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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 2

DE VOLTA PARA O PASSADO: DIVINO ESPÍRITO SANTO DO CARANGOLA - LUGAR SAGRADO DOS ANCESTRAIS - 2

NEUZA MACHADO

Ainda inspirada nos contos e recontos de minha Família Materna de Divino do Carangola, em Minas Gerais, recriei, em minha narrativa As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens, a “História da Montanha Oca da Serra dos Carolas”.

No meu tempo de criança, os meus pais, em dias especiais, costumavam sair de Carangola para visitar os parentes de Jane Mamãe, os descendentes de meu Bisavô José Damásio de Amorim da Serra dos Carolas, uma localidade perto da Cidade de Divino.

Ali, enquanto os mais velhos se entretinham contando “causos” misteriosos “de arrepiar”, eu me aconchegava ao colo de meu pai, só para ouvir aquelas “estórias extraordinárias”, tão bem relatadas pelos moradores do lugar. Em uma dessas visitas de cerimônia, obtive o conhecimento da História da Montanha Oca, que era, na verdade, uma altíssima pedra, uma rocha localizada nas imediações da residência campestre de um tio de minha mãe, o tio Nicolau.

Depois de ouvir a História da Montanha Oca, fui brincar com outras crianças ― filhos e filhas das primas de Jane Mamãe ― ao redor da dita pedra, muito alta e lisa. No decorrer da brincadeira, jogávamos pedrinhas na rocha, para ouvirmos o tal som que emanava do interior da pedra em ecos redobrados.

Realmente, a rocha deveria possuir alguma cavidade interna, mas a abertura-portal de uma provável caverna não se visualizava. Entretanto, o som das pedrinhas ao contato com a rocha era algo muito estranho. O extraordinário barulho (dos sons que se multiplicavam) produzia também, em grande quantidade, relatos campesinos que se iam diferenciando infinitamente. Desses passeios de meus pais, em visitas aos parentes de minha mãe, guardei valiosas lembranças e recordações. As muitas “estórias” que ouvi em meu tempo de criança, prazerosamente recebidas e armazenadas em minha memória, foram devidamente reaproveitadas por mim em minhas narrativas de Aventuras. É bem verdade que as desrealizei, pois elas adquiriram formas diferentes. Mas, a Fonte de Siloë de meu tempo de criança permaneceu (e permanece) límpida e indestrutível...

Então! Foi dessa “Fonte” que “gotejou” o envolvimento do Extra-Terrestre Bhima com a Montanha Oca da Serra dos Carolas.

Apresento-lhes o capítulo (o texto completo se encontra a disposição do Leitor neste mesmo Blog; buscar As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens em Marcadores do Blog):


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS - "A MONTANHA OCA DA SERRA DOS CAROLAS"

Neuza Machado


“Naquele dia, o “Bhima voou com sua Vimana num raio imenso, que tinha o clarão do sol e cujo ruído era como o trovejar de um temporal”. Estas palavras, descrevendo As Celestiais Aventuras de Bhima Guerreiro e Seus Irmãos, em um certo período milenar da História do Mundo, foram gloriosamente escritas pelo Sábio Vyasa, na Índia Antiga.

