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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO - SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL - 11

NEUZA MACHADO


ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO - SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL - 11

NEUZA MACHADO


Pelo meu ângulo visual interativo, o narrador pós-moderno/pós-modernista (e neste momento refiro-me ao escritor-ficcionista enquanto personalidade ativa adstrita ao seu momento histórico) sintetiza a união da forma de narrar tradicional com a forma de narrar modernista, paradigmática, insólita, dos anos trinta do século XX (início da segunda fase do modernismo no Brasil) ao final dos anos sessenta. (Tradicional aqui significa a forma de narrar sintagmática, linear, heróica, dos narradores antigos e medievais, até ao final do século XVI, e alguns posteriores, com aparecimentos esporádicos ─ sem criatividade ─ nas escolas literárias que foram surgindo. É importante o esclarecimento de que não estou a referir-me ao narrador da Era Moderna, das narrativas complexas, nascido a partir das páginas notáveis de Miguel de Cervantes no início do século XVII, o qual vigorou até ao final do século XIX, com as variações próprias de cada momento histórico e suas respectivas estéticas literárias).

Reportando-me à tese de Anaxágoras de Clazomene, de que “o homem pensa porque tem mãos”, revisitada por José Américo da Motta Pessanha, no Prefácio ao Direito de Sonhar, livro de autoria do filósofo francês Gaston Bachelard, repenso esta assertiva de Anaxágoras, permitindo-me transferi-la ao aludido narrador tradicional anterior à Era Moderna. Por este prisma, procuro reavaliar aquele narrador ― horizontal ― que se esforçou por pensar a realidade (recopilando-a literariamente), resguardado por mãos trabalhadoras ligadas ao prazeroso exercício de “bem narrar” (bem escrever), mas, ainda, preso a uma “perspectiva anulada” (Gaston Bachelard), uma perspectiva exteriorizada, superficial, fenomênica. Assim, o pensar em profundidade ficou interditado, porque as “mãos trabalhadoras” dos narradores antigos e medievais e dos novelistas eram mais poderosas e só alcançavam pensar as aparências (não me refiro aos romancistas das seguintes estéticas literárias da Era Moderna). Será importante recuperar o fato de que as novelas em prosa (sintagmáticas, sempre conceituais), diferentes dos romances paradigmáticos da Era Moderna, em seu caminhar histórico até ao momento, não lograram transformar-se em ficção-arte, continuaram lineares, e, aos poucos, perderam aquela graça própria dos narradores iniciais, das novelas ou romances de cavalaria em versos, atualmente, já reconhecidos como narradores épico-medievais.

Entretanto, o narrador moderno descobriu que pensava porque tinha “olhos” e mão poderosa (e, aqui, repito, refiro-me aos criadores excepcionais de um tipo de ficção que começou com Miguel de Cervantes, no início do século XVII), aquele narrador da Era Moderna que instaurou, nos meios intelectuais de então, um gênero literário estreante atualmente conhecido por “narrativa em prosa” ou “narrativa ficcional”, para diferenciá-lo da epopéia (Gênero Épico) e das novelas medievais de cavalaria (lineares) escritas primitivamente em versos (posteriormente, adaptadas em prosa, para o gosto dos nascentes burgueses).

Um comentário:

  1. pensar com as mãos
    é o ato mais sábio
    constroi o mundo
    recorre ao futuro
    eleva o homem
    ao construtor
    pensar com as maos

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