14.3 - ALÉM DO COGITO TRÊS: SOBRE O CONTROVERTIDO ASSUNTO “SOLIDÃO”
NEUZA MACHADO
A obra literária roseana passou por esse processo metafísico do tempo. Antes dela, e depois paralelamente a ela, o próprio Artista, enquanto ser social, também vivenciou essas gradações da duração. No capítulo "O Artista e Suas Máscaras" (atenção: a palavra “máscara” aqui não possui sentido pejorativo) comentei suas transformações sociais e intelectuais, desde a infância numa região sertaneja até o mais alto grau de elevação sócio/intelectual que um homem pode aspirar na moderna sociedade.
Bachelard, reativando o pensamento de Roupnel, reafirma seus propósitos metafísicos sobre a questão do tempo.
“Dès le seuil de sa méditation — et la méditation du temps est la tâche préliminaire à toute métaphysique — voilà donc le philosophe devant l'affirmation que le temps se présente comme l'instant solitaire, comme la conscience d'une solitude. Nous verrons, par la suite, comment se reformeront le fantôme du passé ou l'illusion de l'avenir; mais, avant tout, pour bien comprendre l'œuvre que nous expliquons, il faut se pénétrer de la totale égalité de l'instant présent et du réel. Ce qui est réel, comment échapperait-il à la marque de l'instant présent; mais reciproquement comment l'instant présent manquerait-il à s'empreindre sur le réel? Si mon être ne prend conscience de soi que dans l'instant présent comment ne pas voir que l'instant présent est le seul domaine où la réalité s'éprouve? Dussions-nous par la suite éliminer notre être, il faut en effet partir de nous-mêmes pour prouver l'être. Prenons donc d'abord notre pensée et nous allons la sentir sans cesse s'effacer avec l'instant qui passe, sans souvenir pour ce qui vient de nous quitter, sans espoir non plus, puisque sans conscience, pour ce que l'instant que vient nous livrera” (BACHELARD, Gaston. "Étude sur la Siloë de Gaston Roupnel". L'intuition de l'instant. France: Editions Gouthier, 1932).
No que tange a sua obra, o Ficcionista, em princípio, procurou organizar seus “momentos fervilhantes”, intencionando oferecer consistência real a sua imensa intuição literária sobre o sertão da infância e adolescência. A consciência de sua “solidão metafísica” (solidão do Homem Moderno), em meio a uma elite intelectual, para ele, insatisfatória, um grupo que, segundo suas próprias palavras (Entrevista ao crítico alemão Günter Lorenz), só sabe transmitir bolas de papel, op. cit.: 16), impulsiona-o à retomada literária dos valores primordiais de seu princípio de vida.
É nesse momento que o Artista retoma intuitivamente e simbolicamente o mito de Siloé, ou seja, retrocede literariamente ao seu passado (imaculado pelo poder das recordações) para beber na fonte pura de suas origens. Em sua clausura temporal (ficcional), procura reformar o fantasma do passado para iludir o porvir.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
NEUZA MACHADO
A obra literária roseana passou por esse processo metafísico do tempo. Antes dela, e depois paralelamente a ela, o próprio Artista, enquanto ser social, também vivenciou essas gradações da duração. No capítulo "O Artista e Suas Máscaras" (atenção: a palavra “máscara” aqui não possui sentido pejorativo) comentei suas transformações sociais e intelectuais, desde a infância numa região sertaneja até o mais alto grau de elevação sócio/intelectual que um homem pode aspirar na moderna sociedade.
Bachelard, reativando o pensamento de Roupnel, reafirma seus propósitos metafísicos sobre a questão do tempo.
“Dès le seuil de sa méditation — et la méditation du temps est la tâche préliminaire à toute métaphysique — voilà donc le philosophe devant l'affirmation que le temps se présente comme l'instant solitaire, comme la conscience d'une solitude. Nous verrons, par la suite, comment se reformeront le fantôme du passé ou l'illusion de l'avenir; mais, avant tout, pour bien comprendre l'œuvre que nous expliquons, il faut se pénétrer de la totale égalité de l'instant présent et du réel. Ce qui est réel, comment échapperait-il à la marque de l'instant présent; mais reciproquement comment l'instant présent manquerait-il à s'empreindre sur le réel? Si mon être ne prend conscience de soi que dans l'instant présent comment ne pas voir que l'instant présent est le seul domaine où la réalité s'éprouve? Dussions-nous par la suite éliminer notre être, il faut en effet partir de nous-mêmes pour prouver l'être. Prenons donc d'abord notre pensée et nous allons la sentir sans cesse s'effacer avec l'instant qui passe, sans souvenir pour ce qui vient de nous quitter, sans espoir non plus, puisque sans conscience, pour ce que l'instant que vient nous livrera” (BACHELARD, Gaston. "Étude sur la Siloë de Gaston Roupnel". L'intuition de l'instant. France: Editions Gouthier, 1932).
No que tange a sua obra, o Ficcionista, em princípio, procurou organizar seus “momentos fervilhantes”, intencionando oferecer consistência real a sua imensa intuição literária sobre o sertão da infância e adolescência. A consciência de sua “solidão metafísica” (solidão do Homem Moderno), em meio a uma elite intelectual, para ele, insatisfatória, um grupo que, segundo suas próprias palavras (Entrevista ao crítico alemão Günter Lorenz), só sabe transmitir bolas de papel, op. cit.: 16), impulsiona-o à retomada literária dos valores primordiais de seu princípio de vida.
É nesse momento que o Artista retoma intuitivamente e simbolicamente o mito de Siloé, ou seja, retrocede literariamente ao seu passado (imaculado pelo poder das recordações) para beber na fonte pura de suas origens. Em sua clausura temporal (ficcional), procura reformar o fantasma do passado para iludir o porvir.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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