12.6 - UMA ÍNTIMA ESCALADA AOS COGITOS SUPERIORES: IAWARETÊ
NEUZA MACHADO
Na narrativa ficcional “As margens da alegria” (Primeiras Estórias), Guimarães Rosa aperta o tecido (narrativo) até o último fio, buscando o fundo da matéria do sertão e o absoluto da sutileza das cores que a compõe. Graças a esta nova tintura, que fortalece suas íntimas convicções sobre aquilo que narra, chegará gradativamente aos limites do cogito(4) (frequentando-o esporadicamente), plano este de difícil ascensão, situado no tempo espiritual e fora dos limites vitais; plano da insolidez do discurso, do emaranhado discursivo, apreendido em várias narrativas de Primeiras Estórias, Estas Estórias, até o final. Assim, pela perspectiva de intensidade substancial infinita todas as imagens recebem uma coloração que as distingue, simbolizando os sentimentos dos personagens-narradores.
Percebe-se, nesta nova fase da criação literária, que, cada narrador roseano, distintamente e aos poucos, vai perdendo a vez para o próprio Artista, já que a vontade de quem os cria é mais forte que os dogmas ficcionais. Em seu plano solitário, o Artista Ficcional reconhece o seu perigoso poder, ou seja, o seu poder de vida e de morte contra o narrador. A narrativa "Meu tio, o Iawaretê", da coletânea Estas Estórias, reflete o clímax dessa fase de insolidez discursiva, em que o Criador literário, presente de maneira indireta na narrativa como um estranho, possui o poder de matar o personagem-narrador, e, mais assustador ainda, narrador em primeira pessoa. O estranho, que pernoita na cabana de Iawaretê (o narrador) e o mata no final, é simbolicamente o próprio Artista, definitivamente neo-moderno, que resolve, agora já distanciado dos valores primordiais, eliminar o narrador do sertão.
"A verdadeira viagem da imaginação é a viagem ao país do imaginário, no próprio domínio do imaginário” (Bachelard). A partir de Primeiras Estórias, o Artista brasileiro, um sertanejo por direito de nascimento, se ajusta ao mobilismo do ar, livre das descrições do real, na sua prodigiosa escalada ao infinito. "Meu tio, o Iawaretê" representa o ápice dessa escalada, a suprema transcendência e adesão aos valores da individualidade consciente.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
NEUZA MACHADO
Na narrativa ficcional “As margens da alegria” (Primeiras Estórias), Guimarães Rosa aperta o tecido (narrativo) até o último fio, buscando o fundo da matéria do sertão e o absoluto da sutileza das cores que a compõe. Graças a esta nova tintura, que fortalece suas íntimas convicções sobre aquilo que narra, chegará gradativamente aos limites do cogito(4) (frequentando-o esporadicamente), plano este de difícil ascensão, situado no tempo espiritual e fora dos limites vitais; plano da insolidez do discurso, do emaranhado discursivo, apreendido em várias narrativas de Primeiras Estórias, Estas Estórias, até o final. Assim, pela perspectiva de intensidade substancial infinita todas as imagens recebem uma coloração que as distingue, simbolizando os sentimentos dos personagens-narradores.
Percebe-se, nesta nova fase da criação literária, que, cada narrador roseano, distintamente e aos poucos, vai perdendo a vez para o próprio Artista, já que a vontade de quem os cria é mais forte que os dogmas ficcionais. Em seu plano solitário, o Artista Ficcional reconhece o seu perigoso poder, ou seja, o seu poder de vida e de morte contra o narrador. A narrativa "Meu tio, o Iawaretê", da coletânea Estas Estórias, reflete o clímax dessa fase de insolidez discursiva, em que o Criador literário, presente de maneira indireta na narrativa como um estranho, possui o poder de matar o personagem-narrador, e, mais assustador ainda, narrador em primeira pessoa. O estranho, que pernoita na cabana de Iawaretê (o narrador) e o mata no final, é simbolicamente o próprio Artista, definitivamente neo-moderno, que resolve, agora já distanciado dos valores primordiais, eliminar o narrador do sertão.
"A verdadeira viagem da imaginação é a viagem ao país do imaginário, no próprio domínio do imaginário” (Bachelard). A partir de Primeiras Estórias, o Artista brasileiro, um sertanejo por direito de nascimento, se ajusta ao mobilismo do ar, livre das descrições do real, na sua prodigiosa escalada ao infinito. "Meu tio, o Iawaretê" representa o ápice dessa escalada, a suprema transcendência e adesão aos valores da individualidade consciente.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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