NEUZA MACHADO
O romance, no início de seu desenvolvimento histórico, foi biografia e crônica, e refletia a sociedade da Era Moderna.
Goldmann postula uma relação entre forma romanesca e a estrutura social em que ela se desenvolveu. As relações econômicas, na sociedade moderna, determinaram as atitudes do homem em relação aos objetos. Se antes o homem medieval se contentava com valores de uso, sistema de primeira onda (utilizando aqui a terminologia de Toffler)[1], com o advento da sociedade moderna burguesa esses valores foram abandonados, em benefício de um sistema no qual o que importa é o lucro, a parte rentável dos objetos transformados em mercadoria destinada ao consumo (o que permanece na sociedade informatizada do século XXI).
As duas estruturas — a do romance e a da moderna sociedade — são semelhantes, porque a trama do romance reproduz o conflito e a solidão do homem do período, além de reproduzir a sua busca desesperada (sem esperança de realização) de valores inalterados.
Para responder a esses valores humanos (resposta camuflada, degradada), a moderna sociedade capitalista (incluindo também a atual: pós-moderna) estabeleceu a mediação da quantidade do valor do capital. Eis porquê os indivíduos gerados por essa sociedade são inautênticos e os heróis do romance também (romance: espelho dessa sociedade).
[1] TOFLLER, Alvin. A terceira onda. 14. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980
MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez. Rio de Janeiro: NMachado, 2006. (ISBN 85-904306-2-6)
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