A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: OS DOIS IRMÃOS DE VOVÔ JOSÉ
ANTÔNIO DE SOUZA MOREIRA
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Vamos falar agora sobre dois
irmãos de vovô José Antônio. Um morava em Divino do Carangola, e o outro morava
no Rio de Janeiro. João de Souza Moreira, conhecido pela alcunha de João das
Abelhas, morava no alto da Rua Nova, do lado esquerdo, para quem segue para o
Largo da Matriz, como era naquele tempo. Ele tinha uma grande criação de
abelhas, e também uma lavourinha de
café. O terreno era posseado, mas tinha o tamanho de um sítio. O meu tio-avô
João de Souza, por parte de pai, era homem franzino, de estatura mediana, muito
conversador, e de bastante conhecimento em seu meio-ambiente. Não era homem de
negócios, mas tinha uma vida tranquila. Tinha a sua lavoura de café, que dava
uma rendazinha, tinha também as suas abelhas trabalhando e fazendo mel, e
também a cera, que ele vendia para o fabrico de velas. Meu tio-avô João de
Souza vendia mel, sem precisar sair de casa. Todos os moradores do Arraial do
Divino (naquele tempo, Divino do Carangola era ainda Arraial) iam à sua casa
para comprar mel (que era uma delícia!). Para a venda da cera, ele tinha um
comprador. Era um senhor que fabricava velas e comprava todo o produto das
abelhas. Esse senhor também tinha criação de abelhas, mas tinha muita encomenda
de velas, por isso, o que ele colhia de seu produto, não dava para as
encomendas, e, assim, ele comprava toda a cera de meu tio João das Abelhas.
Esse homem, que fabricava velas naquela época,
chamava-se José Damásio de Amorim, um grande Fazendeiro em Ponte Geraldo, um
lugar que, ainda hoje, faz divisa com o Município de Carangola. O meu tio-avô
João de Souza era um homem muito alegre, gostava de piadas. Não era contador de
piadas de façanhas, nem de imoralidades. Suas brincadeiras não ofendiam.
Eu me lembro de um dia em que
ele chegou em nossa casa montado em um burro alto e comprido. Entrou no
terreiro já gritando: “– Ó Tonica!, tem café e almoço?! Tô chegando! Quero também pasto pra
meu burro!” Desarreou o burro e soltou-o. O burro rolou no chão e, quando
levantou, soltou o capim azedo pra fora. O tio João de
Souza riu bastante, fazendo galhofada, e dizendo pra minha mãe: “– Tonica, eu e o burro somos igual um ao outro. Só botamos pra
fora, quando temos outro pra botá no lugar”. Mas, ele falava usando
expressões grosseiras, como era o costume do falar da roça antigamente. Ninguém
levava a mal. Às vezes, tio João de Souza ficava dois ou três dias em nossa
casa. E como nós nos divertíamos com tio João! Ele contava histórias e piadas,
todas com muita graça.
Tio João de Souza era padrinho de meu pai. Eu me
lembro de um dia em que meu pai me levou para dar um passeio e ir à missa na
Igreja de Divino. Isso era em tempo frio. Meu pai, sempre que ia ao Divino de
Carangola, não deixava de passar em casa de tio João de Souza, para tomar a
bênção e, também, saborear um cafezinho da madrinha Silivéra (Silvéria ou Silvera). Eu me lembro que nós chegamos e
encontramos o tio João sentado embaixo de um pé de café. E ele disse pra meu pai: “– Zequinha, eu fico aqui
me movimentando. Quando o sol tá
quente, eu enfio debaixo da saia do café, e, quando eu sinto frio, volto para o
sol”. E disse para meu pai: “– Vamos entrar!” Nós ficamos um pouquinho na
grande cozinha, tomamos café, e, em seguida, meu pai disse: “– Padrinho, é hora
de ir chegando pra casa.” E,
despedimo-nos de tio João e de tia Silivéra.
Nessa época, tio João já tinha casado a filha mais velha, por nome Júlia
(casada com José Augusto), e a filha segunda, por nome Severina (casada com
Antônio Laureano). Os outros filhos, José, Balduína e Maria, ainda estavam
solteiros.
A respeito de um outro irmão
de vovô que foi para o Rio de Janeiro. Dizia vovô que o irmão dele Antônio de
Souza Moreira, quando deixou Laranjal e foi para a Corte do Rio de Janeiro,
ainda era garoto de menor idade. Influenciado por alguns companheiros, deixou
mãe, irmãos, parentes, e foi pra
Corte do Rio de Janeiro. Era o que vovô falava. Nunca mais ele viu o irmão
caçula. Dizia vovô que tivera notícias dele, que Antônio tava bem, que tinha casado com uma professora. Mas, ele nem sabia o
nome da cunhada, pois Antônio nunca escreveu uma carta pra eles, que ficaram na saudade daquele irmão, que ainda tinha mãe
viva, sempre clamando a ausência do filho, sem ter consolo de ao menos um
retrato ou uma carta. Mas, nem isto aconteceu. Quando se lembrava do irmão
Antônio, os olhos de vovô lagrimavam.
Ele dizia: “– Tenho uma vontade de ver meu irmão caçula, mas, acho eu que nunca
mais vou ver!” E vovô morreu com este desejo de ver o irmão. Depois que vovô
morreu, um filho de Maria Dussanto (ou Maria dos Santos), por nome Arthur de
Souza Moreira, foi até o Rio de Janeiro, e encontrou o tio Antônio, que morava
na Penha, já bem velhinho.
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