BACHELARD: PASSAGEM DOS COGITOS - 4
NEUZA MACHADO
A queda (em A Hora e Vez de Augusto Matraga) ainda não representa um verdadeiro momento de mudança narrativa. O Artista, submetido às imposições ideológicas do sertão, tenta recuperar o personagem linearmente, remodelando-o sob o jugo de um novo poder: o poder carismático.
Mas é nesse momento que Nhô Augusto se submete ao repouso vital, sob os ditames da tradição religiosa, embalado pelas lembranças da infância, permitindo assim um temporário descanso vital ao escritor, já prestes a se submeter ao repouso fervilhante que antecederá ao início de novas e singulares criações literárias, nascidas exclusivamente do tempo do pensamento.
Enquanto Nhô Augusto depois da queda reaparece renovado, saído das brasas de uma fé antiga ainda vivas sob as cinzas da descrença, o narrador se prepara, orientado pelo demiurgo, para assumir uma nova postura narrativa, que romperá definitivamente com sua antiga forma de narrar. Portanto, quem realmente resgata, momentaneamente, a paz de espírito própria da infância é o Artista. Ele se recupera no plano da continuidade temporal, recuperando também mais uma face ideológica de seu personagem: a carismática. Por isto, repenso aqui o excurso de Gaston Bachelard, nas páginas iniciais de sua propedêutica, rejeitando um envolvimento maior com o repouso vital.
O repouso de Nhô Augusto na casa dos pretos simboliza descanso mental, vital, já que o ficcionista por enquanto não irá modificar nada ao longo da narrativa, apenas promoverá um aparentemente novo direcionamento de vida para o personagem, submetido ainda às leis do tempo contínuo. Em outras palavras, ele simplesmente receberá um novo poder como porta-voz do poder religioso.
Se o personagem, nesse intervalo, nesse repouso forçado, com todas as conotações próprias da palavra repouso, recupera a paz de espírito, é a partir daí que o repouso tenso, fervilhante, do Artista, sentido no fundo do ser, de acordo com Bachelard, começa a se insinuar, possibilitando novas perspectivas de narração na obra roseana. O narrador informa que o personagem passa a ter tempo para sarar e pensar, mas quem realmente se imobiliza tensamente, para produzir novos e singulares pensamentos é o próprio Artista. O personagem, o narrador e o Artista estão prestes a esvaziar o tempo vivido (contínuo) em benefício de uma nova realidade, autenticamente ficcional, repleta de lacunas fervilhantes.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
Mas é nesse momento que Nhô Augusto se submete ao repouso vital, sob os ditames da tradição religiosa, embalado pelas lembranças da infância, permitindo assim um temporário descanso vital ao escritor, já prestes a se submeter ao repouso fervilhante que antecederá ao início de novas e singulares criações literárias, nascidas exclusivamente do tempo do pensamento.
Enquanto Nhô Augusto depois da queda reaparece renovado, saído das brasas de uma fé antiga ainda vivas sob as cinzas da descrença, o narrador se prepara, orientado pelo demiurgo, para assumir uma nova postura narrativa, que romperá definitivamente com sua antiga forma de narrar. Portanto, quem realmente resgata, momentaneamente, a paz de espírito própria da infância é o Artista. Ele se recupera no plano da continuidade temporal, recuperando também mais uma face ideológica de seu personagem: a carismática. Por isto, repenso aqui o excurso de Gaston Bachelard, nas páginas iniciais de sua propedêutica, rejeitando um envolvimento maior com o repouso vital.
O repouso de Nhô Augusto na casa dos pretos simboliza descanso mental, vital, já que o ficcionista por enquanto não irá modificar nada ao longo da narrativa, apenas promoverá um aparentemente novo direcionamento de vida para o personagem, submetido ainda às leis do tempo contínuo. Em outras palavras, ele simplesmente receberá um novo poder como porta-voz do poder religioso.
Se o personagem, nesse intervalo, nesse repouso forçado, com todas as conotações próprias da palavra repouso, recupera a paz de espírito, é a partir daí que o repouso tenso, fervilhante, do Artista, sentido no fundo do ser, de acordo com Bachelard, começa a se insinuar, possibilitando novas perspectivas de narração na obra roseana. O narrador informa que o personagem passa a ter tempo para sarar e pensar, mas quem realmente se imobiliza tensamente, para produzir novos e singulares pensamentos é o próprio Artista. O personagem, o narrador e o Artista estão prestes a esvaziar o tempo vivido (contínuo) em benefício de uma nova realidade, autenticamente ficcional, repleta de lacunas fervilhantes.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
Nenhum comentário:
Postar um comentário