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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 4

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 4

NEUZA MACHADO

(Divino – Minas Gerais – Foto do Alcir)
www.ferias.tur.br



Os melhores e magníficos momentos de lazer de minha infância e adolescência foram passados em Divino de Carangola. Minha avó Justiniana de Amorim, depois do falecimento de seu esposo Emiliano Martins, fixou residência nas terras de seu genro Antônio de Barros, em uma localidade chamada Córrego da Gruta da Liberdade (nas imediações do Município de Divino). Da preciosa Cidade de Divino (Minas Gerais), uma Cidade que ainda conserva resquícios arquitetônicos de meados do século XIX, resguardo carinhosas lembranças. Lembro-me sempre das férias de julho, quando meu pai levava-me para a casa de minha avó, e eu ali ficava a livrar-me por uns dias da permanente vigilância de Jane Mamãe (minha mãe era terrivelmente possessiva e autoritária). E os momentos de lazer foram muitos.

Entre as inúmeras lembranças, realço as amabilidades de meus tios, tias, primos e primas, que se esmeravam em proporcionar-me momentos inesquecíveis, gratificantes.

Minhas primas Nelci e Ildaci, filhas de minha tia Luzia Debossan (Debossan: sobrenome do esposo de minha tia Luzia, oriundo de uma família suíça, o meu querido tio Adelino), foram as minhas companheiras nas brincadeiras infanto-juvenis, nas épocas das férias escolares. E o mais interessante de toda esta história: justamente na primeira semana de julho era realizada a Exposição Agro-Pecuária de Divino (ainda é). Meu tio Adelino Debossan, no domingo de muito frio da primeira semana do mês de julho, depois de levar-nos à missa das crianças (na magnífica Matriz do Divino Espírito Santo), premiava-nos com uma tarde de muita comilança e divertimentos mil na dita Exposição. No tal dia, o meu tio Adelino gastava um bom dinheirinho para alegrar-nos. Se bem me lembro, ele não deixava de comprar, para mim e suas duas filhas, bolas de assoprar coloridas e balas de açúcar, também coloridas de formatos diversos, tigelinhas de canjica doce bem quente (para espantar o frio abaixo de zero e para esquentar divinamente nossos estômagos famintos, de crianças saudáveis). E tinha também a Roda-Gigante e outros brinquedos no Parque da Exposição. Visitávamos os currais dos animais vencedores, os espaços reservados aos legumes vencedores (os maiores legumes colhidos pelos Fazendeiros da Região), etc. Era uma festa grandiosa, asseguro-lhes! (muito mais grandiosa se avaliarmos o ponto de vista das crianças felizes), com Cantores Sertanejos de Minas e São Paulo, especialmente contratados para a animação do Evento.

No final do mês de julho, eu voltava para a minha residência de Carangola, em tempo de divertir-me a valer, com meus irmãos mais velhos, na Exposição Agro-Pecuária de Carangola (realizada na última semana de julho, para não concorrer com a Festa de Divino e para fechar com chave-de-ouro as férias escolares da região).

Graças a essas lembranças imperecíveis, consegui trazer o Bhima Voador do Sábio Vyasa da Índia Antiga até ao Século XXI do Início do Terceiro Milênio.

Aqui reapresento-lhes o capítulo (o texto completo se encontra a disposição do Leitor neste mesmo Blog; buscar As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens em Marcadores do Blog):


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: A EXPOSIÇÃO AGRO-PECUÁRIA DE DIVINO

Neuza Machado


“Naquele dia, o Bhima estacionou a sua Vimana Maravilhosa Voadora na pracinha da Cidade do Divino Espírito Santo do Carangola e, ali, ficou horas e horas entretido, apreciando incognitamente a movimentação do lugar. Diante dele estava parada uma charrete dourada, com um magnífico cavalo branco-azulado, inquieto, esperando o dono, que fora até ao Bar para relaxadamente tomar uma cachacinha mineira branquinha. O cavalo, bellíssimo, por sinal!, estava de pé, coitado!, digo, estava sobre as quatro patas, coitado!, também, assim quomodo estava a charrete, esperando a volta do dono. Enquanto não, o pobre espantava as moscas incômodas com o seu grande e volumoso rabo. O cansaço do pobrezinho era visível, porque, de vez em quando, ele levantava a pata direita de trás, incomodado com a longa espera. Quando se cansava de ficar equilibrando-se apenas com as três patas, o coitadinho suspendia, por uns centímetros e minutinhos, a pata esquerda de trás. Enquanto observava os movimentos do animal, o Solitariozinho olhava as várias pessoas divinenses que estavam ao redor da pracinha, enquanto outras passeavam nos caminhos dourados por entre os canteiros de flores. Alguns habitantes do local conversavam animadamente. Tinha um, então, que alugava os ouvidos do senhor sentado no banco da Rodoviária Olavo de Souza Moreira, e que falava sem parar. O assunto girava sobre os diversos acontecimentos da região, e o dito homem comentava sobre sua vida e sobre a vida de vizinhos de sua localidade natal, além de tecer comentários sobre a Grandiosíssima Exposição, a qual seria realizada dali a um mês.

