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domingo, 31 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: A VALORIZAÇÃO DO CAFÉ NO GOVERNO DO PRESIDENTE ARTHUR BERNARDES



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: A VALORIZAÇÃO DO CAFÉ NO GOVERNO DO PRESIDENTE ARTHUR BERNARDES


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 




Na época do que vou contar, o Presidente da República era o senhor Arthur Bernardes. Ele valorizou o café, que antes valia oito mil réis, e passou para cinquenta mil réis, que foi a grande novidade de todos. Aqueles que não tinham café derrubavam matas e plantavam café. Outros capinavam os pastos para plantar café.

 

Era um movimento grande nas estradas: carros de bois que vinham de Santa Margarida, de São João do Manhuaçu, de São Francisco do Glória, e de outros lugares, com fileira de até quinze a vinte carros, todos cantarolando estrada a fora, aquela cantilena morosa própria dos carros de bois, até chegar em Carangola, aonde era vendido o café, para exportação em trem de ferro. No decorrer da viagem, durante quatro dias, os carreiros e candeeiros arranchavam-se em casebres de beira de estrada, ou até mesmo ao relento.

 

O transporte de café era feito também em lombo de burro, cada tropa com dez burros, fazendo fileira também de dez a quinze lotes de burros. Os tropeiros vinham gritando, batendo no couro dos animais, jogando tolete de pau naqueles burros da frente. Era um Deus nos acuda, porque a estrada era ruim e apertada e os tropeiros eram muito grosseiros e achavam que a estrada era só deles. E quando encontravam um carreiro, que não arredava o carro, para dar passagem pra eles, era aquela discussão.

 

E, às vezes, saíam até brigas de pancadaria, parecia que o povo havia enlouquecido com aquela alta do café. Mesmo com o preço alto do café, as outras mercadorias continuaram com os preços antigos, não houve alteração nos preços, tudo continuou no mesmo.

 

Eu me recordo de um dia em que, nós meninos, vínhamos da Escola para casa. Logo que saímos, fora do Arraial, começamos a encontrar carros de bois que vinham de Carangola, aonde os sitiantes foram vender o seu café. Eram muitos carros, enfileirados, todos vazios, com os candeeiros tocando os carros, e os carreiros vinham atrás do último carro, com as mãos cheias de notas, em dinheiro, contando o dinheiro, e andando a pé atrás do carro.

 

Nós éramos doze meninos que vinham da Escola, naquela brincadeira. De repente, um deu um grito: “– Olha lá uma nota!” A nota estava a uns dez metros de distância. Todos nós corremos pra pegar a nota, mas tinha um das pernas compridas, e que chegou primeiro, e apanhou a nota, e desabalou na carreira. O menino das pernas compridas correu pra valer, e todos nós corremos atrás dele, mas não apanhamos a nota, pois ele era muito veloz na carreira.

 

E ele chegou em casa do pai dele, e entrou correndo, e nós atrás querendo que o dinheiro fosse dividido. Mas, a mãe dele disse: “– O direito é do meu filho. O dinheiro tava perdido. Aquele que panhou primeiro é o dono do achado”. Mas, mesmo assim, ele passou muitos dias sem andar junto conosco, com medo de ser agredido.

 

Estava chegando o dia de compra de uniforme, para a festa de examinação, e a professora Dona Guiomar exigia todos uniformizados. O dinheiro achado deu para comprar o uniforme daquele aluno, sem precisar do dinheiro do pai. Foi um tempo bom para quem tinha lavoura de café.

 

Nos outros anos seguintes, o café baixou de preço, e foi a triste derrota de muitos fazendeiros. Aqueles que confiaram no café fizeram dívidas volumosas e não puderam pagá-las. E precisaram entregar as Fazendas, e passaram a viver de empregados, todos tocando lavoura à meia com os novos donos de suas fazendas. Alguns fazendeiros ainda salvaram suas fazendas, com a moratória de dez anos para pagarem, decreto-lei, dado por Getúlio Vargas, depois de mil novecentos e trinta.

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