A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: RECORDANDO AS CAMPANHAS
POLÍTICAS DAQUELE TEMPO
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Voltando à Fazenda Cachoeira
dos Pereiras. Na década de 1910, quase no final, não existia automóvel, nem
estrada. O transporte era feito em carro de boi e em lombo de burros. Até mesmo
os homens daquela época faziam as campanhas políticas montados em animais. Até
mesmo os doutores enfrentavam aquelas estradas poeiradas no tempo da seca. E,
em tempos de chuvas, atoleiros, ladeiras escorregadias, subida de morros e descida,
por estradas lamacentas, pontes esburacadas, enchentes, quando havia chuvas
fortes, que, às vezes, interrompia a passagem.
Eu era bem criança, mas recordo bem daquele tempo em
que os doutores faziam a campanha política montados em burros, cavalos, e bem
prevenidos. Os animais com ferraduras pregadas nos cascos, que era para não
escorregar. Os arreios bem compostos, com peitoral prateado, freio com cabeçada
prateada, rabicho prateado, um coxinilho grande por cima do arreio, e, os
homens bem vestidos, com trajes de viajante, chapéu de lebre, com aba grande,
na cabeça, paletó de caxemira, com calça-culote de brim amarelo, um lenço no
pescoço com duas pontas bem compridas descendo até ao peito, calçados com
botina de pelica e perneira, que era para proteger a calça-culote. Era assim
que os políticos faziam suas campanhas.
Da cidade de Carangola até ao Alto-Carangola devia
ter de oito a dez quilômetros, mas, os políticos não iam diretamente, eles iam
parando, tanto nos Arraiais como, também, em Fazendas, e, até, em casa de pobre
eles passavam.
Nós morávamos perto da estrada onde eles passavam, e
nós ficávamos apreciando eles em fileira, até na virada do morro. No pé do
morro, morava tio Marcolino, que muito mal assinava o nome, mas era um homem
fanático por política. Sabendo que eles iam passar por ali, tio Marcolino
prevenia a sua casa humilde, e ficava esperando. Quando eles iam passando, o
tio Marcolino convidava-os para chegar, pra
tomar um café, e eles chegavam. Não era pouca gente não. Entre doutores, e
empregados, e cabos-eleitorais, devia ter umas quinze a vinte pessoas. Como
eles encontravam ali, naquela casa humilde, um bom lanche: café simples, café
com leite, pão de sal, biscoito de polvilho, água fresca pra beber, uma bica d’água em correnteza, aonde eles lavavam as
mãos, o rosto, era tão grande a satisfação, que eles faziam até discurso
naquela casa, talvez, seja por força da cana, pois o tio Marcolino não ficava
sem uma cachaça da boa.
Dali, eles seguiam para um Arraial pequeno, aonde
tinha um turco muito rico, por nome Luiz de Sales, que hospedava todos os
viajantes que tratavam de negócios. E, também, em época de eleições, iam pra casa de Luiz de Sales, que era uma
casa muito grande, com muitos quartos de hóspedes. Tinha também, embaixo do
assoalho da casa, dois quartos bem grandes, um de guardar milho em palha, e o
outro era para os viajantes guardarem os arreios dos animais.
Dali, eles seguiam para o Alto-Carangola, onde tinha
a Pensão de Dona Mariquinha Meireles. Mas, nesse intervalo, que eles ficavam no
Arraial do Choro, que era conhecido também por Arraial de Santo Antônio do
Arrozal, eles visitavam Fazendas, ali perto, como a do Capitão Francisco Victor
da Silva, que era conhecido como Chico Victor, a Fazenda do José Vianna, outro
grande fazendeiro do lugar, e outros mais. Era assim a política daquele
tempo.
Extraordinário!
ResponderExcluirParabéns por partilhar esta extraordinária história no seu blog.
Cumprimentos e um abraço cá do Algarve.
http://umraiodeluzefezseluz.blogspot.com