Quomodo já lhe informei, a Sábia Väjira sempre admirou, e muito!!!, a encantadora criação literária do referido Sábio. Em verdade, três vezes!!! verdadeira, o Sábio indiano e a Sábia mineira, em um passado não muito remoto, tornaram-se muito amigos, entendiam-se por intermédio daqueles longos serões de compridas leituras sem-fim. Então, foi assim que a Sábia Väjira ficou sabedora da existência de Bhima Resplandecente Angelical Querubim, tornando-se, portanto, a sua mais fiel admiradora. Graças a esta fidelidade literária, pude partilhar com a Sábia, na qualidade de discípula curiosa, o conhecimento correto da existência daquele que fora considerado, em um certo momento da História Oriental, o mais poderoso entre os poderosos. Orgulho-me de tê-la tido quomodo minha Mestre, pois foi graças a lendária Väjira que me interessei em acompanhar de perto As Aventuras do Extra-Terrestre Bonzinho, por meio de uma raríssima intuição quanto à sua extraordinária presença, voando incognitamente pelos céus da esfera terrestre, e pelos céus do Brasil Varonil, em pleno final do Segundo Milênio, e já apreciando aterrado os acontecimentos do início do Terceiro Milênio. Assim, recordando-me das encantadoras narrativas da Sábia Väjira do Multicolorido Manto de Pano Cetim, passo a recontar-lhe tim-tim-por-tim-tim o que aconteceu com o Bhima, quando ouviu de Jane de Ogiges Briseides Martins Damásio D’Amorim, a Jane Mamãe, a Mamãe da Diana Andarilha das Estórias Sem-Fim, pela primeira vez, a História da Montanha Oca da Serra dos Carolas Divinais de Minas Gerais.

Pois acredite neste meu reconto, porquanto, naquele dia, o Bhima voou, em sua Maravilhosa Vimana de Estimado Querubim, até às redondezas da residência de Antônio de Sousa Aquileu, filho do Venerável Ancião José de Souza Peleu, um conceituado Fazendeiro do Antigo Arraial do Choro Mineiro, hoje o lugar é mais conhecido pelo nome de Santo Antônio do Arrozal, pertinho de Divino do Carangola, uma Cidade fenomenal; pois então, naquele momento sublime do Século XX, Bhima voou até às redondezas da casa do Antônio de Sousa Aquileu, por apelido glorioso Antoinzim Tocador de Trombone, de Violão, de Cavaquim e Bandolim só para ouvir as curiosas estórias de Jane Martins de Ogiges Briseides Damásio D’Amorim.

Há muito!, ele se interessara pelas ocorrências vitais daquela família, principalmente, constantemente, entretinha-se em se disfarçar de aragem vespertina, só para ouvir as tais histórias, as quais a Jane Briseides Mamãe, a esposa do referido Antônio, costumava contar à sua filhinha Diana Caçadora Valente Proprietária de Cem Cachorros Malteses Invisíveis Mordentes, com aqueles entretantos narrativos que somente ela sabia expressar. A menina era muito curiosa (e o Bhima também!), e gostava de ouvir as narrativas das velhas lendas mineiras, que povoavam o seu universo sócio-familiar, incríveis narrativas que, tããão bem!!!, e encantadoramente!, sua Mamãe sabia recontar. Também pudera!, a Jane Mãezinha era filha do Venerando Ancião Emilianno de Brises Contador de Estórias da Carochinha, aquele da Árvore da Mortalha Velhinha. Tá lembrado? Por esta razão, inúmeras vezes, o Bhima estacionava a sua Vimana Maravilhosa nas proximidades, só para ouvir os interessantes relatos, lendários e insólitos, os quais se tornavam mais interessantes, quando a Jane resolvia recontá-los.

Assim, naquele dia, antes de sair do seu Recanto Paradisíaco Tropical, aquele lugar de pura maravilha, sem-igual, o qual ele havia escolhido para ali residir por uns tempos, antes de sair de seu recanto de paz, o Solitariozinho colocou um silenciador de motor de automóveis do Século XX em sua Vimana, outrora muito barulhenta, de acordo com as sábias palavras do Sábio; jogou o famoso pó de pirlimpimpim da fadinha madrinha do inesquecível Peter Pan (aquele inigualável pó do disfarce das estórias infantis) em toda a parte externa de sua Vimana Super-Veloz Voadora Maravilhoso Veículo Alado (para retirar dele o clarão do sol, uma vez que o seu brilho era detectado a léguas e léguas de distância), e voou até ao local desejado.

