Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, o "Neuza Machado 2", Caffe com Litteratura e o Neuza Machado - Letras, onde colocamos diversos estudos literários, ensaios e textos, escritos com o entusiasmo e o carinho de quem ama literatura.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

2 – COLONIZAÇÃO MENTAL: SERÁ QUE O BRASIL CONTINUA ASSIM?

NEUZA MACHADO


"Com o passar do tempo, dera-me conta de que a fraqueza maior do Terceiro Mundo estava no plano das idéias: éramos colonizados mentalmente, por um lado, e por outro permanecíamos prisioneiros de velhas doutrinas “revolucionárias” que haviam passado de moda nos centros metropolitanos".[1]

Revistando a História e observando as idéias de Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda e Antônio Cândido, penso que esta colonização mental surgiu a partir de 1939, no decorrer da 2a Guerra Mundial, com o advento do fascismo, do nazismo, e, principalmente, com a elevação dos Estados Unidos em primeira potência mundial. Se o Brasil já era um “país colonizado”, historicamente mal formado, não foi difícil a “colonização mental”, a submissão às idéias externas, diferentes de sua própria realidade.

E foi a partir daí que o Brasil se industrializou e os camponeses começaram a abandonar o campo, buscando melhores condições de vida na cidade. Com isto, os centros urbanos mais visados pelos emigrantes — principalmente, os do Nordeste — se transformaram em cidades superpovoadas, redutos de miséria e degeneração. Nesse ínterim, enquanto o Brasil foi se aburguesando e se submetendo à “colonização mental”, os intelectuais (alguns) procuraram se refugiar na religião, a cultura procurou refletir os problemas do país, os artistas desenvolveram ideais políticos, enfim, a realidade brasileira passou a ser desnudada por uma minoria consciente.

"No dia em que o mundo rural se achou desagregado e começou a ceder rapidamente à invasão impiedosa do mundo das cidades, entrou também a decair, (...), todo o ciclo das influências ultramarinas específicas de que foram portadores os portugueses".

"Se a forma de nossa cultura ainda permanece largamente ibérica e lusitana, deve-se atribuir-se tal fato sobretudo às insuficiências do “americanismo”, que se resume até agora, em grande parte, numa sorte de exacerbamento de manifestações estranhas, de decisões impostas de fora, exteriores à terra. O americano ainda é interiormente inexistente".[2]

Esta desagregação do mundo rural começou no século XIX e atingiu seu ápice nos dois decênios iniciais do século XX. Assim, as reflexões de Sérgio Buarque de Holanda se ajustaram às de Antônio Cândido e Celso Furtado, quanto ao momento em que se iniciou, no Brasil, a consciência de subdesenvolvimento. É importante observar que Sérgio Buarque de Holanda já falava em “decisões impostas de fora” bem antes de Celso Furtado, se comparo as datas em que ambos raciocinaram sobre os problemas internos do Brasil.

[1] Idem: 14
[2] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 11. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977: 127

Nenhum comentário:

Postar um comentário