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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 1

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 1

NEUZA MACHADO

Os antigos habitantes de Divino do Carangola, em Minas Gerais, lugar que sinaliza as minhas origens familiares, apreciavam recontar as histórias acontecidas na região. Entretanto, para valorizarem os relatos, os contadores de “causos” mineiros sempre colocavam um ingrediente a mais, um “misteriozinho” envolvente, para incitar a curiosidade dos ouvintes e para oferecer também um sabor de novidade ao acontecimento, oferecendo assim um narrar merecedor da atenção da platéia.

Meu Avô Emiliano Martins (que residiu em várias localidades adjacentes à Região de Divino ― São João do Norte, Alto da Conceição, Fortaleza e Gruta da Liberdade de Divino) foi um conceituado Contador de Estórias Misteriosas. Minha Mãe Joana herdou de seu Pai Emiliano a vocação de Contadora de Estórias Misteriosas também, muitas delas ouvidas nos Serões Familiares e outras inventadas e reinventadas ad infinitum. A história da “Mão Cabeluda”, que foi reaproveitada por mim em As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens (leiam a narrativa que já foi postada neste mesmo Blog; buscar em Marcadores do Blog), por exemplo, encantava-me nos meus tempos de criança. Eu adorava ouvir a minha Mãe Joana (quando ela estava de bom humor!) contando as histórias acontecidas no Passado. É bem verdade que o meu Pai Antônio de Sousa Costa recontou a história da “Mão Cabeluda” de forma diferente em seu livro A História de Antônio (muito em breve, postarei a História escrita por meu Pai em um de meus Blogs; podem aguardar!). As Estórias de Mistérios são assim mesmo! É preciso oferecer crédito à expressão popular: “A cada conto, aumenta-se um ponto”.

E, apenas para Vocês apreciarem o meu reconto da “História da Mão Cabeluda”, do Passado Antigo da Localidade Divinense - século XIX, muito conhecida lá pelos lados do Córrego da Gruta da Liberdade e Córrego dos Teixeiras, reapresento-lhes o capítulo, apresentado na minha narrativa As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens.


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS - CAPÍTULO VIII

Neuza Machado


De acordo com as fantásticas narrativas da Sábia Väjira Diamante, conhecedora d’As Aventuras Terrestres de Bhima, passo a relatar-lhe o episódio da Mão Cabeluda, uma história muito conhecida dos serranos mineiros da Gruta da Liberdade Encantada, localizada em um lugar paradisíaco do Divino do Carangola de Minas Gerais muito amada. Mais ou menos assim, contou-me a Sábia Väjira Diamante de Cabelo Abundante Faiscante:

“Naquele dia, o Bhima resolveu visitar a Gruta Esplendorosa da Mão Cabeluda Super’Anosa. Os habitantes daquele Alto de Serra Mineiro costumavam contar (nos longos serões das noites de Sábado, iluminados pelos fachos de fogo das lamparinas de querosene) que, naquela Gruta Maravilhosa, localizada ali bem perto, encontraram um dia uma grande mão cabeluda, ainda intacta, trazendo no dedo pai-de-todos um preciosíssimo anel de ouro, e, incrustado nele, uma belíssima pedra de jade em forma de lâmina de machado. Os habitantes do alto serrano eram todos camponeses, lavradores da terra do delicioso café, e não entendiam o mistério daquela grande mão cabeluda. “Como ela fora parar ali?, se naqueles últimos annos, ninguém do lugar soubera de alguma morte misteriosa envolvendo alguém do lugar?, ou mesmo de alguma briga, na qual alguém das redondezas tivesse perdido a mão direita? Como aquela mão se conservara intacta por tanto tempo, sem ter sofrido a ação destruidora do mesmo e a voracidade dos vermes?”, assim se perguntavam os habitantes do lugar. A mão cabeluda era um mistério para aqueles serranos humildes, os quais moravam nas proximidades da Gruta. Por isto, o Bhima, que muito os amava, e ouvia sempre seus espantos ante as forças desconhecidas, digo, ouvia sempre seus questionamentos sem as corretas respostas culturalmente abalizadas, resolveu visitar a Gruta da Mão Cabeluda, ou melhor dizendo, visitar a Mão Cabeluda que, ainda, jazia inerte no interior da Gruta Misteriosa.