É bom que você saiba, desde já, que, em suas aventuras do Século XX, este recurso era sempre apreciado pelo nosso Bhima. Em verdade, o Século XX tornou-se tããão barulhento, setecentos e setenta e sete vezes tããão barulhento!, que o Bhima não desejava transformar-se em mais um produtor de barulho na Terra dos Homens. Também, esta providência era-lhe necessária, porque ele, no Século XX, já não podia chamar a atenção dos humanos, os quais já não respeitavam os Seres Extra-Terrestres e, com certeza!, iriam querer roubar do Senhor Supremo o segredo de fabricação de sua Vimana Voadora. Roubar inventos divinos, desde o início do Mundo, sempre foi a prática preferida dos humanos ladinos.

Mas, voltando à história da Montanha Mágica da Serra dos Carolas Mineiros, um local bem pertinho do Esplendoroso Monte do Divino Espírito Santo Altaneiro, próximo da Protetora Santa Luzia dos Carangolenses Argueiros, naquele dia, o Bhima colocou um silenciador de motor de carro barulhento em sua Vimana Brilhante Maravilhosa, e voou ansioso até ao terreiro de terra batida da incomparável Jane Briseides Muito Fermosa, e ficou, ali, disfarçado de aragem vespertina, naquela hora milagrosa em que as duas (mãe e filha) se juntavam para contar recontar e ouvir Estórias de Espantos e Santos e Seres do Além, e entreteu-se apreciando os relatos de Mamãe sobre o mistério que cercava a Montanha Oca dos Transcendentes Espíritos Milenares do Bem.

Foi aí, então, que o Bhima ficou conhecendo a história da Montanha do Sino Bim-Bim-Bá-Lá-Lão (florezinha na cinta e ginete na mão), totalmente oca por dentro, na qual vivia o espírito de um antigo sacristão, o qual costumava, nas horas religiosas do dia, horas de Ave-Maria, o grande sino, da pequenininha Igrejinha da localidade, tocar. Aí, então ― continuava contando a Jane Briseides de Irradiante Atração à sua filhinha Diana Valente Caçadora de Mancebos Masculinos Supra-Reais em Extinção ―, um certo dia, o sacristão apareceu mortinho da silva, assassinado com uma certeira facada no coração tão bão, bem encostadinho na parede de pedra da tal Montanha do Bom Sacristão, a qual naquela época não era ainda oca, e que, depois da tragédia, tornara-se oca, e que, naquelas horas sagradas do dia, horas de Ave-Maria, podia-se ouvir as badaladas do sino, quando as crianças inocentes, naquelas tais horas, jogavam pedrinhas miúdas na Montanha Vibrante. Aí então, por consideração de Deus Nosso Senhor de Imortal Coração, o qual amava fervorosamente aquele sacristão, tão cumpridor de seu dever de cristão, aí então o bom Deus, não se conformando com o trágico assassinato de seu fiel servidor, transformou a sólida montanha na Montanha Oca do Sino Plangente Dim Dão, só para que os carolas da região jamais se esquecessem do sacristão em questão.

