A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: VOVÓ CHIQUINHA CONTANDO HISTÓRIAS DA FAMÍLIA AOS NETOS
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Vovô José Antônio de Souza
Moreira fez ainda mais uma mudança pra
terreno de fazendeiro. Dali, da Fazenda de Chico Victor, ele mudou-se pra uma Fazenda de João de Almeida, que
tinha sido comprada de pouco de um João das Moças. Esta Fazenda, ainda hoje,
fica em Vargem Grande, perto de Bom Jesus. Na época, era Joaquim de Almeida
quem tomava conta da Fazenda do pai. Joaquim de Almeida considerava muito meu
avô. Nesta época, tio Camilo já tinha se casado, e vovô José Antônio e vovó
Chiquinha já estavam sós, os dois. Mas, mesmo assim, vovô morou nesta Fazenda
cinco anos, pois a lavoura que vovô tocava era muito boa para café, e dava também
mantimento. Mas vovô José Antônio não pode continuar nesta Fazenda por motivo
de doença.
Vovó Chiquinha ficou doente e meu pai trouxe os dois
pra dentro de nossa casa. Vovó
conseguiu recuperar-se e ainda viveu mais uns poucos anos e morreu. Nesses poucos
anos, que vovó conviveu em nossa casa, era a nossa alegria, porque vovó
Chiquinha era contadeira de estórias. Quando chegava a noite, nós, meninos, nos
reuníamos em seu quarto, ela, sentada na cama, contava estória muito bonita e
engraçada, sempre com seu cachimbim na boca. Ela era muito calma em tudo, muito
paciente e compreensiva.
Vovó contava também um caso
verídico, que aconteceu com um tio dela por nome Joaquim. Dizia vovó que tio
Joaquim, casado com tia Maria, tinha oito filhos e vivia com dificuldade. Tinha
um Sítio pequeno e ele trabalhava só, pois os filhos eram pequenos e de pouca
idade, não podiam ajudá-lo na roça. Tio Joaquim era muito confiado em Deus,
rezava muito, mas sempre cuidando de suas plantações. Um dia tio Joaquim teve
uma idéia: “Ficaria bom se eu fizesse um monhozinho
aqui no meu Sítio. Que bom seria moer o meu milho no meu monho, e não ser preciso barganhar o milho em troca de fubá,
deixando o lucro pra outro”. E,
pensando assim, ele começou. “Primeiro, vou tirar a água, depois da água
tirada, vou comprar as pedras, depois, o resto eu faço com as minhas mãos a
obra. E, assim, ele começou na tirada da água, sozinho, sem a ajuda de ninguém,
só pedia a ajuda de Deus. Tio Joaquim levou muito tempo na tirada da água.
Quando terminou a tirada da água, ele começou no serviço de carpinteiro. Levou
muito tempo também no serviço de carpinteiro. Terminou o serviço de
carpinteiro, ele comprou as pedras, duas pedras pequenas, porque era um moinho
de pouca água. Mas, na tirada da água até chegar ao moinho, a vala de passagem
da água tinha que atravessar uma lombada, que dificultou muito o trabalho de
tio Joaquim, mas, ele conseguiu a passagem da água. Assentou as pedras, nivelou
tudo direitinho. Tudo muito bem, o moinho já estava pronto, moendo o milho, tava
tudo como ele queria.
Mas, como alegria de pobre dura pouco, com pouco
mais de um ano, que o moinho estava dando alegria a tio Joaquim, uma certa
noite, choveu uma chuva pesada e, no outro dia, o moinho estava parado, não
tinha água no moinho. Tio Joaquim coçou a cabeça, resmungou sozinho, e foi ver
o que tinha acontecido. Qual foi a sua surpresa? No lugar, aonde tinha
atravessado a lombada, a força da água da chuva tinha deslocado uma grande
pedra, que secou a passagem da água. Tio Joaquim suspirou, queixou-se com Maria,
e ela só dizia a Joaquim: “– Não tem jeito não! A pedra é muito grande e o nosso
monho não vai moer nosso milho”.
Tio Joaquim teve uma idéia: “ – Aqui, só Deus pode
me ajudar!”. E buscou, com muita fé, do fundo do coração, uma palavra de Deus.
“– Deus podia mandar um raio, que rachasse esta pedra”, e foram dormir. Essa
outra noite foi também uma noite de chuva pesada. No outro dia, o moinho estava
rodando. Assim como veio uma chuva e tapou a passagem da água, veio outra
chuva, e o raio partiu a pedra, para a alegria de tio Joaquim. Mas, não ficou
nisto só não.
Contava minha avó que, tia
Maria adoeceu, e estava mesmo para morrer, quando tio Joaquim pensou: “Como eu
vou ficar sem Maria, com oito filhos menores, pois Maria não quer comer nada,
já faz muitos dias, de cama, só deitada, e só dizendo que vai morrer. Não!,
Maria não pode morrer. Assim como Deus atendeu ao meu pedido, mandando um raio
e partindo a pedra, eu vou fazer um outro pedido: Ó, meu Deus, leva eu em lugar
da Maria”. E Deus atendeu ao pedido de tio Joaquim.
Diziam os meus avós que, no outro dia, tia Maria
disse pra tio Joaquim: “Mata um
franguinho. Vou ver se como ao menos a pontinha da asa”. Tio Joaquim fez o
pedido de tia Maria e ela comeu a asa do frango. No outro dia, ela já comeu
mais e, no terceiro dia, ela levantou e andou um pouquinho. E foi melhorando.
E, quando ela já estava trabalhando, o tio Joaquim caiu de cama e, em poucos
dias, morreu o tio Joaquim. Esta história de tio Joaquim era muito comentada,
por todos os que conheceram o tio Joaquim. Isto foi acontecido em Laranjal, no
município de Cataguases, no Estado de Minas Gerais.
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