I - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: INÍCIO
NEUZA MACHADO
Está mais do que evidente, Meu Rapaz!, que vou narrar-Lhe a Verdade mais ou menos. A Verdade Verdadeira Antigona, sem um pouco mais de redundância, não tem graça nenhuma. E, depois, há o escopo de que os fatos são coisas do Passado, não há como os recuperar fielmente. Assim, para mim, o Passado é romance, cenas do Ontem que retornam ao intelecto em forma de ficção.
Mesmo romanceando a Verdade, quero deixar registrado, neste depoimento, já um tantão atrasado!, que este Aranzel que virá a seguir não é romance de escritor inspirado, não Senhor!, é a pura Verdade!, ou, se Você quiser!, é a Verdade que se encontra arquivada nos compartimentos reservados às recordações mais caras ou às recordações indesejadas.
Saiba que não sou muito boa de memória, mas, de qualquer maneira, o que é a Verdade? Pense — meu Caríssimo Ouvinte-Internauta Ocasional! — que a recordação é falha!, inclusive, é muito lírica!, e se abriga no fundo do coração, e é, por isto mesmo, i-nes-go-tá-vel, porque submissa a mil e tantos olhares. A memória, Meu Amado!, é curta; a “pobre” possui Verdades sem atrativos ou rejeições; registra os fatos objetivamente, exteriorizadamente, friamente.
Mas o que dizer das recordações: as recordações são sentimentos doídos, sejam alegres ou tristes, que vêm do cantinho mais desconhecido da alma, e, acredite em mim, não é fácil um retroceder íntimo e, dali, retirar sentimentos de ódio ou de amor, de rejeição ou de aceitação. Não é fácil! Mas vou narrar-lhe a Minha Verdade.
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