A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O BOM COSTUME DE RESPEITAR OS
DIAS SANTIFICADOS
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Voltamos a falar da família
Pereira e da família Souza. Sendo hoje Quinta-feira Santa (de 1987), quero
recordar aquele tempo, já passado quase setenta anos. Antes de chegar a
Quaresma, era o costume do povo daquela época prevenir-se, nas coisas de
alimentação: matava capado, derretia a gordura, enlatava. Isto era para não
matar vivente nenhum durante a Quaresma. A carne só era comida depois da Semana
Santa (Quinta-feira e Sexta-feira Santas). Nem mesmo moinho não rodava. Até as
crianças tinham de jejuar, tudo no mais puro silêncio. Não podia cantar música
de orquestra. Não podia haver discussão uns com os outros. Se um menino
desobedecesse aos pais, eles diziam: “– Hoje passa, mas, amanhã, ocê vai pagar por isso!” E no dia que o
pai (ou a mãe) pegava aquele que desobedeceu nos dias proibidos de bater, o
desobediente era castigado o dobro. Eles batiam, mas sempre o fazendo ver, porque estava apanhando: “– Isto é
para ocê aprender a ser obediente!
Na Sexta-feira Santa, o povo
da roça passava a noite nas Igrejas, rezando terço, cantando músicas fúnebres
ao Senhor morto. O respeito era até às nove horas da manhã do Sábado de
Aleluia, quando começava a queima do Judas e a queima de fogos. Nesse dia,
matavam bois, porcos grandes, leitoas, galinhas, para assar. O povo fazia
bailes e todos dançavam toda a noite. Mas, não eram todos que faziam esta
extravagância. Muitos iam para a Igreja, para acompanhar a procissão do
Encontro, já no Domingo de Páscoa, ao amanhecer.
E quando chegava fim de ano,
no Natal, na véspera, todos iam à Missa do Galo, passavam a noite acordados,
faziam muita comida gostosa, doces, farinha de amendoim, pé-de-moleque (doce de
amendoim). Tinha também uma brincadeira de pedir festas uns aos outros. Os
homens pediam festas às mulheres, e as mulheres pediam festas aos homens.
Lembro-me que minha mãe Antoninha mandava levar
presente de comida à tia Olívia, à tia Cota, à vovó Maria Brasilina. Estes eram
os vizinhos de mais perto. E minha mãe recebia também os presentes que eles
mandavam pra ela. Era uma união de
fraternidades! Algumas vezes, minha mãe Ninha
(Antoninha) recebia presentes até de longe, de parentes que moravam mais
retirados. E ela os retribuía da mesma forma. Quando matava capado, minha mãe
tinha o cuidado de mandar um pedaço de carne para o vizinho. O mesmo fazia o
vizinho, que retribuía da mesma forma. Entre eles, havia também o costume de
pedir emprestada alguma coisa ou ferramenta, ou mesmo sal ou querosene; até
feijão cozido os vizinhos tomavam
emprestado. Mas, todos tinham o cuidado de pagar. Porque, ainda hoje, uma
amizade para ser conservada, é preciso andar direito uns com os outros.
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