A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O CASAMENTO DE MEU IRMÃO
OLAVO
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Voltando à história de minha
família Souza Costa. Em mil novecentos e vinte, o meu irmão mais velho, por
nome Olavo de Souza Costa, casava-se com Luzia, uma neta de Antônio de Souza Moreira
(o primo rico de meu avô paterno José Antônio de Souza Moreira).
Dona Francisca Lopes, mãe de Luzia, que tinha o
apelido de dona Chiquinha, era viúva de Pedro de Souza Moreira. Foi uma bela
festa o casamento de meu irmão Olavo, pois dona Chiquinha era fazendeira, e
rica. Pois não havia muito tempo que Pedro de Souza Moreira tinha morrido e
deixado uma bela Fazenda pra viúva e
os filhos.
O casamento de meu irmão Olavo foi realizado na casa
da noiva. O padre e o escrivão saíram do Divino de Carangola com uma comitiva
de amigos de dona Chiquinha e de seus filhos em direção à fazenda de Dona
Chiquinha.
Em casa de meu pai, antes da cerimônia do casamento,
também houve uma festinha em homenagem aos noivos. Os convidados reuniram-se na
casa de meu pai, que ofereceu um almoço para todos os que vieram, dali dos
arredores, para fazer o acompanhamento dos noivos até a Fazenda de dona
Chiquinha.
Recordo-me como foi o acompanhamento, apesar de
minha pouca idade, pois na época eu tinha dez anos. A distância até à Fazenda
de dona Chiquinha, não muito longe, era de apenas seis quilômetros para
caminhar a pé.
Como meu irmão Olavo, já com vinte anos de idade,
ainda trabalhava sob a responsabilidade de meu pai, meu pai comprou tudo o que
foi preciso para o casamento.
Assim, nós descemos da Fazenda Cachoeira dos
Pereiras, nosso lar, margeando o rio Carangola até à Fazenda de dona Chiquinha.
Meu pai tinha comprado muito foguete, para festejar o casamento de seu filho
mais velho, e entregou tudo ao tio Marcolino, que era fanático em soltar
foguete. Nós ainda não tínhamos caminhado nem três quilômetros e tio Marcolino
já estava soltando foguete. E, de lá da Fazenda de dona Chiquinha,
correspondiam da mesma forma. Tio Marcolino soltava um foguete, de lá soltavam
outro.
Abaixo da Fazenda de dona Chiquinha Lopes havia uma
ponte para atravessar o rio Carangola. E passamos em frente à Fazenda, com o
acompanhamento, uns gritando de um lado, outros gritando do outro lado do rio.
E foguetes se encontrando no ar. Fizemos a volta pela ponte, e fomos, até
chegar ao terreiro da Fazenda, com os foguetes se cruzando no ar. O padre e o
escrivão já estavam esperando para a realização do casamento.
Após o término do casamento, os noivos receberam os
cumprimentos dos convidados. Algumas mulheres e moças passavam sal na boca dos
rapazes e moças e diziam: “– É pra ocê não aguar!” Era uma brincadeira de
muita alegria.
Depois dessa brincadeira, foi servido o jantar. Uma
grande mesa fincada no terreiro, com dez metros mais ou menos de comprimento
por um metro e meio de largura. As serventes lotaram a mesa, de canto a canto,
de saborosas comidas. E o povo, que não era pouca gente, comeu até se fartar.
Houve também o baile, que durou a noite toda, até o
dia amanhecer. Dona Chiquinha Lopes já tinha três filhas e um filho casados, e,
com o casamento de Luzia, ficaram sendo quatro filhas e um filho casados. Mas
ainda tinha dois filhos, rapazes solteiros, e uma moça já na idade de se casar.
E tinha também dois meninos de pouca idade, menores.
Com esta união, da família Souza Costa com a família
Souza Moreira, formou-se uma grande consideração entre as duas famílias. Uma
das minhas irmãs, por nome Malvina, começou um namoro com um dos filhos de dona
Chiquinha, por nome Divino de Souza. Esse namoro de minha irmã, eu não sei o
porquê, durou seis anos, até ser realizado o casamento. Mas, finalmente,
realizou-se, pois Malvina já estava com dezoito anos e Divino com vinte e seis
quando se casaram.
Meu pai fez uma grande festa para o casamento de
Malvina com o Divino de Souza, tal e qual a que houve na Fazenda de dona
Chiquinha Lopes, quando do casamento de Olavo com Luzia. Só que o casamento de
Malvina não foi realizado em casa, mas sim na Igreja, em Divino de Carangola. O
acompanhamento foi grandioso. Todos foram a cavalo.
Eu já estava com dezesseis anos de idade e tinha um
cavalo muito bom, assim, fui um dos que acompanharam minha irmã Malvina até à
Igreja. E fui eu que carreguei o baú com os vestimentos da noiva.
Naquela época, casava-se primeiramente no eclesiástico,
depois é que se ia casar no civil. Saímos da Igreja e fomos para o Cartório,
que era na Praça. Quando terminou o casamento no Cartório, fomos apanhar os
animais para voltarmos para nossa casa, que, nesse dia, já estava repleta de
gente, pois meu pai havia convidado toda a vizinhança, e todos compareceram em
massa.
Meu cunhado Divino de Souza também tinha os seus
convidados. A nossa casa encheu-se de gente, que não cabia dentro de casa. Na
frente da casa tinha um grande terreiro, que ficou lotado de gente. Meu pai fez
um gasto grande, de muita comida e doce. Todos comeram à vontade, e ainda
sobrou tanto, principalmente, doce, que, quatro semanas depois, ainda tinha
doce na dispensa de nossa casa, que até chegou a criar mofo dentro da lata.
Para todas as minhas irmãs que casaram, meu pai Zeca
de Souza fez festa, mas, a festa do casamento de Malvina foi a maior de todas.
Os dois primeiros filhos de Malvina eram homens, e
pela grande amizade entre mim e Divino de Souza, logo que nasceu o primeiro
filho, pediram-me para eu escolher o nome do menino, o que fiz com o maior
prazer. Logo veio o segundo e aconteceu a mesma coisa. Fui eu que escolhi o
nome. E não ficou só nisso. Eu fui também o padrinho.
Depois que passamos a ser compadres, aumentou mais a
nossa amizade. Dificilmente, eu passava duas semanas sem ir até a casa de
compadre Divino e comadre Malvina. Aquela harmonia entre o casal deixava a
todos sensibilizados. E, também, eles faziam tanto agrado a gente, que o
domingo passava sem que se percebesse o dia passar, e, quando voltava para
casa, já era noite.
Compadre Divino era também um bom barbeiro na roça.
Tinha também uma grande freguesia de corte de cabelo. Era só aos sábados e
domingos que ele cortava cabelo, e fazia também algumas barbas. Os outros cinco
dias da semana, ele trabalhava na roça. Ele ainda tinha a herança deixada pelo
pai Pedro de Souza Moreira, as terras aonde ele fazia as plantações de cereais.
A Fazenda, que Pedro de Souza Moreira deixou de
herança para a esposa dona Chiquinha Lopes e os filhos, quase não tinha terreno
baixo. Era um terreno de altos e baixos, sendo que embaixo passava o rio
Carangola, e em cima era uma montanha. A Fazenda ficava abaixo da montanha e,
para chegar até ao alto da montanha, tinha que subir muito. E, nessa montanha,
havia uma solapa, espécie de um salão, que podia até esconder gente, se fosse
preciso. Ali, debaixo da solapa, era seco, não nascia mato. E essa solapa na
fazenda de dona Chiquinha foi o lugar onde aconteceu um caso interessante que
quero contar.
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