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terça-feira, 13 de julho de 2010

14.5 - ALÉM DO COGITO TRÊS: BACHELARD - O “CONHECIMENTO DO INSTANTE CRIADOR”


14.5 - ALÉM DO COGITO TRÊS: BACHELARD - O “CONHECIMENTO DO INSTANTE CRIADOR”

NEUZA MACHADO


“Cette connaissance de l'instant créateur, où la trouverons-nous plus sûrement que dans le jaillissement de notre conscience? N'est-ce pas là que l'élan vital est le plus actif? Pourquoi essayer de revenir à quelque puissance sourde et enfouie qui a manqué plus ou moins son propre élan, qui ne l'a pas achevé, qui ne l'a pas même continué, alors que se déroulent sous nos yeux dans le présent actif, les mille accidents de notre propre culture, les mille tentatives de nous renouveler et de nous créer? Revenons donc au point de départ idéaliste, acceptons de pendre pour champ d'expérience notre propre esprit dans son effort de connaissance. La connaissance est par excellence une œvre temporelle” (BACHELARD, Gaston. Étude sur la Siloë de Gaston Roupnel. "L'intuition de l'instant". France: Editions Gouthier, 1932).

De acordo com Bachelard, o conhecimento do instante criador (conhecimento ligado ao tempo do pensamento) impede o risco de se deixar levar no jorro das emoções desencontradas. Nesse plano estreito e dinamizado não há espaço para o elan vital. Depois desse conhecimento, “por que então retomar uma potência surda e derrotada, destruída em seu próprio elan, que não acaba, que nem mesmo continua, mas que explana sob nossos olhos, no presente ativo, os mil acidentes de nossa própria cultura, as mil tentativas de renovarmo-nos e de renovarmos as nossas crenças?” Depois desse conhecimento, num esforço de conscientização, aceitamos pensar o espírito no plano temporal, já que o conhecimento é por excelência uma obra temporal.

“Essayons alors de détacher notre esprit des liens de la chair des prisons matérielles. Dès qu'on le libère, et dans la proportion où on le libère, on s'aperçoit qu'il reçoit mille incidents, que la ligne de son rêve se brise en mille segments suspendus à mille sommets. L'esprit, dans son œvre de connaissance, se présente comme une file d'instants nettement séparés” (Op. cit.).

Em outras palavras, conforme o texto, o filósofo reconhece que é inerente ao ser humano separar a matéria do espírito, mas, quando há a liberação do espírito, e “na dimensão exata onde se o liberou”, será possível perceber que este plano intermediário revela mil acidentes, e que a linha divisória se quebra em mil segmentos todos importantes. O espírito (matéria amorfa), no tempo do pensamento, “se présente comme une file d'instants nettement separes”. O psicólogo, por exemplo, observando os vazios existenciais, escreve uma história, como qualquer historiador, tecendo aí as ligações da duração. Em cada íntimo, no qual a gratuidade (o Vazio) possui um sentido claro, não se agarra mais a causalidade, doadora de uma poderosíssima força à duração, e isto torna-se indiretamente um problema, ou seja, procurar buscar as causas dos vazios em um espírito onde nascem apenas idéias.

Bachelard revela ainda a sua total adesão aos pensamentos roupnelianos, ao rejeitar explicitamente os pensamentos de Bergson, e esta rejeição se deve ao fato de que falta a Bergson, ao lado de suas idéias sobre a duração, "concéder une réalitè décisive à l'instant”(Op. cit.).

Na verdade, não foi exatamente uma rejeição, já que ele convivera com as idéias bergsonianas por algum tempo, antes de seu envolvimento com as revolucionárias idéias de Gaston Roupnel sobre o instante dinamizado. O que o levou a reconsiderar a questão e a tomar o partido de Roupnel foi uma severa reflexão a que se impôs, buscando inclusive nas idéias de Einstein, sobre a relatividade do tempo, o apoio necessário para recolocar a questão.

A crítica einsteiniana da duração objetiva despertou-o de seus sonhos dogmáticos, abalando sua confiança na tese bergsoniana e induzindo-o a uma nova tomada de posição. Ele conscientizou-se que a crítica einsteiniana destrói o absoluto que dura (essência do pensamento bergsoniano sobre a duração), mas resguarda o absoluto que é, ou seja, o absoluto do instante. Para ele, o que Einstein nomeia como realidade é apenas o lapso do tempo, o longo do tempo. Em outras palavras, no método einsteiniano de medir o tempo, este longo se revela relativo.

Para Bachelard, no que concerne a Bergson, este apenas sublinha o todo da sucessão temporal em inúteis jogos de cálculo, valendo-se de uma teoria da duração submetida à causa imediata da consciência.

Inspirado nas intuições roupnelianas, ele descobre como, aos poucos, se constrói a duração com os instantes inativos (instantes sem duração), o que prova o caráter metafísico primordial do instante, ao mesmo tempo que prova, também, o caráter indireto e mediador da duração.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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