Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, o "Neuza Machado 2", Caffe com Litteratura e o Neuza Machado - Letras, onde colocamos diversos estudos literários, ensaios e textos, escritos com o entusiasmo e o carinho de quem ama literatura.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: APRENDENDO MÚSICA COM O PROFESSOR VIEIRA E COM O PROFESSOR ALTIVO



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: APRENDENDO MÚSICA COM O PROFESSOR VIEIRA E COM O PROFESSOR ALTIVO


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 
 
 
 

 
Minha mãe trabalhava cantando, pois gostava de música, e sempre dizia que tinha vontade de ter um filho músico. Um dia chegou em nossa casa Antônio Vieira de Barros, muito amigo nosso, e me fez convite para fazer parte em um conjunto de alunos, aos quais ele estava ensinando música. Eu dizia que não estava interessado em aprender música, que a minha vida já tinha mudado, pois eu já estava casado e não podia assumir outros compromissos. Mas ele sempre insistindo comigo, que não me cobrava nada, era só duas vezes por semana de aula, o estudo era de noite. Aí, minha mãe entrou no assunto e disse-me: “– Aceita este convite. Eu sempre tive vontade que um filho meu aprendesse música e, hoje, surgiu a oportunidade”.

 

Com esse pedido que minha mãe me fez, eu comecei a estudar música, aos vinte e seis anos de idade. As aulas eram em casa do professor Vieira, em um Arraial distante, três quilômetros de distância. Era só quartas e sábados da semana, mas mesmo assim era um sacrifício, pois eu trabalhava na roça, e, quando chegava o dia de aula, mesmo cansado de puxar a enxada o dia todo, tinha que caminhar a pé três quilômetros, ida e volta.

 

No início começamos com poucos alunos, até conhecermos os valores das notas, dos espaços e cantar corretamente a escala. A maioria dos alunos era os filhos de um fazendeiro, por nome Pedro Alves, que vendo os filhos, netos e sobrinhos bem desenvolvidos no conhecimento da música interessou-se em comprar os instrumentos para todos os alunos. O professor Antônio Vieira de Barros era um homem prático em viagens, conhecia bem o Rio de Janeiro, e foram os dois, o Pedro Alves e o professor Vieira, ao Rio de Janeiro comprar instrumentos para todos os alunos.

 

Para mim trouxeram um pistom. Como eu não conseguia tocar pistom, fizemos uma troca. Um colega, que tinha ganhado um trombone, me fez proposta de trocar o trombone pelo pistom, e eu aceitei o negócio, e comecei a tocar trombone. As aulas posteriores já não eram em casa do professor, passou a ser em casa do fazendeiro Pedro Alves, que ficou entusiasmado por ver os filhos, netos e sobrinhos e empregados, todos reunidos, na mais perfeita harmonia, tocando dobrados, alguns choros e algumas valsas.

 

E, aí, algum tempo depois, Antônio Vieira de Barros, o professor, disse para Pedro Alves, e todos os filhos, e todos os alunos: “– Eu já não tenho mais recurso de conhecimento de música para ensinar vocês, é preciso contratar um mestre, que tenha mais capacidade que eu, para a continuação do ensino, e eu fico como aprendiz”. E, assim, combinaram em buscar um professor por nome Altivo, que morava em São Domingos de Abrecampos, um senhor que aparentava ter cinquenta anos de idade.

 

O senhor Altivo era muito competente para ensinar, e bem conhecedor de música, bastante enérgico com os alunos, e tocava clarinete muito bem. Mas não há bom sem defeito. A banda já estava sendo chamada para tocar em festa religiosa, em festejo político, em acompanhamento fúnebre.

 

Quando o Divino de Carangola foi promovido à categoria de cidade, tocamos também. O primeiro prefeito de Divino foi o Dr. José Tavares, um moço ainda bem jovem que veio de Belo Horizonte para comandar o município divinense. Depois de José Tavares, tocamos na festa da posse de Dr. Júlio, que foi uma grande festa, porque era uma pessoa do lugar. Não só a banda dos Alves, como era chamada a nossa banda, como também a banda dos suíços, comandada pelo senhor Petí, que era também o dono da banda, por ter os filhos e empregados todos tocando. O mestre Ludovino, um senhor mestre, muito entendido em música, à frente, tocando contrabaixo.

 

Na praça, em frente à Igreja, foi o encontro das duas bandas, disputando uma com a outra, e o povo aplaudindo. Quando uma parava de tocar, a outra entrava em cena. Isto durou de duas a três horas, depois fomos almoçar e descansar, para de noite tocar mais.

 

O defeito do professor Altivo era beber cachaça, era preciso ser vigiado pelos alunos. Aonde ele ia, disfarçando, para ver se encontrava algum botequim para beber cachaça, a turma ia todos atrás dele. Por ser um bom mestre de música, ele lecionou alguns anos. Já tendo um dos alunos que podia substituí-lo, despacharam o mestre Altivo. Ficou, em seu lugar, um dos alunos, o caçula dos irmãos Alves, dirigindo a banda. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário