O fogo, ao longo da narrativa, representa a nostalgia do homem do sertão. Bachelard diz que a nostalgia é a recordação do calor do ninho; o narrador sertanejo apropria-se do fogo tépido das recordações para recuperar antigos calores/valores que o marcaram em sua essência. O Artista, de origem sertaneja, narrador de experiências, mas ao mesmo tempo produtor de Ficção-Arte, tem consciência de sua antiga felicidade. O calor da festa está portanto na "origem da consciência de felicidade” (Bachelard), como ensina o filósofo, oriundo de vinhateiros da Champanha.
Há uma ligação metafísica entre Bachelard e Rosa, tão diferentes, no que se relacione a gênero, e ao mesmo tempo tão iguais em suas profundas reflexões. Há uma ligação metafísica entre o filósofo nascido em uma região agrícola da França e o escritor brasileiro, homem citadino, civilizado, mas oriundo de uma região sertaneja pouco valorizada no âmbito social. O filósofo, ao versar o tema do fogo, se conscientiza, também ele, de sua antiga felicidade.
A recordação do calor do ninho revive o sertão primitivo. O narrador se vale do fogo e do amor para simbolizarem o seu momento de transição narrativa. A luz das lanternas de azeite, que iluminam o cenário mítico, sai de suas convicções íntimas, de sua atual consciência de poder de criação. A luz das lanternas que iluminam o leilão sai de suas próprias entranhas, luz que num futuro já muito próximo iluminará a insolidez do discurso criativo com sua alta taxa de poesia.
O discurso do Artista se inflama primitivamente, para usufruir posteriormente da beleza da chama domesticada que aponta sempre para o alto. A poesia enquanto essência necessita da chama primitiva, sustentadora de futuras revelações. A atração para o fogo, para o amante da terra e água amalgamadas, nesta narrativa, se faz necessária, porque a fricção da memória com a recordação significa novas etapas a serem alcançadas.
“O calor é um bem, uma possessão. Deve guardar-se ciosamente e só o conceder a um ser eleito que mereça uma comunhão, uma fusão recíproca. A luz brinca e ri à superfície das coisas, mas o calor, só ele, é que penetra” (Bachelard).
O Artista-Ficcionista é um ser eleito. A luz das lanternas brincam à superfície da narrativa nas primeiras sequências, mas foi o calor do ferro-em-brasa que obrigou o seu narrador a penetrar na intimidade do personagem, transformando-o em um ser autenticamente ficcional.
O calor íntimo do plenipotenciário do narrar direcionou novas etapas criativas, o calor é um bem, uma possessão; e eis novamente a imagem do calor, sob a forma de um trago de cachaça, propiciando um sonho bonito, "no qual havia um Deus valentão, o mais solerte de todos os valentões (...), que o mandava ir brigar, só para lhe experimentar a força, pois que ficava lá em-cima, sem descuido, garantindo tudo” (A Hora e Vez de Augusto Matraga).
O personagem Nhô Augusto muda sua trajetória de vida — ou seria o Narrador? ou o Artista?
Depois da invernada brava, Nhô Augusto é um novo homem, renascido das cinzas do antigo herói sanguinário.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
A recordação do calor do ninho revive o sertão primitivo. O narrador se vale do fogo e do amor para simbolizarem o seu momento de transição narrativa. A luz das lanternas de azeite, que iluminam o cenário mítico, sai de suas convicções íntimas, de sua atual consciência de poder de criação. A luz das lanternas que iluminam o leilão sai de suas próprias entranhas, luz que num futuro já muito próximo iluminará a insolidez do discurso criativo com sua alta taxa de poesia.
O discurso do Artista se inflama primitivamente, para usufruir posteriormente da beleza da chama domesticada que aponta sempre para o alto. A poesia enquanto essência necessita da chama primitiva, sustentadora de futuras revelações. A atração para o fogo, para o amante da terra e água amalgamadas, nesta narrativa, se faz necessária, porque a fricção da memória com a recordação significa novas etapas a serem alcançadas.
“O calor é um bem, uma possessão. Deve guardar-se ciosamente e só o conceder a um ser eleito que mereça uma comunhão, uma fusão recíproca. A luz brinca e ri à superfície das coisas, mas o calor, só ele, é que penetra” (Bachelard).
O Artista-Ficcionista é um ser eleito. A luz das lanternas brincam à superfície da narrativa nas primeiras sequências, mas foi o calor do ferro-em-brasa que obrigou o seu narrador a penetrar na intimidade do personagem, transformando-o em um ser autenticamente ficcional.
O calor íntimo do plenipotenciário do narrar direcionou novas etapas criativas, o calor é um bem, uma possessão; e eis novamente a imagem do calor, sob a forma de um trago de cachaça, propiciando um sonho bonito, "no qual havia um Deus valentão, o mais solerte de todos os valentões (...), que o mandava ir brigar, só para lhe experimentar a força, pois que ficava lá em-cima, sem descuido, garantindo tudo” (A Hora e Vez de Augusto Matraga).
O personagem Nhô Augusto muda sua trajetória de vida — ou seria o Narrador? ou o Artista?
Depois da invernada brava, Nhô Augusto é um novo homem, renascido das cinzas do antigo herói sanguinário.
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