A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: APRENDENDO MÚSICA COM O PROFESSOR VIEIRA E COM O PROFESSOR ALTIVO
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Minha mãe trabalhava cantando, pois gostava de
música, e sempre dizia que tinha vontade de ter um filho músico. Um dia chegou
em nossa casa Antônio Vieira de Barros, muito amigo nosso, e me fez convite
para fazer parte em um conjunto de alunos, aos quais ele estava ensinando
música. Eu dizia que não estava interessado em aprender música, que a minha
vida já tinha mudado, pois eu já estava casado e não podia assumir outros
compromissos. Mas ele sempre insistindo comigo, que não me cobrava nada, era só
duas vezes por semana de aula, o estudo era de noite. Aí, minha mãe entrou no
assunto e disse-me: “– Aceita este convite. Eu sempre tive vontade que um filho
meu aprendesse música e, hoje, surgiu a oportunidade”.
Com esse pedido que minha mãe me fez, eu comecei a
estudar música, aos vinte e seis anos de idade. As aulas eram em casa do
professor Vieira, em um Arraial distante, três quilômetros de distância. Era só
quartas e sábados da semana, mas mesmo assim era um sacrifício, pois eu
trabalhava na roça, e, quando chegava o dia de aula, mesmo cansado de puxar a
enxada o dia todo, tinha que caminhar a pé três quilômetros, ida e volta.
No início começamos com
poucos alunos, até conhecermos os valores das notas, dos espaços e cantar
corretamente a escala. A maioria dos alunos era os filhos de um fazendeiro, por
nome Pedro Alves, que vendo os filhos, netos e sobrinhos bem desenvolvidos no
conhecimento da música interessou-se em comprar os instrumentos para todos os
alunos. O professor Antônio Vieira de Barros era um homem prático em viagens,
conhecia bem o Rio de Janeiro, e foram os dois, o Pedro Alves e o professor
Vieira, ao Rio de Janeiro comprar instrumentos para todos os alunos.
Para mim trouxeram um pistom. Como eu não conseguia
tocar pistom, fizemos uma troca. Um colega, que tinha ganhado um trombone, me
fez proposta de trocar o trombone pelo pistom, e eu aceitei o negócio, e
comecei a tocar trombone. As aulas posteriores já não eram em casa do
professor, passou a ser em casa do fazendeiro Pedro Alves, que ficou
entusiasmado por ver os filhos, netos e sobrinhos e empregados, todos reunidos,
na mais perfeita harmonia, tocando dobrados, alguns choros e algumas valsas.
E, aí, algum tempo depois, Antônio Vieira de Barros,
o professor, disse para Pedro Alves, e todos os filhos, e todos os alunos: “–
Eu já não tenho mais recurso de conhecimento de música para ensinar vocês, é
preciso contratar um mestre, que tenha mais capacidade que eu, para a
continuação do ensino, e eu fico como aprendiz”. E, assim, combinaram em buscar
um professor por nome Altivo, que morava em São Domingos de Abrecampos, um
senhor que aparentava ter cinquenta anos de idade.
O senhor Altivo era muito
competente para ensinar, e bem conhecedor de música, bastante enérgico com os
alunos, e tocava clarinete muito bem. Mas não há bom sem defeito. A banda já
estava sendo chamada para tocar em festa religiosa, em festejo político, em
acompanhamento fúnebre.
Quando o Divino de Carangola foi promovido à
categoria de cidade, tocamos também. O primeiro prefeito de Divino foi o Dr.
José Tavares, um moço ainda bem jovem que veio de Belo Horizonte para comandar
o município divinense. Depois de José Tavares, tocamos na festa da posse de Dr.
Júlio, que foi uma grande festa, porque era uma pessoa do lugar. Não só a banda
dos Alves, como era chamada a nossa banda, como também a banda dos suíços,
comandada pelo senhor Petí, que era também o dono da banda, por ter os filhos e
empregados todos tocando. O mestre Ludovino, um senhor mestre, muito entendido
em música, à frente, tocando contrabaixo.
Na praça, em frente à Igreja, foi o encontro das
duas bandas, disputando uma com a outra, e o povo aplaudindo. Quando uma parava
de tocar, a outra entrava em cena. Isto durou de duas a três horas, depois
fomos almoçar e descansar, para de noite tocar mais.
O defeito do professor Altivo era beber cachaça, era
preciso ser vigiado pelos alunos. Aonde ele ia, disfarçando, para ver se
encontrava algum botequim para beber cachaça, a turma ia todos atrás dele. Por
ser um bom mestre de música, ele lecionou alguns anos. Já tendo um dos alunos
que podia substituí-lo, despacharam o mestre Altivo. Ficou, em seu lugar, um
dos alunos, o caçula dos irmãos Alves, dirigindo a banda.
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