O ficcionista sertanejo, neste segmento final da narrativa, descobre a consciência de si próprio; descobre-se um deus-que-garante-tudo, redirecionando o próprio ato de narrar. Seu narrador inflamou o pilão, enfiando-o na ranhadura da madeira seca do sertão primitivo e descobriu o brilho da chama dos sonhos bem sonhados apontando verticalmente para o Infinito. Em outras palavras, ainda sob orientação bachelardiana, o narrador roseano sai da Idade da Pedra Lascada, maltratada, para a Idade da Pedra Polida, acariciada, "ama as pedras como quem ama uma mulher” (Bachelard).
“Quando se observa um machado de sílex talhado, é impossível fugir-se à idéia de que se conseguiu localizar tão bem cada faceta graças a uma redução da força, graças a uma força inibida, contida, administrada, numa palavra, uma força psicanalisada. Com a pedra polida, passamos da carícia intermitente à carícia contínua ao movimento suave e envolvente, ritmado e sedutor. Seja como for, o homem que trabalha com tanta paciência é sustentado, simultaneamente, por uma recordação e uma esperança, e é entre as forças afetivas que devemos procurar o segredo das suas divulgações” (Bachelard).
O narrador moderno (novo personagem roseano) reduz, no final de A Hora e Vez de Augusto Matraga, a força do narrador memorialista, preso às experiências de vida da comunidade sertaneja, material precioso que fundamenta a vida de um povo. As experiências de vida, assinaladas por Walter Benjamim em O Narrador, encontram-se registradas na memória. Entretanto, foi esta memória (primeiras sequências) que insistiu posteriormente em ressuscitar o herói e, consequentemente, em permanecer fiel às tradições do Sertão.
Na verdade, quem reduz a própria força ficcional é o Artista, aquele ser oriundo do sertão, que adotou ou foi adotado pelas leis sociais modernas. O Artista inibe sua força, administra-a no final, porque uma nova etapa da poética do fogo o leva a agir assim. De ora em diante, ele será sustentado pelas recordações da infância e a esperança de que estas recordações de seu mundo primitivo, no sentido genético, o ajudem a equilibrar-se psicologicamente no desconhecido mundo moderno (jamais esquecer que o Artista é nativo do sertão). O Amor pelo sertão, descoberto sob a orientação do fogo, guiará agora o impulso de sua mão, a qual, por sua vez, será instigada pelo relaxamento dos olhos na fase do amanhecer. Uma nova realidade começa a surgir, propiciando um novo direcionamento narrativo.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
“Quando se observa um machado de sílex talhado, é impossível fugir-se à idéia de que se conseguiu localizar tão bem cada faceta graças a uma redução da força, graças a uma força inibida, contida, administrada, numa palavra, uma força psicanalisada. Com a pedra polida, passamos da carícia intermitente à carícia contínua ao movimento suave e envolvente, ritmado e sedutor. Seja como for, o homem que trabalha com tanta paciência é sustentado, simultaneamente, por uma recordação e uma esperança, e é entre as forças afetivas que devemos procurar o segredo das suas divulgações” (Bachelard).
O narrador moderno (novo personagem roseano) reduz, no final de A Hora e Vez de Augusto Matraga, a força do narrador memorialista, preso às experiências de vida da comunidade sertaneja, material precioso que fundamenta a vida de um povo. As experiências de vida, assinaladas por Walter Benjamim em O Narrador, encontram-se registradas na memória. Entretanto, foi esta memória (primeiras sequências) que insistiu posteriormente em ressuscitar o herói e, consequentemente, em permanecer fiel às tradições do Sertão.
Na verdade, quem reduz a própria força ficcional é o Artista, aquele ser oriundo do sertão, que adotou ou foi adotado pelas leis sociais modernas. O Artista inibe sua força, administra-a no final, porque uma nova etapa da poética do fogo o leva a agir assim. De ora em diante, ele será sustentado pelas recordações da infância e a esperança de que estas recordações de seu mundo primitivo, no sentido genético, o ajudem a equilibrar-se psicologicamente no desconhecido mundo moderno (jamais esquecer que o Artista é nativo do sertão). O Amor pelo sertão, descoberto sob a orientação do fogo, guiará agora o impulso de sua mão, a qual, por sua vez, será instigada pelo relaxamento dos olhos na fase do amanhecer. Uma nova realidade começa a surgir, propiciando um novo direcionamento narrativo.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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