13.5 - O ELEMENTO AR: INTERLÚDIO DE TRISTEZA
NEUZA MACHADO
No entanto, continuando minhas induções analítico-interpretativas sobre a narrativa “As margens da alegria” (de Guimarães Rosa), as imposições do cotidiano, as reflexões criadoras do singularíssimo narrador roseano continuam submetidas ao dinamismo do elemento ar. O narrador dessa primeira e diferente estória volta à terra, assinala a desgraça do peru, para revigorar-se e espojar-se na terra-mãe e alçar-se aos ares novamente.
O interlúdio de tristeza dialetizará a sua nova e próxima ascensão. Enquanto isto, as imagens pesadas virão à tona, mostrando o contraponto que marcará a retomada da alegria e vice-versa, num processo intermitente de criação ficcional. A imaginação dinâmica (seja ela ligada à terra, à água, ao fogo, ao ar) permite ao Artista vivenciar todas as imagens do percurso que levam ao cogito(4), autêntico plano do fazer literário, chamado na filosofia bachelardiana de plano da espiritualidade.
O Criador ficcional, a partir do conto "As margens da alegria", faz ao leitor dois convites: convida-o, em primeiro lugar, a conviver com seus personagens até à ímpar dimensão de seus devaneios dinâmicos mais ousados, e, em segundo lugar, a acompanhar os movimentos de sua própria dinamogenia interior. Assim, dinamicamente, passa-se da alegria à tristeza, numa íntima ligação (um avatar) aos estados emocionais do Menino.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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