CECÍLIA MEIRELES E SEU “ROMANCEIRO” PÓS-MODERNO: ROMANCE IX OU DO VIRA-E-SAI [INVOCAÇÃO A SANTA IFIGÊNIA]
NEUZA MACHADO
O poema narrativo de Cecília Meireles, independente de sua classificação genérica, relacionada com o Gênero Épico (uma vez que apresenta os fenômenos estilísticos vinculados a uma epopéia em versos), inclui uma camada literária subjetiva singularmente plurissignificativa (própria do Gênero Lírico). Por intermédio desta segunda camada, os meus leitores-internautas terão a oportunidade de repensar reflexivamente - conscientemente e espiritualmente - os atuais problemas sócio-culturais que afetam os ambientes humanos menos desenvolvidos.
Por tal razão, hoje, neste meu blog, o canto escolhido (Canto de Súplica à Proteção de Santa Ifigênia) é o que tem a ver com o contexto geo-político de todos os povos monetariamete desprestigiados pela sorte benfazeja em confronto com as engrenagens do Sistema Sócio-Ecônomico Mundial.
O texto de Cecília Meireles, escrito em meados do século XX, se refere aos negros escravos do Brasil-Colônia submetidos aos desmandos de poderosos donos de terras da rica região do Estado de Minas Gerais, dos anos finais do século XVIII. Entretanto, devido ao seu alto grau de plurissignicação, o mesmo oferece reflexões pertinentes aos atuais problemas que afetam o mundo como um todo. Estou convencida de que os meus leitores-eleitos saberão interagir com as cecilianas mensagens sublineares do Canto IX do Romanceiro da Inconfidência.
NEUZA MACHADO
O poema narrativo de Cecília Meireles, independente de sua classificação genérica, relacionada com o Gênero Épico (uma vez que apresenta os fenômenos estilísticos vinculados a uma epopéia em versos), inclui uma camada literária subjetiva singularmente plurissignificativa (própria do Gênero Lírico). Por intermédio desta segunda camada, os meus leitores-internautas terão a oportunidade de repensar reflexivamente - conscientemente e espiritualmente - os atuais problemas sócio-culturais que afetam os ambientes humanos menos desenvolvidos.
Por tal razão, hoje, neste meu blog, o canto escolhido (Canto de Súplica à Proteção de Santa Ifigênia) é o que tem a ver com o contexto geo-político de todos os povos monetariamete desprestigiados pela sorte benfazeja em confronto com as engrenagens do Sistema Sócio-Ecônomico Mundial.
O texto de Cecília Meireles, escrito em meados do século XX, se refere aos negros escravos do Brasil-Colônia submetidos aos desmandos de poderosos donos de terras da rica região do Estado de Minas Gerais, dos anos finais do século XVIII. Entretanto, devido ao seu alto grau de plurissignicação, o mesmo oferece reflexões pertinentes aos atuais problemas que afetam o mundo como um todo. Estou convencida de que os meus leitores-eleitos saberão interagir com as cecilianas mensagens sublineares do Canto IX do Romanceiro da Inconfidência.
ROMANCE IX OU DE VIRA-E-SAI
Cecília Meireles
Santa Ifigênia, princesa Núbia,
desce as encostas, vem trabalhar,
por entre as pedras, por entre as águas,
com seu poder sobrenatural.
Santa Ifigênia levanta o facho,
procura a mina do Chico-Rei:
negros tão dentro da serra negra
que a santa negra quase os não vê.
Ai destes homens, princesa núbia,
rompendo as brenhas, pensando em vós!
Que as vossas jóias, que as vossas flores
aqui se ganham com ferro e suor!
Santa Ifigênia, princesa núbia,
pisa na mina do Chico-Rei.
Folhagens de ouro, raízes de ouro
nos seus vestidos se vêm prender.
Santa Ifigênia fica invisível,
entre os escravos, de sol a sol.
Ouvem-se os negros cantar felizes.
Toda a montanha faz-se ouro em pó.
Ninguém descobre a princesa núbia,
Na vasta mina do Chico-Rei.
Depois que passam o sol e a lua,
Santa Ifigênia passa também.
Santa Ifigênia, princesa núbia,
sobe a ladeira quase a dançar.
O ouro sacode dos pés, do manto,
chama seus anjos, e vira-e-sai.
(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. 13. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989: 64 - 65)
Cecília Meireles
Santa Ifigênia, princesa Núbia,
desce as encostas, vem trabalhar,
por entre as pedras, por entre as águas,
com seu poder sobrenatural.
Santa Ifigênia levanta o facho,
procura a mina do Chico-Rei:
negros tão dentro da serra negra
que a santa negra quase os não vê.
Ai destes homens, princesa núbia,
rompendo as brenhas, pensando em vós!
Que as vossas jóias, que as vossas flores
aqui se ganham com ferro e suor!
Santa Ifigênia, princesa núbia,
pisa na mina do Chico-Rei.
Folhagens de ouro, raízes de ouro
nos seus vestidos se vêm prender.
Santa Ifigênia fica invisível,
entre os escravos, de sol a sol.
Ouvem-se os negros cantar felizes.
Toda a montanha faz-se ouro em pó.
Ninguém descobre a princesa núbia,
Na vasta mina do Chico-Rei.
Depois que passam o sol e a lua,
Santa Ifigênia passa também.
Santa Ifigênia, princesa núbia,
sobe a ladeira quase a dançar.
O ouro sacode dos pés, do manto,
chama seus anjos, e vira-e-sai.
(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. 13. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989: 64 - 65)
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