Aí então, a Dianazinha perguntou à Mamãe do ReCanto Sagrado, porque o sacristão foi matado, se ele era assim tão bão e por Deus estimado? A Mamãe, que era uma incrível contadora de estórias, sacudiu o seu embornal de insólitas informações não muito racionais, e retirou de lá uma estória bonitinha, para contar à sua curiosa filhinha. Então, a Jane Mamãe explicou tudinho certinho. O sacristão morreu porque era muito amado por Deus! Só ele sabia o segredo da Montanha de Brilhante e Verdadeiro e Eloqüente Ouropel, e, através dela, ele se comunicava com os habitantes do Céu. Aconteceu, Diana!, que lá, no local, existia um tal que era partidário do Mal. O adepto do Canhoto queria também conhecer o segredo celestial. Só o sacristão sabia que, no interior daquela montanha, os Anjos-Emissários de Deus ali pernoitavam, e, com eles, o sacristão conversava animado. O sacristão muito apanhou, mas não delatou! Aí, então, com uma facada certeira em seu coração, o malvado, sem um pinguinho sequer de compaixão, o matou. Mas, o criminoso recebeu o castigo do nosso Deus Amado e Adorado! Ali mesmo, no mesmo local da crueldade com o Muito Prezado (aquele de Deus estimado), com uma morte horrorosa ele também pereceu. O homem malvado morreu engasgado. Com o ossinho do pescoço da galinha em sua garganta alojado, o malvado correu até ao local do crime assinalado. O homem do mal, percebendo a hora de sua morte fatal, quis pedir perdão à alma do sacristão. Mas, não pode, coitado!, porque o Danado, que estava ao seu lado, não deixou, de jeito nenhum! Enquanto corria, ele ouvia o Danado que, por intermédio de um estranho ventinho alado, com uma voz sussurrante, dizia vibrante: “Já que ocê tá arrependido do crime a meu mando praticado, e quer pedir perdão à alma do sacristão por Deus muito estimado, não vou tirar o ossinho em sua goela fincado. E, como ocê não terá voz para implorar, nem o Deus dos Cristãos irá lhe ajudar”.

No dia da morte do homem malvado, assim contou a Jane Mamãe, os habitantes da região, inclusive o meu avô José Damásio de Amorim e minha avó Maria Ricarda, habitantes da Serra dos Carolas, foram até ao local e os dois viram o cadáver do homem malvado desaparecer numa fogueira sinistra, amalocado dentro de um estranho buraco sem fundo, cheio de fumaça sufocante, que apareceu por ali, inesperadamente, naquele angustiante instante, tragando o cadáver do homem malvado, levando-o para as profundezas incomunicáveis do Hades Renegado. E um som desafinado de harpa, sinistra, intrigante, foi ouvido por todos que ali se encontravam naquele instante. Assim, no meio de um rastro de fogo alucinante, dentro de um buraco sem fundo, acompanhado de uma música fúnebre de harpa dissonante, o cadáver do malvado desapareceu para sempre, e nunca mais foi encontrado! Até hoje, Diana!, minha menina!, os habitantes do lugar, naquelas horas sagradas, já assinaladas, quando as crianças inocentes vão, até lá, para jogar pedrinhas na Montanha Ocada do Som Bim-Bim-Bá-Lá-Lão, eles escutam o tilintar do sino sagrado do sacristão, e, ao mesmo tempo, escutam, também, o profundo lamento de remorso do criminoso, um triste pedido de perdão, através da melodia de harpa vibrante do vento intrigante. Por isto, a montanha, até hoje, é conhecida pelo nome de Montanha do Eco, enquanto os habitantes da região a denominam de Montanha Oca ou Montanha do Sino ou Montanha Vibrante ou Montanha do Som Angustiante.

Depois de acompanhar, invisível naturalmente, a incrível história de Jane Briseides Mamãe, o Bhima se afastou dali, de fininho, silencioso, e foi para o seu Recanto de Luz. Como já estava um pouco cansado, e já era noite na Terra dos Homens, recolheu-se em seu aposento de dormir, dentro de sua Vimana Casa Voadora Repleta de Esplendor, e preparou-se para desfrutar de mais uma noite de sono reparador. No dia seguinte, ele bem o sabia!, iria conferir, na Magnífica Tela Mágica dos Grandes Acontecimentos, aquela estória da Jane Briseides dos Literários Inventos. De qualquer maneira, o Bhima refletiu antecipadamente!, aquela estória da Jane, por ela fora inventada, uma vez que a imaginação da dita Mamãe originava-se do Reino do Nada. Enquanto não, Bhima caiu em profundo sono reconfortante. Enquanto aquilo, lá na tal Galáxia Especialíssima, em seu Planeta de origem, do qual se distanciara há milênios, submetido à sua função de Guardião da Milícia Intergalática de seu Supremo Senhor, a mãezinha do Bhima, tristinha, rezava por ele ao Deus do Louvor.

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