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quinta-feira, 18 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O BOM COSTUME DE RESPEITAR OS DIAS SANTIFICADOS


 
A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O BOM COSTUME DE RESPEITAR OS DIAS SANTIFICADOS


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 

 

Voltamos a falar da família Pereira e da família Souza. Sendo hoje Quinta-feira Santa (de 1987), quero recordar aquele tempo, já passado quase setenta anos. Antes de chegar a Quaresma, era o costume do povo daquela época prevenir-se, nas coisas de alimentação: matava capado, derretia a gordura, enlatava. Isto era para não matar vivente nenhum durante a Quaresma. A carne só era comida depois da Semana Santa (Quinta-feira e Sexta-feira Santas). Nem mesmo moinho não rodava. Até as crianças tinham de jejuar, tudo no mais puro silêncio. Não podia cantar música de orquestra. Não podia haver discussão uns com os outros. Se um menino desobedecesse aos pais, eles diziam: “– Hoje passa, mas, amanhã, ocê vai pagar por isso!” E no dia que o pai (ou a mãe) pegava aquele que desobedeceu nos dias proibidos de bater, o desobediente era castigado o dobro. Eles batiam, mas sempre o fazendo ver, porque estava apanhando: “– Isto é para ocê aprender a ser obediente!

 

Na Sexta-feira Santa, o povo da roça passava a noite nas Igrejas, rezando terço, cantando músicas fúnebres ao Senhor morto. O respeito era até às nove horas da manhã do Sábado de Aleluia, quando começava a queima do Judas e a queima de fogos. Nesse dia, matavam bois, porcos grandes, leitoas, galinhas, para assar. O povo fazia bailes e todos dançavam toda a noite. Mas, não eram todos que faziam esta extravagância. Muitos iam para a Igreja, para acompanhar a procissão do Encontro, já no Domingo de Páscoa, ao amanhecer.

 

E quando chegava fim de ano, no Natal, na véspera, todos iam à Missa do Galo, passavam a noite acordados, faziam muita comida gostosa, doces, farinha de amendoim, pé-de-moleque (doce de amendoim). Tinha também uma brincadeira de pedir festas uns aos outros. Os homens pediam festas às mulheres, e as mulheres pediam festas aos homens.

 

Lembro-me que minha mãe Antoninha mandava levar presente de comida à tia Olívia, à tia Cota, à vovó Maria Brasilina. Estes eram os vizinhos de mais perto. E minha mãe recebia também os presentes que eles mandavam pra ela. Era uma união de fraternidades! Algumas vezes, minha mãe Ninha (Antoninha) recebia presentes até de longe, de parentes que moravam mais retirados. E ela os retribuía da mesma forma. Quando matava capado, minha mãe tinha o cuidado de mandar um pedaço de carne para o vizinho. O mesmo fazia o vizinho, que retribuía da mesma forma. Entre eles, havia também o costume de pedir emprestada alguma coisa ou ferramenta, ou mesmo sal ou querosene; até feijão cozido os vizinhos tomavam emprestado. Mas, todos tinham o cuidado de pagar. Porque, ainda hoje, uma amizade para ser conservada, é preciso andar direito uns com os outros.


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