NEUZA MACHADO
IMAGINAÇÃO FORMAL x IMAGINAÇÃO CRIADORA
NEUZA MACHADO
Ainda dialogando com Bachelard ― para o desenvolvimento de minha proposição teórico-interpretativa sobre a criatividade ficcional de Guimarães Rosa ―, reflito nas duas linhas distintas de imaginação destacadas em seus estudos filosóficos: a imaginação que dá vida à causa formal e a imaginação que dá vida à causa material. Essas duas imaginações classificam, separadamente, as forças imaginantes da mente. A imaginação que dá vida à causa formal se submete ao impulso do pensamento que tem desejo de novidade, buscando nas formas exteriores da realidade apenas os aspectos pitorescos e primaveris. A imaginação que dá vida à causa material, ao contrário, escava o fundo do ser, procurando encontrar o primitivo e o eterno. É portanto a imaginação que busca o aprofundamento na substância.
A imaginação que dá vida à causa material (imaginação material) é própria da matéria terrestre. Repleta de imagens estáveis e tranquilas, poderá ser modelada, uma vez que se atém aos aspectos perceptíveis/palpáveis da realidade.
Essas duas linhas da imaginação estão presas à realidade concreta. A imaginação formal se prende à forma exterior da matéria. A diferença é que, enquanto uma (a imaginação formal) se diverte com o inesperado, a outra (a imaginação que dá vida à causa material) quer aprofundar-se na história e buscar na natureza o princípio de tudo, o princípio da própria matéria.
Paralelamente a essas duas imaginações da matéria terrestre, há também a imaginação falada e a imaginação criadora:
A imaginação falada é a imaginação que reproduz a realidade, submetida à percepção e à memória e não pode ser modelada pelas mãos. Ela é modelada pela fala e pela percepção do impalpável. Esse tipo de imaginação não se aplica à matéria terra: é a imaginação das matérias inconsistentes e móveis (a água, o fogo, o ar), composta por imagens instáveis.
A imaginação criadora, ao invés de simplesmente reproduzir, duplica — ou recria — a realidade, produzindo uma nova realidade. Ela não é apenas formada, materializada, falada; ela ultrapassa a realidade, já que, poderosamente criadora, vigora em função do irreal, reconhecendo os valores da solidão. Na imaginação criadora, as imagens são imaginadas, fazem parte do imaginário-em-aberto do indivíduo, pois que se originam do fundo do ser que imagina. O ser, possuidor da imaginação criadora, produz em seu íntimo as imagens que formarão posteriormente uma realidade (literária) diferente da realidade substancial. Assim, a imaginação criadora está indissoluvelmente ligada à imaginação literária (falada/escrita). Há a separação, porque nem sempre os possuidores da imaginação criadora desenvolvem seus talentos literários.
IMAGINAÇÃO FORMAL x IMAGINAÇÃO CRIADORA
NEUZA MACHADO
Ainda dialogando com Bachelard ― para o desenvolvimento de minha proposição teórico-interpretativa sobre a criatividade ficcional de Guimarães Rosa ―, reflito nas duas linhas distintas de imaginação destacadas em seus estudos filosóficos: a imaginação que dá vida à causa formal e a imaginação que dá vida à causa material. Essas duas imaginações classificam, separadamente, as forças imaginantes da mente. A imaginação que dá vida à causa formal se submete ao impulso do pensamento que tem desejo de novidade, buscando nas formas exteriores da realidade apenas os aspectos pitorescos e primaveris. A imaginação que dá vida à causa material, ao contrário, escava o fundo do ser, procurando encontrar o primitivo e o eterno. É portanto a imaginação que busca o aprofundamento na substância.
A imaginação que dá vida à causa material (imaginação material) é própria da matéria terrestre. Repleta de imagens estáveis e tranquilas, poderá ser modelada, uma vez que se atém aos aspectos perceptíveis/palpáveis da realidade.
Essas duas linhas da imaginação estão presas à realidade concreta. A imaginação formal se prende à forma exterior da matéria. A diferença é que, enquanto uma (a imaginação formal) se diverte com o inesperado, a outra (a imaginação que dá vida à causa material) quer aprofundar-se na história e buscar na natureza o princípio de tudo, o princípio da própria matéria.
Paralelamente a essas duas imaginações da matéria terrestre, há também a imaginação falada e a imaginação criadora:
A imaginação falada é a imaginação que reproduz a realidade, submetida à percepção e à memória e não pode ser modelada pelas mãos. Ela é modelada pela fala e pela percepção do impalpável. Esse tipo de imaginação não se aplica à matéria terra: é a imaginação das matérias inconsistentes e móveis (a água, o fogo, o ar), composta por imagens instáveis.
A imaginação criadora, ao invés de simplesmente reproduzir, duplica — ou recria — a realidade, produzindo uma nova realidade. Ela não é apenas formada, materializada, falada; ela ultrapassa a realidade, já que, poderosamente criadora, vigora em função do irreal, reconhecendo os valores da solidão. Na imaginação criadora, as imagens são imaginadas, fazem parte do imaginário-em-aberto do indivíduo, pois que se originam do fundo do ser que imagina. O ser, possuidor da imaginação criadora, produz em seu íntimo as imagens que formarão posteriormente uma realidade (literária) diferente da realidade substancial. Assim, a imaginação criadora está indissoluvelmente ligada à imaginação literária (falada/escrita). Há a separação, porque nem sempre os possuidores da imaginação criadora desenvolvem seus talentos literários.
MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8
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