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domingo, 12 de fevereiro de 2012

AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: A VIAGEM LONGA DE ANTOINZIM PAPAI E JANE (JOANA) MAMÃE ATÉ URUCÂNIA DE MINAS GERAIS - 16.3


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: A VIAGEM LONGA DE ANTOINZIM PAPAI AQUILEU E JANE (JOANA) MAMÃE ATÉ URUCÂNIA DE MINAS GERAIS - 16.3

NEUZA MACHADO

www.urucania.mg.gov.br


Quomodo já lhe disse,
a Jane Mamãe gostava
muito de passear.
Então, houve aquelle dia
em que foram fazer
uma viagem mais longa.

A Jane Mamãe
inventou uma promessa
católica apostólica romana,
só para que o Antônio Aquileu
pudesse levá-la a conhecer
um lugar mais distante.

Quomodo já informei-lhe
anteriormente,
viajar era uma das manias de Mamãe,
mas a promessa católica
era verdadeira e sincera.

A verdade era que,
em uma retomada
de antigos fogaréus sexuais
no relacionamento afetivo do casal,
a Jane Mamãe havia engravidado
aos quarenta e um annos,
e, preocupada com o parto,
fizera a tal promessa.

Assim, pediu a Deus
que a protegesse
na hora do nascimento
de sua criança,
e que, se tudo corresse bem,
ela iria até Urucânia,
em Minas Gerais,
com o Antoinzim Aquileu,
a Dianazinha
e o Filhinho de Mamãe,
para agradecer a protecção.

Naquella época, existia
naquella Cidadezinha Religiosa
de Minas Gerais
um velhíssimo Padre
que era considerado por todos
quomodo um Milagreiro.

O Padre Antônio
(por pura coincidência,
xará do Antoinzim Aquileu),
segundo os Católicos da Região,
era um Enviado de Deus,
e por todos muito amado,
já que realizava
os mais impensados Milagres.

Em frente à residência paroquial,
na Antiga Minúscula Vilazinha,
perdida lá nos confins das Minas Gerais,
Interiorzão do Mineiro Sertão,
formavam-se filas e filas
e filas de romeiros,
de diversas localidades
do Vastíssimo Brasil Varonil
― deficientes físicos, cegos,
pessoas com males incuráveis ―,
todos ansiando pelas Bênçãos
do Bom Sacerdote de Deus,
certos de que,
pelo simples toque
de suas Santas Mãos,
alcançariam a Graça Desejada.

Assim, incentivado pela Jane Mamãe,
o Antônio Aquileu contratou os serviços
do motorista Marreco
(ainda vivo, com quase cem annos,
neste Anno de 2003),
da Cidade da Santa Luzia de Carangola
da Zona da Mata Mineira,
convidou a Sogra Justiniaña de Ogiges
para acompanhá-los na Viagem,
e foram todos alegres a direção
àquela outra já dita Cidadezinha
das Minas Gerais.

O mais gostoso da Viagem
― o Bhima bem se lembrava! ―
(porque ele também
resolvera acompanhar
a família do Antônio Aquileu,
de longe, evidentemente,
com a Vimana Maravilhosa
Voadora
em silêncio sepulcral,
para não chamar
a atenção dos viajantes)
então!,
o mais gostoso da Viagem
eram as refeições
saboreadas
de quando em quando.

A Grande Mamãe
Justiniaña de Ogiges,
uma Afamada Cozinheira
do Córrego Limpíssimo
da Gruta da Liberdade Encantada,
um lugar mineiro maravilhoso
pertinho de Divino do Carangola,
fizera uma matolotagem
de primeiríssima qualidade.

Assim, no Farnel da Vovó,
a dita Justiniaña de Ogiges,
foram colocadas
algumas galinhas assadinhas;
muita farofa
de farinha de fubá torrado
com ovos mexidos
e linguiça de porco
e azeitonas verdinhas;
arroz amarelão graúdão
soltinho gostoso
e uma delícia de bão!,
do jeitinho mesmo
que só a Justiniaña Vovó
sabia fazer;
e muuuitas frutas:
um imenso balaio de taquara
cheiíííííínho de bananas-maçã
e bananas-prata
e bananas-oiro
e laranjas-lima
e laranjas-da-bahia
e laranjas-seleta
e mangas-espadona
e mangas-ubá
e mangas-coquinho
e mangas-rosa
e goiabas brancas
e goiabas vermelhas
e abacaxis tropicais
e melancia rosada
docinha e aguada,
e muito milho verde
pra se assar na fogueira,
batatas-doce
pra se assar na fogueira
durante a viagem,
quando o Marreco parasse o automóvel,
nos momentos das refeições.

