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sábado, 19 de dezembro de 2009

ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO - SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL - 12

NEUZA MACHADO


ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO - SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL - 12

NEUZA MACHADO



O narrador moderno, cujos olhos o obrigavam a ver o momento incógnito de uma novíssima Era desconcertada, amedrontadora, intuiu que, por intermédio de uma perspectiva dialetizada, o seu ato de narrar alcançaria camadas desconhecidas daquela realidade ― que lhe estava próxima ―, escoltado por seu singularíssimo grau de conhecimento do mundo e por sua capacidade de registrar, ao longo de sua narrativa, palavras plurissignificativas, palavras essas que levassem o leitor a pesquisar os seus vários significados, e, com isto, obrigando-o a interagir com a camada oculta do texto ficcional. O inventor desse iniciante ardil ficcional foi Miguel de Cervantes, quando criou a expressão “moinhos de vento”, expressão que remete aos diversos obstáculos enfrentados por seu personagem principal, o Quixote (um herói decaído, impossibilitado de representar os antigos heróis do passado medieval), acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança (o personagem-representante legal, racional, da Era que se iniciava). Como bem se pode avaliar, o achado da maneira de ser da plurissignificação literária é ficcional; a forma poética lírica a adotou, posteriormente, (a poesia lírica, inclusive a renascentista, anterior aos anos finais do século XVI, não é plurissignificativa; possui os fenômenos estilísticos do gênero lírico, mas não se vale da plurissignificação, um fenômeno literário da Era Moderna, a partir da estética barroca).

O ciclo de narradores ficcionais modernos, iniciado a começar de Cervantes, termina aqui no Brasil no final do século XIX e anos iniciais do XX, com as narrativas realista-impressionistas de Machado de Assis a Lima Barreto. Assim, as narrativas ficcionais do século XX, de escritores brasileiros do pós-22, em conformidade com as expressões literárias dos escritores de outros países ocidentais (James Joyce, Kafka e outros), já poderiam ser inseridas, em se tratando de Era, naquela a que denominamos de Pós-Moderna. Segundo os especialistas, há ainda muita dificuldade para um julgamento eficiente sobre o início desta atual Era, pois ela está muito próxima, historicamente, de nossa realidade existencial. Entretanto, penso que o século XX (desde a sua alvorada), presentemente, já poderá ser recebido como o princípio de algo bem diferente da Era anterior. Teria de gastar um tempo distendido para provar tal tese. Por enquanto, não é esta a intenção que me orienta. Mas, de qualquer forma, para o desenvolvimento de minhas reflexões sobre o romance de Rogel Samuel, catalogarei os anos iniciais do século XX como o início desta nova Era, chamada (depois de diversas negações e reprovações) de Pós-Moderna.

Um comentário:

  1. Muito culta, muita erudição, você é uma ensaista de primeira grandeza. Parabéns.

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