A Exposição era o motivo de orgulho sincero daquele povo divinense mineiro. No dia esperado, o qual já estava bem próximo!, os melhores e vigorosos animais domésticos seriam apresentados ao público; a população já estava a espera dos rodeios e touradas de entretenimento, uma vez que o povo, muito religioso!, não admitia touradas que maltratassem os animais. Além dos rodeios e touradas, os mais estupendos legumes, cultivados por mãos amorosas, seriam apresentados ao público. Cantores viriam de São Paulo, para a animação da Grande Festa, uma espécie de alegre comemoração oriunda das Grandes Festas Dionisíacas, quando o povo da Antiga Grécia confraternizava-se, para a celebração de mais um anno de muita fartura, com aqueles antigos celeiros repletos de saudáveis alimentos. Parques de Diversão seriam armados, para o entretenimento de adultos e crianças, e barracas e barracas de comidas gostosas, as comidas saborosas da famosa Culinária das Minas Gerais, espalhariam-se ao redor do Grande Campo destinado às Exposições Anuais. A incomparável Exposição Agropecuária daquela incomparável Cidade era, realmente, um grande acontecimento, e o Bhima, com toda a certeza, estaria presente no dia da festa. Enquanto não, continuava a apreciar o movimento da Praça Central, aquela Praça Majestosa!, orgulhosa de suas estupendas árvores frondosas esplendorosas.

Naquele dia, o Bhima reparou bem!, a discípula da Sábia Väjira Diamante dos Curtos Cabelos Enrolados Revoltos Abundantes Vermelhos e Brilhantes estava ali, também, na pracinha da Cidade do interior mineiro, esperando o ônibus Mileum que a levaria de volta ao Rio de Janeiro. A Veneranda estava sentada no banco da Rodoviária local, também apreciando a tal movimentação do lugar, talequal o Extra-Terrestre Bonzinho; mas, diferente dele, a Venerável escrevia sem parar. Dado ao seu natural curioso, pensou: “O que esta dona tanto escreve? Será que ela é meio parente distante do Sábio Vyasa da Índia Brilhante?, aquele homem que conheci, há milênios, e que gostava tanto de escrever?” Só que não sabia que, talequal ele o próprio, as pessoas do lugar também observavam a veneranda, e, dentro de si, faziam as mesmas perguntas: “o que será que esta dona tanto escreve?”

Diante deles, digo, diante do Bhima Invisível e também da Veneranda Diana, as pessoas conversavam curiosas, enquanto esperavam os diversos ônibus, para as diversas localidades ao redor (Santa Margarida, Leopoldina, Muriaé, Carangola, Luísburgo, São João do Manhuaçu, Orizânia, etc.), e demonstravam uma certa agitação, algo muito natural por aquelas bandas, quando alguma coisa, oposta aos costumes do lugar, os incomodava. Realmente, a Veneranda não possuía, nem um pouquinho!, o jeito de ser dos habitantes da região. Notava-se, de longe!, que ela já possuía outros costumes de vida, por seu espírito animado, sua forma liberal de se portar em público, sua espontânea naturalidade, por ser uma velha muito dinâmica e prafrentex, diferente das mulheres dali, secularmente submetidas aos dogmas patriarcais. Sim!, a Veneranda era diferente, mas, percebia-se que estava integrada àquela Cidade, pois parecia muito à vontade, sentada naquele banco da Rodoviária mineira, como se fosse parte inerente daquele lugar. E, realmente, era!, o Bhima bem o sabia. Assim, não foi com surpresa espantosa que ele viu a Veneranda conversando com uma jovem senhora da região, sentada ao seu lado, tendo ao colo um bonito bebê, enquanto a filhinha de oito annos (da jovem, bem entendido), mais ou menos, entretinha-se com o seu caderno e lápis de cor, desenhando ininteligíveis figuras, as quais nem mesmo a Veneranda tinha o poder de decifrar. Então, a Veneranda comprou um picolé de vinte e cinco centavos para a menina. Então, as três continuaram conversando animadamente, já que a Velhíssima abandonara temporariamente o seu caderno de anotações e a sua mágica caneta esferográfica comprada no Deslumbrante Bazar das Minas Gerais. Então, o ônibus da jovem senhora com seu filhinho e filhinha chegou. Então, ela se despediu da Veneranda Discípula da Sábia do Sábio e viajou para longe, e nunca mais as duas iriam se reencontrar no Futuro Distante Sem-Muro. Então, a Veneranda retomou a sua mágica escrita, e as pessoas do lugar continuaram a observá-la de longe. E, quanto ao Bhima, ele esperou o ônibus do Rio de Janeiro chegar, apreciou a Veneranda Discípula da Sábia se acomodar, deu-lhe um discreto adeusinho, o qual ela nem percebeu, coitadinha!, viu o ônibus se movimentar em direção à BR-116 do esburacado trajeto rodoviário de 2003, não muito exemplar, pediu ao Senhor Supremo que levasse a amiga sã e salva até ao Rio de Janeiro das Batalhas Diárias, e, por último, retornou à sua cômoda e aconchegante caminha limpinha e flutuante, bem quentinha, no interior de sua Maravilhosa Vimana Voadora e Esplendorosa Muito Bonitinha. E foi descansar, porque fazia um frrrrrriiiiiio tremendo!, de tiritar sem parar, sem sair do lugar. No dia seguinte, já descansado, ele iria se preparar para viver, à moda dos terráqueos, novas aventuras de arrepiar na Terra dos Homens Massificados do Início do Terceiro Milênio Praláde Agitado.

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