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quinta-feira, 29 de julho de 2010

IX - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: O SANGUE ÍNDIO POR PARTE DE JANE MAMÃE

IX - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: O SANGUE ÍNDIO POR PARTE DE JANE MAMÃE

NEUZA MACHADO

Da parte Materna, cresci a ouvir Minha Mãe Jane Briseides Mamãe falar de uma TetrAvó Índia-Puri capturada a laço pelo TetrAvô Português. Segundo Minha Mãe Jane de Ogiges Briseides, existiu na Família dela uma Índia da Tribo dos Puris, índios que viviam na região costeira do Brasil, que se estende do Estado do Rio ao Espírito Santo. Lembro-me de Minha Mãe dizendo que uma sua BisAvó era Puri (a neta da que foi laçada) e eu, já naquela época uma menininha convencida, rindo às bandeiras despregadas, a dizer para minha Mãe que aquilo não era coisa para se espalhar, que era uma grande vergonha ser descendente dos Puris, e que eu tinha lido em uma Enciclopédia que eles eram odiados pelos outros índios mais dignos, e que os Puris, “Mãe!”, a Enciclopédia dizia, eram conhecidos como os “ladrões que vinham do mar”, e que eles roubavam as tribos do interior do Brasil Varonil. “Não, Mãe!, descendente dos Puris, jamais! Eles saíam da costa marítima, Mãe!, para roubar os pobrezinhos indiozinhos que moravam dentro da Floresta do Brasil, Mãe! A senhora está enganada, Mãe!, somos descendentes de uma índia da tribo tupi-guarani. O TetrAvô, Mãe!, roubou foi uma índia tupi-guarani, Mãe! Eu quero ser descendente dos Tupis-Guaranis, Mãe!... Mamãe, plenamente camponesa (terrivelmente brava!), ficava com muita raiva de mim e da minha precoce sapiência, e, não raro, punha-se a me bater seguidamente, varadas e mais varadas!, como se, com isso, conseguisse aplacar a sua rejeição, aversão e humilhação em relação a mim (quanta rima!!!), um fruto de suas entranhas, que só lhe causava dissabores: “Venha cá, sua malcriada!, sua danada!, sua saliente!, indecente!, tome e tome e tome!, p’ra deixar de ser linguaruda! Não fique aí desprezando sua TetrAvó Puri!, não senhora! Pare com esta história de que os Puris eram “ladrões que vinham do mar”! E tome e tome e tome!... E as varadas de guaxima dançavam soltas em minha bunda.

As marcas permanecem vívidas e doloridas, até hoje!, em minhas recordações! Nesses momentos de dolorosos castigos, Papai Antoinzim Aquileu vinha em meu socorro, defendendo aquela que, entre seus frutos masculinos, era a única menininha, a preferida, a amada, a queridinha (“― Não bate na Menina!). Ah!, a braveza de Jane Mamãe! Mesmo com a defesa de Antoinzinho Papai, as varadas de Jane Mamãe não conheciam limites, e eu apanhava, apanhava, apanhava, e o meu infantil sentimento de rejeição crescia, crescia, crescia...

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