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terça-feira, 18 de maio de 2010

6.4 - O LADO EXUBERANTE DE UMA REALIDADE SINGELA


6.4 - O LADO EXUBERANTE DE UMA REALIDADE SINGELA

NEUZA MACHADO



O fogo mítico (fogo-princípio) de A Hora e Vez de Augusto Matraga, fogo punidor e religioso, deu início a essa transformação para o fogo das paixões maiores. E eis a dialética de transição: o pequeno e o grande fogo. Em Grande Sertão: Veredas, o fogo transcende os limites do pequeno, alcançando a exuberante grandeza do íntimo fogo do amor e das grandes causas; fogo que abala e queima uma alma que sonha no plano das emoções maiores. Só o fogo para avivar o colorido intenso do sertão. Só o fogo para acalorar toda a existência de Riobaldo, submetendo-o ao pacto com o diabo (pacto inexistente), e ao amor pecaminoso por Diadorim. Só o fogo para fazê-lo lutar como um endemoniado na juventude, e aquietá-lo na velhice, brasas de fogueira, quase extintas.

As labaredas dos combates iluminam a narrativa, e as armas-de-fogo propiciam agitação permanente. O sertão, neste momento, é sonhado com ardor, não é o suave calor das pequenas chamas das lembranças que o faz grandioso.

Segundo Bachelard, essas nuanças do fogo estão ligadas a dois tipos de imaginação: a introvertida e a extrovertida. O calor interioriza-se e o fogo se expande, "é o calor que merece o nome de terceira dimensão, conforme a metafísica sonhada de um Schelling” (Bachelard). O verde do sertão e todas as outras cores recebem a expansão do fogo que caracteriza a imaginação extrovertida. A imaginação extrovertida, nesta fase, necessita de grandes e coloridas imagens, propiciadoras de transcendência dos limites estreitos do sertão real; precisa mostrar o lado exuberante de uma realidade singela. A terra e a água, amalgamadas, não possuem esse poder. Urge portanto aceitar a interferência de um elemento mais poderoso, que reinvente o âmago do sertão, para que o Artista possa descobri-lo em sua grandeza.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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