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quinta-feira, 1 de abril de 2010

GUIMARÃES ROSA: CONSCIÊNCIA ARGUMENTATIVA - 16


GUIMARÃES ROSA: CONSCIÊNCIA ARGUMENTATIVA - 16

NEUZA MACHADO



Foi a consciência argumentativa do cogito(2) que fez o escritor de estórias sertanejas Guimarães Rosa mudar a face/fase de seu narrador em A Hora e Vez de Augusto Matraga, colocando nele seus próprios objetivos individuais de homem prestes a alcançar um plano elevado dentro dos vários patamares que compõem o pensamento individual. Seu narrador deixou de agir impulsionado pelo elan vital, apropriando-se da inteligência de quem o criou e lhe deu forma ficcional. Assim, o narrador assume os pensamentos dialetizados do Artista, questionando, argumentando, refletindo sobre a direção que pretende dar à narrativa, direcionando seus impulsos criadores. Por isto, Nhô Augusto, retornando ao Arraial do Murici, subjugado à nova forma de pensar do Artista, pôde se encantar com as minúcias da natureza, enquanto o narrador poetizava o sertão. O narrador, apropriando-se da função especulativa do Artista, criou um mundo diferente, embalado pelo prazer de estar ancorado numa dimensão quase particular (cogito(2)), já propenso a se desligar das opiniões externas. Esta última etapa da narrativa marca a nova decisão do Artista: de ora em diante, ele criará um sertão muito particular, suspenso em um momento onde o antes não conta, e o que virá em termos históricos também não.

No âmbito da consciência argumentativa, intuiu o instante da manifestação do narrador moderno, suplantando o narrador experiente das comunidades antigas. Esperou, enquanto se posicionava como contador de estórias sertanejas, a oportunidade de se libertar das pressões do mundo. No plano da consciência argumentativa, depois da libertação, passa a vivenciar o impacto do juízo de descoberta. O sertão, nascido do eu questionador, estará assim propenso às críticas da sociedade, mas promoverá também uma futura conscientização de seus valores por esta mesma sociedade. Um espaço que nunca foi apreciado pelas elites vem à luz sob a égide de uma consciência que já se desprendeu do cogito(1) e que já não se incomoda mais em se dizer sertaneja (rústica), mesmo que já tenha alcançado outros graus no plano das exigências sociais.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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