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domingo, 30 de maio de 2010

8.3 - SERTÃO: SOFRIMENTO E CONFLITO


8.3 - SERTÃO: SOFRIMENTO E CONFLITO

NEUZA MACHADO



O surdo conflito narrativo-ficcional, em Grande Sertão: Veredas, alcança proporções maiores, porque, para Riobaldo, enquanto personagem atuante, o sentido de dualidade amorosa inexiste, já que ele conhece Diadorim como um seu-igual. Esta dualidade é um conflito interno, ou seja, dualidade entre o nível material e o nível espiritual. Assim, a dualidade, nesta narrativa, ao contrário do que diz Bachelard (citações dos trechos anteriores 8.1 e 8.2), é o não-existir da dualidade: a luta interna foi provocada por essa falta de elementos químicos, escondida pela imagem auto-imposta, que o faz distanciar-se sexualmente e aproximar-se espiritualmente de Diadorim.

“Para a imaginação, toda substância fica necessariamente dividida assim que deixa de ser elementar. Essa divisão não é plácida. Assim que a imaginação se refina, já não se satisfaz com uma substância de vida simples e uniforme. A menor desordem imaginada no interior das substâncias, o sonhador julga-se testemunha de uma agitação, de uma luta pérfida” (Bachelard).

Aqui, terra e água, substâncias materiais, ficam divididas em seus aspectos primários, objetivos exteriores, depois da intromissão do elemento fogo, substância calorífica e não dividida (não há fora e dentro nesse elemento, no seu aspecto ativo, visível). Esta substância (o fogo) ilumina o olhar em profundidade do Artista, obriga-o a atingir o aspecto elementar dessas matérias, na procura de um novo tipo de substância altamente essencial. A busca da essência dessas matérias ocasiona movimentação, fermentação, agitação da imaginação que trabalha; o desejo de ultrapassar a face (aparência) desses elementos e penetrar no âmago que os completa.

Assim, o sonhador, depois de apreciar e revirar a poeira da terra, ou mesmo de se encantar com os reflexos da água, empreende uma interação com a profundidade dessas matérias, submetido ao desejo secreto de ultrapassar a crosta da terra, apreciando seu interior desconhecido, e ao desejo de se aprofundar no elemento água, desvendando seus íntimos segredos.

Depois da intervenção do fogo, a imaginação do Artista se refina, não aceita mais reproduzir velhas ideologias de vida.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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