5 - O SONHO DO ARTISTA FICCIONAL: ELO DE LIGAÇÃO COM O COGITO(4)
NEUZA MACHADO
O sertão ― poetizado ―, em certos trechos da narrativa, emerge instantâneo, oferecendo ao analista ou ao intérprete uma visão completa e essencial de suas minúcias, visão esta que só poderá ser entendida, se houver comunhão anímica entre Artista e Leitor. O narrador roseano, nos trechos poetizados, imobiliza o sertão do passado, recordando transmutativamente, questionadoramente, dialeticamente, um tempo que ficou indelevelmente suspenso em seu mundo imaginário.
Entretanto, para que fique claro o meu pensamento sobre a narrativa assinalada, é preciso dizer que estou analisando o raciocínio de um narrador singular, induzido evidentemente pelo Artista Literário do século XX, situado em um plano de obra intermediário entre o antes e o depois. A Hora e Vez de Augusto Matraga faz parte de uma coletânea de contos (Sagarana) da primeira fase literária de Guimarães Rosa ligada à narrativa linear, de contos reprodutores de experiências fenomênicas. Esta última narrativa de Sagarana, aqui verificada, antecede a obra máxima do autor, Grande Sertão: Veredas. Depois do narrador de A Hora e Vez de Augusto Matraga, quase todos os narradores roseanos passaram a pensar de acordo com as características do cogito(3), sob a ação pensante do próprio Artista/Criador. Além de Grande Sertão: Vertedas, as narrativas seguintes, como "A terceira margem do rio", “Darandina” e outros contos complexos de Guimarães Rosa (os contos de Tutaméia) enquadram-se perfeitamente às idéias de Bachelard sobre o tempo ou instantes de tempo suspensos entre o antes e o depois.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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