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terça-feira, 16 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: OS DOIS IRMÃOS DE VOVÔ JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA MOREIRA


 
A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: OS DOIS IRMÃOS DE VOVÔ JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA MOREIRA


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 
 


 

Vamos falar agora sobre dois irmãos de vovô José Antônio. Um morava em Divino do Carangola, e o outro morava no Rio de Janeiro. João de Souza Moreira, conhecido pela alcunha de João das Abelhas, morava no alto da Rua Nova, do lado esquerdo, para quem segue para o Largo da Matriz, como era naquele tempo. Ele tinha uma grande criação de abelhas, e também uma lavourinha de café. O terreno era posseado, mas tinha o tamanho de um sítio. O meu tio-avô João de Souza, por parte de pai, era homem franzino, de estatura mediana, muito conversador, e de bastante conhecimento em seu meio-ambiente. Não era homem de negócios, mas tinha uma vida tranquila. Tinha a sua lavoura de café, que dava uma rendazinha, tinha também as suas abelhas trabalhando e fazendo mel, e também a cera, que ele vendia para o fabrico de velas. Meu tio-avô João de Souza vendia mel, sem precisar sair de casa. Todos os moradores do Arraial do Divino (naquele tempo, Divino do Carangola era ainda Arraial) iam à sua casa para comprar mel (que era uma delícia!). Para a venda da cera, ele tinha um comprador. Era um senhor que fabricava velas e comprava todo o produto das abelhas. Esse senhor também tinha criação de abelhas, mas tinha muita encomenda de velas, por isso, o que ele colhia de seu produto, não dava para as encomendas, e, assim, ele comprava toda a cera de meu tio João das Abelhas.

 

Esse homem, que fabricava velas naquela época, chamava-se José Damásio de Amorim, um grande Fazendeiro em Ponte Geraldo, um lugar que, ainda hoje, faz divisa com o Município de Carangola. O meu tio-avô João de Souza era um homem muito alegre, gostava de piadas. Não era contador de piadas de façanhas, nem de imoralidades. Suas brincadeiras não ofendiam.

 

Eu me lembro de um dia em que ele chegou em nossa casa montado em um burro alto e comprido. Entrou no terreiro já gritando: “– Ó Tonica!, tem café e almoço?! chegando! Quero também pasto pra meu burro!” Desarreou o burro e soltou-o. O burro rolou no chão e, quando levantou, soltou o capim azedo pra fora. O tio João de Souza riu bastante, fazendo galhofada, e dizendo pra minha mãe: “– Tonica, eu e o burro somos igual um ao outro. Só botamos pra fora, quando temos outro pra botá no lugar”. Mas, ele falava usando expressões grosseiras, como era o costume do falar da roça antigamente. Ninguém levava a mal. Às vezes, tio João de Souza ficava dois ou três dias em nossa casa. E como nós nos divertíamos com tio João! Ele contava histórias e piadas, todas com muita graça.

 

Tio João de Souza era padrinho de meu pai. Eu me lembro de um dia em que meu pai me levou para dar um passeio e ir à missa na Igreja de Divino. Isso era em tempo frio. Meu pai, sempre que ia ao Divino de Carangola, não deixava de passar em casa de tio João de Souza, para tomar a bênção e, também, saborear um cafezinho da madrinha Silivéra (Silvéria ou Silvera). Eu me lembro que nós chegamos e encontramos o tio João sentado embaixo de um pé de café. E ele disse pra meu pai: “– Zequinha, eu fico aqui me movimentando. Quando o sol quente, eu enfio debaixo da saia do café, e, quando eu sinto frio, volto para o sol”. E disse para meu pai: “– Vamos entrar!” Nós ficamos um pouquinho na grande cozinha, tomamos café, e, em seguida, meu pai disse: “– Padrinho, é hora de ir chegando pra casa.” E, despedimo-nos de tio João e de tia Silivéra. Nessa época, tio João já tinha casado a filha mais velha, por nome Júlia (casada com José Augusto), e a filha segunda, por nome Severina (casada com Antônio Laureano). Os outros filhos, José, Balduína e Maria, ainda estavam solteiros.

 

A respeito de um outro irmão de vovô que foi para o Rio de Janeiro. Dizia vovô que o irmão dele Antônio de Souza Moreira, quando deixou Laranjal e foi para a Corte do Rio de Janeiro, ainda era garoto de menor idade. Influenciado por alguns companheiros, deixou mãe, irmãos, parentes, e foi pra Corte do Rio de Janeiro. Era o que vovô falava. Nunca mais ele viu o irmão caçula. Dizia vovô que tivera notícias dele, que Antônio tava bem, que tinha casado com uma professora. Mas, ele nem sabia o nome da cunhada, pois Antônio nunca escreveu uma carta pra eles, que ficaram na saudade daquele irmão, que ainda tinha mãe viva, sempre clamando a ausência do filho, sem ter consolo de ao menos um retrato ou uma carta. Mas, nem isto aconteceu. Quando se lembrava do irmão Antônio, os olhos de vovô lagrimavam. Ele dizia: “– Tenho uma vontade de ver meu irmão caçula, mas, acho eu que nunca mais vou ver!” E vovô morreu com este desejo de ver o irmão. Depois que vovô morreu, um filho de Maria Dussanto (ou Maria dos Santos), por nome Arthur de Souza Moreira, foi até o Rio de Janeiro, e encontrou o tio Antônio, que morava na Penha, já bem velhinho.


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