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sexta-feira, 30 de abril de 2010

3.3 – GUIMARÃES ROSA: MUDANÇAS NO DISCURSO NARRATIVO


3.3 – GUIMARÃES ROSA: MUDANÇAS NO DISCURSO NARRATIVO

NEUZA MACHADO




Em "O Burrinho Pedrês", travestido de contador de estórias, realça a inteligência do decrépito Sete-de-Ouros; a grandeza da Fazenda da Tampa, "onde tudo era enorme e despropositado, três mil alqueires de terra, toda em pastos"; o poderio do major Saulo, "corpulento, quase um obeso, de olhos verdes, misterioso, que só com um olhar mandava um boi bravo se ir de castigo”.

Sustentado pelas imagens da forma (perspectiva anulada - Bachelard) aliadas a uma causa sentimental, e utilizando-se de cinquenta e nove páginas, conta as peripécias de um burrinho num dia de muita chuva, "nos meados do mês de janeiro, no Vale do Rio das Velhas, no centro de Minas Gerais”.

Na narrativa seguinte, realça os traços biográficos de Lalino Salãthiel, o marido pródigo de Maria Rita, trabalhador braçal na construção da estrada-de-rodagem Belo Horizonte-São Paulo. Seu Eulálio, ou Laio, ou Lalino, ou ladino, é um mulatinho sabido, que não percebe (ou finge não perceber) que o colega de trabalho, o Ramiro espanhol, está de olho em sua mulher.

Além de salientar os traços fisionômicos e preguiçosos do personagem, suas aventuras e tropeços, seu retorno ao arraial de origem, refaz a imagem do chefe político do lugar, destacando o poder do Major Anacleto, "homem de princípios austeros, intolerante e difícil de se deixar engambelar” (Sagarana).

O fecho da narrativa se realiza sob as orientações discursivas do humor e da matéria mítica. O Major Anacleto, uma das várias encarnações do poder mítico/político no sertão, se encarrega da reconciliação entre Lalino e Maria Rita.

“No alto, com broto de brilhos e asterismos tremidos, o jogo de destinos esteve completo. Então, o Major voltou a aparecer na varanda, seguro e satisfeito, como quem cresce e acontece, colaborando, sem o saber, com a direção-escondida-de-todas-as-coisas-que-devem-depressa-acontecer. E gritou: — Olha, Estevam: se a espanholada miar, mete a lenha!” (Sagarana).

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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