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segunda-feira, 10 de maio de 2010

4.7 – GUIMARÃES ROSA: O CALOR DA FESTA SERTANEJA


4.7 – GUIMARÃES ROSA: O CALOR DA FESTA SERTANEJA

NEUZA MACHADO


Recuperando o que já foi dito até agora, as sequências iniciais da narrativa A Hora e Vez de Augusto Matraga reproduzem o nascimento do fogo (sertão mítico-místico), o nascimento da matéria que propiciará uma nova etapa de narrativa.

“A produção do fogo por fricção ficou para todo o sempre ligada a uma idéia de festa. Nas festas do fogo, tão celebradas na Idade Média, tão universalmente praticadas pelos povos primitivos, regressa-se por vezes ao costume inicial, o que parece provar que o nascimento do fogo foi o princípio da sua adoração” (Bachelard).

A interferência da matéria fogo, na já assinalada narrativa roseana, ficou devidamente caracterizada na festa sertaneja em homenagem à santa padroeira do arraial do Murici, um pequeno burgo incrustado nos domínios do sertão primitivo (representando a modernidade que se quer alcançar). A festa em honra de Nossa Senhora das Dores (no Sertão) repete as religiosas festas medievais. O sertão mineiro, ainda hoje, é um invólucro de valores medievais, trazidos pelos portugueses que aqui aportaram desde o século XVI. Por isto, as lanternas de azeite e as velas iluminam ainda muitos trechos do sertão, ignorantes da luz elétrica em plena era de progresso.

O fogo, ao longo da narrativa, representa a nostalgia do homem do sertão. Bachelard diz que a nostalgia é a recordação do calor do ninho; o narrador sertanejo apropria-se do fogo tépido das recordações para recuperar antigos calores/valores que o marcaram em sua essência. O Artista, de origem sertaneja, narrador de experiências, mas ao mesmo tempo produtor de Ficção-Arte, tem consciência de sua antiga felicidade. O calor da festa está portanto na "origem da consciência de felicidade” (Bachelard), como ensina o filósofo, oriundo de vinhateiros da Champanha.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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