibrada. O cogito(3), no caso, já ocasionaria um distanciamento entre o indivíduo que o alcançasse e a massa, solidamente ancorada no cogito(1) das ideologias sacralizadas.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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