Ele sabia, muito bem!, a procedência daquela mão e a força poderosa que emanava do preciosíssimo anel de jade. Mas, ele não poderia, jamais!, avisar aos habitantes do lugar que a enorme mão cabeluda estava ali para os proteger, e que, em tempo algum!, lhes faria mal. Não!, ele não poderia nunca avisar-lhes de viva voz, mas, quem sabe?, poderia soprar-lhes alguma mensagem através do vento? Afinal de contas, em seu passado remoto, na Antiga Índia, ele, Bhima, se materializara quomodo um semi-humano, filho do deus do vento e da rainha Kunti (esposa do rei Pandu). Mas, isto já fora há tanto tempo!, o Bhima já quase não se lembrava daquela época. Para se lembrar, ele acionava o botão de sua fabulosa Tela do Passado, aquele presente inigualável recebido do Supremo Senhor milênios-luz atrás. Às vezes, entretinha-se em rever, no grande telão de sua Vimana, as cenas daquela sua vida de semi-humano, tão bem registradas em versos épicos, posteriormente, pelo Mago Vyasa. Sim!, ele poderia enviar, aos habitantes do lugar, uma mensagem alada, por intermédio do vento. Mas, se assim o fizesse, poderia ser castigado pelo Supremo Senhor, já que este avisara-lhe, terminantemente, que, jamais!, em tempo algum!, ele poderia se imiscuir na dinâmica de vida dos seres humanos. De qualquer maneira, naquele momento, já se encontrava diante da Mão Cabeluda, trilenária, mas que se conservava intacta, como se tivesse sido decepada recentemente. Só que aquela mão, Bhima bem o sabia!, não fora decepada, mas sim modelada pela Suprema divindade e colocada ali, naquela Gruta Mágica de Minas Gerais, e representava a própria mão do Senhor de Indizível Valor, numa clara demonstração de que, aquele povo serrano, sempre!, milhões de vezes sempre!, receberia a Suprema Proteção de sua Suprema Amizade. Aquele povo alcançara o favor do Supremo Senhor, e todos os humanos que comungavam com a mesma forma de falar e se comunicar, também, receberiam as bênçãos da Suprema Supremacia. Quanto ao anel de ouro e jade, Bhima bem o sabia!, representava a união entre o Supremo da Paz Desejada e os habitantes daquela terra abençoada. O ouro representava a Proteção, e o jade representava a Realização. A pedra preciosa em forma de machado afiado representava a perene atividade galática em favor dos serranos altaneiros, mas representava também um instrumento de punição com ação para com os ocultos ferozes inimigos dos mesmos.

Enquanto olhava fixamente aquela incrível mão, com seus grandes e amendoados e brilhantes olhos de Extra-Terrestre Bonzinho, o Solitariozinho pode avaliar a grandeza sem-igual do Supremo Senhor. De vez em quando, naqueles milhares e milhares e milhares de annos-luz, a Incrível divindade se preocupara em proteger alguns grupos humanos. Aquela mão e o anel de jade simbolizavam o seu Supremo Amor para com os menos favorecidos socialmente, portanto, representavam a Suprema Aliança de Suprema Proteção do Supremo Senhor para com os deserdados da Terra. Por esta razão, os serranos, mesmo sem compreender bem os desígnios do Altíssimo, mesmo sem compreender bem o valor daquela mão encontrada na Gruta de Verdes Ramagens Brilhantes, Encantada, jamais!, repito, jamais!!!, ousaram desvencilhar-se dela. Ali, ficara aparentemente esquecida; ali, ficaria até o fim dos tempos terrenos, mas, enquanto não!, seria sempre relembrada nas noites de Lua Cheia, digo, nas noites de sábado, quando os mais velhos, repletos de respeitoso temor, narrariam, para os mais jovens, a existência da Mão Cabeluda, achada intacta e misteriosa naquela Estranha Gruta que exalava um ar de pura maravilha, quando os mais velhos falariam aos mais jovens sobre uma imensa Mão Cabeluda, insolitíssima, na qual se constatava a existência de um precioso anel de ouro e jade. Entretanto, o Bhima bem o sabia!, eles só não explicariam aos mais jovens o porquê de não terem eles avistado a tal Mão Cabeluda. Mas, que ela existia, existia!

Depois da visita, o Solitariozinho Intergalático recolheu-se à sua Vimana, esquentou seus pezinhos com grossas meias de algodão compradas na Cidade do Divino Espírito Santo de Minas Gerais, em virtude do frio que ali fazia naquele mês de junho, e aconchegou-se em sua sonhadora caminha flutuante azulada, cobrindo-se com volumosos cobertores de lã de carneiro, para, enfim, desfrutar de mais um dia na Terra dos Homens. No dia seguinte, o Bhima bem o sabia!, novas aventuras estariam à sua espera, quando, dentro de sua Poderosa Vimana Voadora, quebraria mais uma esquina aérea das narrativas prosopopaicas do Século XXI, entre as inúmeras nuvens escurecidas e perigosas, as quais, naqueles dias de guerra, em outra parte do Mundo, estavam a rodear, sinistras, aquele Terceiro Anno do Terceiro Milênio.

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