A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: AS ANTIGAS FESTAS RELIGIOSAS
EM SANTO ANTÔNIO DO ARROZAL
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Santo Antônio do Arrozal, que
tinha também o nome de Choro quando eu estudava lá, tinha seis casas
comerciais, de fazendas [panos, tecidos] e armarinhos, duas padarias, duas
farmácias, quatro casas de bebidas e miudezas, ferraria, barbearia. Eram muitos
turcos que comerciavam, negociavam até com toucinho em canoa. O senhor Luiz de
Sales era o homem que comandava e organizava as festas, de mês de Maria, de
Santo Antônio, de São Sebastião. De mês em mês, havia missa. O padre da Comarca de Divino ia direto pra casa do senhor Luiz de Sales.
Em ocasiões de festas, o senhor Luiz de Sales
mandava cartas pedindo leilão, e meninas, para coroar Nossa Senhora. A igreja
era pequena, mas, em todos os dias do mês de maio, ninguém faltava com a
presença na igreja, para assistir à reza, em homenagem a Nossa Senhora, ou Santo
Antônio, ou São Sebastião.
E, no dia da festa, vinha a Banda de Música do
senhor Raimundo Ramos, vinha do Município de Matipó, com todos os seus filhos,
filhas e genros, todos músicos. Era uma família reunida. O senhor Raimundo era
maestro, e tocava clarinete.
Do Divino do Carangola, vinham o padre e os
fogueteiros, com aqueles enormes arrumados de foguetes-de-cauda bem compridas.
Meu pai e minha mãe eram os puxadores da reza, eles
rezavam durante todo o mês, e minhas irmãs também ajudavam a fazer o coro. Eu
acompanhava, mas não ajudava a rezar. Mas, como eu tocava violão e cantava
samba, marcha, valsa, minha mãe, um dia, fez-me um convite, dizendo: “– Você
canta bem, tem boa voz, hoje você vai-me ajudar a rezar”. Confesso que fiquei
surpreso com aquele convite, pois eu gostava mesmo era de tocar em baile, fazer
serenata, não tinha a menor tenção em cantar na igreja, mas, não queria
desagradar minha mãe. Aí, eu ensaiei com minha mãe e minhas irmãs, e fomos pra igreja. Minha mãe ficou tão
contente, que me entregou a direção de todos os cânticos.
Naquela época, sempre havia festa em dois arraiais:
Choro e Indayá. Meu pai era contratado para rezar nesses dois arraiais. Sendo
que Indayá ficava mais longe e, assim, precisava mudar-se pra lá, com a família, durante o tempo que fosse preciso, um mês,
ou até dois. Às vezes, faziam duas festas seguidas.
Faz pouco tempo que estive em Minas Gerais [*ano da
viagem de Antônio à terra natal: 1984], aonde fui nascido e criado. Divino
melhorou bastante, mas, Indayá tá no mesmo. Mas, o arraial do Choro não tem
mais aquelas casas, que tinha naquele tempo. Até a Igreja arrancaram. Só se vê
casinhas sarapecadas, longe uma da
outra, tudo diferente. Se agente não tivesse conhecimento de como era aquele
lugar no passado, nunca podia pensar que aquele lugar já foi tão movimentado.
Dia de sábado, então, era uma verdadeira festa de casamento, com
acompanhamento, todos a cavalo, disputando corridas, vinha gente de Bom Jesus,
da Samambaia, do Alto-Carangola, do Córrego dos Dornellas, e dos Henriques, e de
todos os lados.
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