A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: CRIANÇAS BRIGANDO NO CAMINHO
DA ESCOLA
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Voltando à família Souza
Costa. Em mil novecentos e vinte, quando eu entrei para a Escola, éramos doze
alunos. Nós caminhávamos a pé até a Escola de Dona Guiomar. De distância,
alguns de meus colegas, até seis quilômetros. Na ida à Escola, nós íamos
separados, mas, na volta, voltávamos reunidos, fazendo bagunça, por vezes, até,
brigávamos uns contra outros.
Lembro-me de um dia em que eu briguei com um colega,
porque ele dizia que nós éramos a tropa dele, porque ele era o mais forte e nós
tínhamos que obedecer às ordens dele. Com esta ideia maligna, ele cortou uma
vara de guaxima e dava com a vara em nossas costas, e gritava: “– Anda pra frente, meus burros!” Os outros
colegas obedeceram as ordens dele, mas eu não quis aceitar a brincadeira. Ele
dizia pra mim: “– Toinzim, ocê não é de nada!”, e me deu um
empurrão. Eu me atraquei com ele justamente quando nós estávamos passando em
frente a uma ribanceira, e em baixo passava um córrego d’água. Nós fomos
rolando até cair dentro da água. Aí, acabou a briga e saímos todos molhados.
Mas, não ficou nisso só, pois, naquela época, as
contas eram feitas em uma pedra escura [pedra = pequena lousa], quase quadrada,
e, na luta, que nós rolamos até cair dentro d’água, a pedra ficou em pedaços
dentro do embornal escolar. Porque nós carregávamos o material escolar em um
embornal de pano, alceado no ombro.
Eu tinha meu irmão, mais velho do que eu quatro
anos, o Eurico, mas ele não se envolveu em nossa briga, mas dizia que ia contar
à professora Dona Guiomar e, também, quando chegasse em casa, ia contar ao pai
que eu tinha brigado com o colega e tinha quebrado a pedra. E contou mesmo. Meu
pai, o Zeca, deu-me uma coça com um cabresto de cavalo, e sempre me dizendo: “–
Não é pelo valor da pedra que eu lhe bato, lhe castigo, é porque eu não quero
que meus filhos briguem com ninguém. Eu sempre digo a vocês: quando virem uma
briga, fujam de perto!”
Mas, minha mãe Antoninha não pensava assim. Quando
meu pai me pegou pra bater, a minha
mãe disse para meu pai: “– Ocê bateu
no Antônio, mas o Eurico também precisa apanhar, porque a obrigação dele é
ajudar o irmão mais novo e não deixar o irmão, sozinho, lutar com outro mais
forte do que ele”. Mas meu pai não deu importância ao que minha mãe dizia, e
ela, vendo que ele não ia bater no Eurico, disse: “– Quem vai bater no Eurico
sou eu!” O meu irmão Eurico desabalou numa carreira daquelas, e ela correndo
atrás dele. Por falta de sorte do Eurico, o nosso irmão mais velho, por nome
Olavo, vinha descendo um morro, pra
chegar em nossa casa, e minha mãe gritou: “– Pega o Eurico, Olavo!”, e ele
pegou. Ela batia e dizia: “– Isto é pra
quando ocê ver o seu irmão em qualquer dificuldade, ajudar. O seu dever é
ajudar o irmão mais novo, e não deixar ele sozinho quando ele precisar do seu
auxílio”. Agente brigava, mas não ficava de mal. Éramos uma família unida.
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