Todas essas delícias,
cultivadas no Sítio da Vovó,
foram colocadas
no bagageiro do Automóvel
do Motorista Marreco.

A cada parada para
as refeições,
a Vovó magicamente
retirava do mágico embornal
deliciosas guloseimas,
as quais eram
instantaneamente
devoradas pelo grupo
de Viajantes felizes,
felizmente.

O Bhima,
mesmo com o Freezer
de sua Casa-Vimana
replecto de alimentos
(não existia freezer,
naquelle tempo assinalado,
para os Humanos),
de vez em quando,
durante a dita viagem,
surrupiava
um naco de carne
do Farnel da Vovó,
só pelo prazer de comer
tão deliciosa iguaria,
pois tempero igual
não existia.

A Justiniaña Vovó
e a Joana Briseides
eram cuidadosas,
e só pediam para parar
o Automóvel
do Motorista Marreco
quando avistavam
uma preciosa
mina d’água fresquinha,
e, mesmo assim,
só autorizavam
a parada
para as refeições,
se a localidade da fonte
fosse aprazível
e bonitinha.

Naquella caminhada,
sobre as rodas do
automóvel cinzento Pontiac,
do final dos Annos Cinquenta
do Ocidental Almanaque,
o automóvel do Motorista Marreco,
muitas recordações maviosas
ficaram no espírito da Jane Mamãe
do Narrar Infantil,
até o final de seus dias na
Terra dos Homens do Brasil Varonil.

Nas recordações
da Dianazinha também!

E nas recordações do Bhima?!!!
Então, nas recordações
do Extra-Terrestre Bonzão,
nem há o que contar!
Durante o Passar do Tempo
- os Annos, os Dias e Noites,
as Horas e os Minutos
e os Segundos -,
ele sempre se lembrava
com saudade
daquele passeio que fizera,
acompanhando
disfarçado de aragem,
é claro!,
o Antônio Aquileu
e sua Família.

Realmente, a Jane Briseides Mamãe
era uma mulher de se tirar o chapéu.

Não é que, durante os Annos todos
de sua Vida na Terra dos Homens,
encantada,
ela cuidara de registrar na memória,
com detalhes,
cada etapa daquela
Viagem Sonhada.

Não se esqueceu, nunca!,
dos nomes das localidades
por onde passaram,
de cada rio,
de cada florezinha do caminho,
e sempre dizia:

“Tá lembrado, Antônio Aquileu!,
do rio Pomba de Urânia,
por onde passamos,
quando de nossa ida a Urucânia?
Você se lembra?,
naquelle dia o rio estava cheiínho.
Era a época da cheia dos rios
e, mesmo assim, graças a Deus!,
não pegamos
nem uma gotinha de chuva
durante aquella Viagem
à moda de Hebreus!
Tá lembrado, Antônio?”

E o Antônio Amoroso Marido,
muito comovido,
balançava a cabeça,
dizendo que sim.

O Bhima bem se lembrava
da dita Mamãe.
Quantas vezes ele se disfarçara
de aragem
– matutina e vespertina –
e se deslocara a direção
ao Grande Terreiro
de Terra Batida
dos Aquileus,
só para ouvir
as diferentes estórias de Mamãe.

A Jane Mamãe contava
e contava
e recontava
as peripécias
de sua Vida de Menina
e Adolescente,
acrescentando
graciosos entrementes,
os quais faziam dos relatos
autênticos contos de fada.

E a Jane Mamãe
era mesmo uma Fada
toda disfarçada de gente,
o Bhima bem o sabia.

E foi numa dessas visitas
que ele ouviu,
pela primeira vez,
a estória da mulher do Padre
de uma desconhecida localidade,
a qual, por ter se enamorado
do tal Padre Encantado,
fazendo-o abandonar a batina,
fora transformada, por Deus!,
em Mula-Sem-Cabeça.

Mas esta estória
da Jane Mamãe
dos Campos de Café e Arroz
contar-lhe-ei bem depois.

Só posso adiantar-lhe
que o Bhima ficou
horas e horas entretido,
escondido
em um cantinho
da Imensurável Cozinha
da Jane Briseides,
apreciando os recontos
graciosos
da dita Mamãe,
orgulhosa,
pomposa,
a narrar o Terrível Caso
da Mula-Sem-Cabeça
Mulher do Padre Reborgosa,
a cretina,
“aquela deslavada!,
sem-vergonha!,
afamada!”
(palavras de Mamãe),
que fizera um Servo de Deus
abandonar a batina.

Depois, eu lhe conto a história...

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