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quarta-feira, 7 de abril de 2010

2 - O SONHO DO ARTISTA FICCIONAL: ELO DE LIGAÇÃO COM O COGITO(4)


2 - O SONHO DO ARTISTA FICCIONAL: ELO DE LIGAÇÃO COM O COGITO(4)

NEUZA MACHADO



Bachelard discrimina três níveis de pensamento, nomeando-os como cogito(1), cogito(2) e cogito(3). O penso, logo existo cartesiano, de acordo com Bachelard, estaria ligado ao cogito(1), aspecto prático do pensamento. Ao colocar esta assertiva no cogito(1), Bachelard não pretende desmerecer as idéias de Descartes, apenas tem consciência de que o filósofo do século XVII ainda estava vivenciando o início de um novo ciclo na história do pensamento ocidental.

No plano do cogito(1), o sujeito não precisa pensar, simplesmente repete o que já foi pensado antes por alguém mais esclarecido. O cogito(1) estaria portanto ligado às três dimensões do mundo visível (altura, comprimento e largura), repetindo apenas a realidade. Na repetição, ainda segundo Bachelard, a realidade se mantém, não há quebras, só preenchimentos que reforçam o linear. Há uma história sequencial que permite segurança, estabilidade e acomodação.

Falando de uma segunda etapa do pensamento, ou o penso que penso, Bachelard caracteriza um segundo cogito, prevendo ou antecipando ou planejando um pensamento, que vai gerar uma ação inédita, ação esta que se está desenvolvendo e vai chegar a uma evidência posteriormente. O cogito(2) liga-se também ao tempo linear, mas já permite um avanço no tempo vertical, formalizando uma complexidade inicial de pensamento. Com o cogito(2), mesmo ligado às paixões, ao tempo linear, já se começa a verticalizar o pensamento com dúvidas e argumentações.

Imaginando que o plano horizontal esteja ligado à vivência, enquanto realidade, e o plano vertical, ligado à existência, enquanto formalização do ser, e descobrindo com Bachelard um terceiro estágio do pensamento, deduz-se que este pensamento superior concentraria por sua vez os três planos (o que Bachelard denomina como cogito ao cubo) e seria o limite do poder formalizante. Este terceiro estágio do pensamento, ou o penso que penso que penso, ou cogito(3), além de liberar o pensamento da descrição fenomênica, enquanto Doutrina específica, possibilita o indivíduo a nomear as "existências consecutivas”, ligadas às superposições temporais, baseado apenas na intuição.

Bachelard esclarece que seu objetivo é esboçar suas idéias sobre o tempo vertical, desenvolvendo passo a passo o caminho que leva ao tempo infinito, tempo espiritual, o qual só pode ser captado pela intuição. Seu raciocínio se desenvolve com base em uma descrição intuitiva ao nível da inspiração, e, exercitando-a, descobre que esta descrição é perfeitamente adaptável ao tempo presente. Impulsionado por este exercício, procura tornar acessível a sabedoria do espiritual, adaptada ao tempo do pensamento.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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