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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: ALICE SAIU DO ESPELHO DA CIDADE DIVINAL - 17.2
AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: ALICE SAIU DO ESPELHO DA CIDADE DIVINAL - 17.2
NEUZA MACHADO
Naquelles quarenta e cinco minutos de muita conversa e emoção, a Diana ficou sabendo da vida da Alice, depois que ela entrou no Espelho da Vida Tumultuada da Cidade do Rio de Janeiro Encantado. Até que resolvera voltar, Annos depois, para a Cidade de sua concepção.
Todos os personagens do passado atormentado de Alice do Alto da Conceição, desfilaram por intermédio da Velha Senhora diante dos olhos deslumbrados de Diana, replectos de emoção.
Aquelles personagens transcendentais eram todos conhecidos da Veneranda Diana, e por ela muito amados, graças aos recontos insólitos de Jane Briseides Mamãe do Passado Idolatrado.
Nos olhos envelhecidos de Alice, todos esses conservaram uma estranhíssima eterna juventude.
A Alice não os conheceu no auge de suas velhices.
E a Veneranda, emocionada, viu seus fantasmas familiares exibindo as irretocáveis graças da juventude, através das nostálgicas e tristes lembranças da Alice Velhinha.
Os sofrimentos do passado da Anciã Jovial se misturavam aos lamentos das doces e/ou amargas recordações.
O casamento precoce aos doze annos de idade, com um velho decrépito distante da mocidade;
a tentativa de aborto frustrado aos treze annos de idade;
a morte da filha doente de oito annos de idade, rejeitada por ela, quando a pobre Alice já contava vinte e um annos de vida sofrida;
as violentas surras de correia dadas pelo pai;
o sexo ansioso e amoroso no meio do mato com outros rapazes audazes;
os abusos sexuais de homens praláde malvados;
as ameaças de morte, ameaças do próprio pai;
a fuga para o Rio de Janeiro, Capital do Brasil, ajudada pelo Compadre Antoinzim Aquileu e a Joaninha Briseides de Recontos Fabulosos Mil;
os doidos casamentos na Cidade do Rio;
as traumáticas separações;
os filhos abandonados com os diversos pais;
o desprezo dos filhos;
um filho militar indiferente aos seus apelos de mãe, um filho inclemente!;
os inúmeros relacionamentos amorosos, et cetera e tal.
Então, veja Você!, todos esses acontecimentos passando diante dos olhos de Alice, naquelle preciso momento, acionados por sua fala entrecortada, anormal, e registrados pela Veneranda Diana e pelo Invisível Sentinela do Espaço Sideral, ambos emocionados com os muitos entretantos existenciais daquella incrível Senhora.
E quando o Nenêm, um guapo rapaz, buscou-lhe o sexo juvenil, no meio do mato?
E a surra de vara de guaxima que o pobre levou do pai dele?, só porque o pobrezinho fizera sexo com ela?
Um Velhinho danado e linguarudo, que vira tudo de longe, fora o culpado pela surra que o belo Nenêm levara do pai.
“Coitado!, tive tanta pena dele!” (exclamara a Alice) “Queria tanto pedir-lhe perdão, por ter sido a causa de seu sofrimento e purgação! Mas, ele nunca mais olhou para mim!, você acredita? Acho que ele tinha vergonha, coitado! Ou, então, talvez, pensasse que a linguaruda fora eu! Até hoje penso e repenso no que aconteceu. Penso que o Nenêm nunca soube, de fato, que quem contou pro pai dele foi aquelle Velho danado, que morava ali perto daquele recanto do mato.”
E a fuga para o Rio de Janeiro? “O meu pai queria me matar!, e foi o seu Pai, o compadre Antoinzim Aquileu, que me levou, de madrugada, para embarcar no trem, em Carangola. A comadre Joaninha, coitadinha!, preocupada com a minha segurança, foi junto, com um cabo de vassoura na mão, e o compadre Antoinzim levava uma foice afiada para me defender, caso algum dos bate-paus de meu pai aparecesse com a intenção de me matar.
Tudo isto os seus Pais fizeram, para me proteger, até à saída do trem.
Eles, os capangas de meu pai, ferozes, queriam me matar, a mando de meu próprio pai, minha Senhora!
Foi o seu Pai, o Compadre Antoinzim, que me salvou da morte a pauladas, me colocando no trem da madrugada.
Aí, eu fui para o Rio de Janeiro com a intenção de enricar e, depois, uma Fazenda comprar. Eu queria ser Fazendeira, ser rica com o suor de meu rosto, sem precisar de casar com um qualquer Fazendeiro mandão.
Fui mesmo é empregada doméstica! Comi o pão que o diabo amassou, no Rio de Janeiro!
Tive uns quatro maridos por lá, fora os homens com quem deitei sem amor.
Abandonei meu filho, deixando-o com o pai. Até hoje o meu filho não me perdoa!, nem liga pra mim! Telefonei para ele no dia das Mães. Sabe o que ele fez? Desligou o telefone na minha cara! Eu abandonei o menino porque não tinha como criá-lo. Ele não me perdoa!
Tive mais filhos! Estão todos espalhados por aí.
Tenho uma filha no Rio de Janeiro que é cabeleireira; outra, em Guarapari. Estão todos espalhados por aí.
Mas, eu conheci todos os seus parentes, minha Senhora! Conheci sua Avó Justiniaña, seu Avô Emilianno, seus Tios e Tias.
Tinha um, coitadinho!, que pegou doença venérea em uma Casa de Puta. O pinto dele inflamou e apodreceu a pontinha. O saco também inflamou! O médico teve de cortar o pedaço podre do pinto do seu Tio, coitado! Eu vi! Ele me mostrou e mostrou também à Justiniaña, Mãe dele, coitado!
Acho que foi o Duca, seu Tio, que perdeu um pedaço do pinto inflamado!”
“Não!, Alice!, não foi o Duca, não! Foi o Pedro de Brises da Conceição. Mas, o pinto dele sarou e ele casou-se! Não teve filhos, mas foi muito feliz com a Fiota, mulher sem-igual! A tia Fiota foi, para o Pedro de Brises da Conceição, uma mulher amorosa, valerosa, fenomenal e de bom coração. Adotaram uma Sobrinha, e a amaram demais! Ele já faleceu, mas foi muito feliz!, e viveu quomo quis! O Duca José também já está residindo no Reino dos Mortos da Santa Sé, Alice! Quase todos os meus tios, já foram pro Céu!”
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