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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

CECÍLIA MEIRELES E SEU "ROMANCEIRO" PÓS-MODERNO: ROMANCE LXXXI OU DOS ILUSTRES ASSASSINOS


CECÍLIA MEIRELES E SEU “ROMANCEIRO” PÓS-MODERNO: ROMANCE LXXXI OU DOS ILUSTRES ASSASSINOS

NEUZA MACHADO

Nossos olhos críticos fazem, agora, o julgamento dos assassinos dos inconfidentes, cumprindo o vaticínio da poetisa “e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos”. Para esse julgamento, para abrirmos nossos “grandes olhos pensativos”, não nos bastará conhecer a versão oficial da história daqueles anos do final do século XVIII, será necessário interagirmos reflexivamente com o contexto que impulsionou as ações dos personagens históricos, literariamente revividos pela força anímica das imagens poéticas. Lendo o Romanceiro da Inconfidência, mas conscientemente respaldados por nosso imaginário-em-aberto, somos transportados àquele instante, para ajuizadamente fazermos nossa própria avaliação transtemporal.

E a reflexão histórico-poética projetada pelo Romanceiro de Cecília Meireles servirá para aprofundar o entendimento sobre o que ocorre hoje no Brasil, no que diz respeito à ascensão sócio-econômica da maioria de sua população anteriormente considerada de baixíssimo nível social, uma população que até há pouco tempo se encontrava em situação de extrema pobreza. Infelizmente, a idéia de repartir o pão fraternalmente, neste nosso país tão vasto e tão repleto de riquezas naturais, é algo que gera descontentamento nas classes ditas abastadas. As riquezas de nosso solo ainda são disputadas pela minoria mais endinheirada de nossa sociedade. De qualquer maneira, para a minha satisfação e gáudio, essa minoria pode até ser mais rica do que a de outrora, mas, graças aos Céus!, não é mais tão poderosa como antes. O poder inquestionável do passado existia porque o povo não conhecia a sua própria força para mudar os rumos da história. A atual perspectiva sócio-econômica instaurada pelo Presidente Metalúrgico possibilitou uma nova identidade para o povo, uma identidade coesa e consciente, capaz de agir para o bem da COMUM-UNIDADE.

Aos internautas conscientes, peço que leiam o ROMANCE LXXXI OU DOS ILUSTRES ASSASSINOS, da autoria de nossa grande poetisa Cecília Meireles, para que julguem com seus próprios meios interpretativos a sanha dos assassinos dos inconfidentes, e para que façam uma comparação criteriosa entre o momento passado e o momento presente.


ROMANCE LXXXI OU DOS ILUSTRES ASSASSINOS

Cecília Meireles

Ó grandes oportunistas,
sobre o papel debruçados,
que calculais mundo e vida
em contos, doblas, cruzados,
que traçais vastas rubricas
e sinais entrelaçados,
com altas penas esguias
embebidas em pecados!

Ó personagens solenes
que arrastais os apelidos
como pavões auriverdes
seus rutilantes vestidos,
– todo esse poder que tendes
confunde os vossos sentidos:
a glória, que amais, é desses
que por vós são perseguidos.

Levantai-vos dessas mesas,
saí de vossas molduras,
vede que masmorras negras,
que fortalezas seguras,
que duro peso de algemas,
que profundas sepulturas
nascidas de vossas penas,
de vossas assinaturas.

Considerai no mistério
dos humanos desatinos,
e no polo sempre incerto
dos homens e dos destinos!
Por sentenças, por decretos,
pareceríeis divinos:
e hoje sois, no tempo eterno,
como ilustres assassinos.

Ó soberbos titulares,
tão desdenhosos e altivos!
Por fictícia austeridade,
vãs razões, falsos motivos,
inutilmente matastes:
– vossos mortos são mais vivos;
e, sobre vós, de longe, abrem
grandes olhos pensativos.

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