A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: VOLTANDO À FAMÍLIA PATERNA
SOUZA MOREIRA
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Voltando à família Souza
Moreira. Quase no final do século XIX, quando meu avô José Antônio de Souza
Moreira deixou Laranjal e foi morar em Divino de Carangola, Zona da Mata, em
Minas Gerais, o tio Zeca Moreira, que era casado com Maria Dussanto, irmã de
meu avô Souza, também se mudou para a Zona da Mata. Tio Zeca Moreira comprou
uma Fazenda pouco acima de Divino de Carangola, juntamente com tia Dussanto,
como era chamada pelo meu pai. Levaram também a minha avó-bis Severina, que era
a mãe de tia Dussanto. Eu tenho algumas recordações de como era a minha
avó-bis.
Meu pai Zeca de Souza comprou dois carros de milho
em palha de tio Zeca Moreira. No dia em que foram buscar o milho, eu pedi a meu
pai para ir também. Embora eu fosse um menino, bem criança, podia ter cinco ou
seis anos de idade, meu pai consentiu que eu fosse. Os carreiros eram dois
irmãos, Juca Schetine e Agripino Schetine, e meu pai e eu fomos dentro do
carro. Assim que chegamos na Fazenda do tio Zeca Moreira, meu pai, os carreiros
e os filhos de tio Zeca foram apanhar o milho na roça. Eu fiquei em casa,
porque era ainda muito pequeno para andar em mato. Aí, eu fiquei conhecendo a
mãe de meu avô, que meu pai sempre falava nela, a vovó Severina.
Depois da morte de seu pai José de Souza Moreira,
vovó Severina ainda viveu em companhia dos filhos, em Laranjal, mas, com quem
ela se dava mais, era com a filha Dussanto. Quando o tio Zeca Moreira deixou
Laranjal e veio morar em Divino do Carangola, vovó Severina veio com ele. Já
com bastante idade, ela não gostava de ficar sem um serviço. Nos fundos da casa
havia uma grande varanda, e ali era aonde vovó Severina trabalhava. O serviço
dela era só fazer sabão. Havia uma fornalha feita de pedra e barro, um tacho de
cobre assentado em cima da fornalha cheio de torresmo ou sebo de boi, um
barreleiro cheio de cinza, com água pingando, adequada, que era para cortar a
gordura do sabão, e vovó Severina tinha um tamborete de madeira, onde ela
ficava sentada, mexendo o sabão até chegar ao ponto certo. Vovó Severina era
baixinha, de olhos azuis, cabelos lisos já bem branquinhos, alegre, conversava
muito. Fiquei muito tempo ao lado dela, apreciando como ela mexia o sabão.
Depois, eu fui até ao engenho de cana movido a água.
Estava ali alguns dos filhos do tio Zeca Moreira, com os empregados, fabricando
rapadura. Até hoje em dia tenho recordação, como as canas caianas (canas de
Caiena) eram macias, para chupar o caldo. Era uma Fazenda de muita fartura.
Quando os dois carros chegaram cheios de milho em
palha no terreiro da Fazenda, e os carreiros soltaram os bois, para descansarem
e beber água, tio Zeca chamou meu pai e os carreiros para o almoço.
Tio Zeca Moreira estava naquele dia muito contente,
conversando com meu pai e os dois moços carreiros, filhos de um grande amigo do
tio Zeca Moreira. O pai desses moços, que foram fazer esse carreto para meu
pai, chamava-se Jenuário Schetine, mas era conhecido por Jenuarinho. Jenuarinho
era compadre de meu pai e muito amigo da família. Assim que os bois
descansaram, os dois moços pegaram os bois, despediram-se, e voltamos com os
carros, cantarolando estrada a fora.
Quando chegamos em frente à Fazenda de tio Bastião
Pereira, tio de minha mãe, já estava anoitecendo. Naquela época, não havia
estrada boa, eram subidas e descidas, cheias de curvas, atoleiros, pontes de
madeira de paus roliços. Ao passar por cima de uma ponte, que cobria o rego
d’água do moinho de tio Bastião Pereira, o carro do Juca, muito pesado, abalou
a ponte, a ponte começou a desmanchar. O carro do Agripino vinha atrás e,
quando chegou em cima da ponte, as madeiras roliças se juntaram na frente das
rodas do carro de bois, e carro tombou, esparramando milho por todos os lados.
Isto já era noite. Levantaram o carro, acertaram a esteira do carro, que, com o
tombo, tinha sido arrancada do carro, com os fueiros, e começaram a carregar o
milho pra dentro do carro.
Nesta hora, chegou um filho de tio Bastião Pereira,
por nome João Pereira, o mais velho dos irmãos, e disse para meu pai: “– Ocês ainda não jantaram, devem estar com
fome!” Meu pai disse ao João Pereira: “– Nós ainda não jantamos, mas nós vamos
jantar em casa. Se ocê quiser dar
comida ao meu menino, eu aceito”. Aí, João Pereira me levou até a casa dele e mandou
a mulher, por nome Filomena, arranjar um prato de comida pra mim. A comida estava muito boa, mas a linguiça estava
apimentada, e eu não gosto de pimenta, mas a fome era tanta que eu comi a
comida toda, e, até hoje, relembro aquela comida tão boa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário