OS NOVENTA ANOS DE DONA MARIETA MACHADO
NEUZA MACHADO
Dona Marieta Pereira Machado está aniversariando hoje
(30-01-2013). A família toda está comemorando os noventa anos de Dona Marieta.
Quem é Dona Marieta Pereira Machado? Dona Marieta Machado é a matriarca muito
estimada da família Machado. Dona Marieta é a minha sogra, por mim querida e
admirada e reverenciada, além de ser reverenciada por todos os membros de seu
populoso clã. Dona Marieta está completando noventa anos e ainda viverá por
muitos e muitos anos aqui nesta terra de Deus.
Dona Marieta foi no decorrer de sua longa vida, e continua
sendo, uma mulher de valor (e eu tive a honra, como sua primeira nora, de
acompanhar e partilhar de mais da metade desta sua magnífica história de vida).
Dona Marieta sempre amou a vida (para que uma pessoa possa chegar aos noventa
anos, com saúde vital e mental para ultrapassar esta tão importante etapa temporal e chegar com vigor aos cem anos de idade, é necessário amar muito a vida e
respeitá-la). Dona Marieta sempre amou a vida e respeitou-a, mesmo trabalhando
muito (sempre trabalhando em casa, como dona de casa). Posso afirmar que não há
mais mulheres no mundo como Dona Marieta Machado: mulheres dedicadas
exclusivamente às suas famílias.
Dona Marieta viveu uma rotina caseira de muito trabalho
para criar os onze filhos, uma imensa prole que só lhe ofertou alegrias depois
de adulta (nenhum de seus filhos se extraviou neste mundão desestruturado). E, é de vital
importância esclarecer que, além de trabalhar muito como dona de casa, Dona
Marieta Machado não foi agraciada com o prazer do lazer enquanto criava os
filhos, não foi premiada com saudáveis divertimentos constantes nesses seus
longos anos de existência (posso afirmar-lhes que poucos foram os momentos de
lazer de Dona Marieta e muitos os momentos de preocupação com o bem estar dos
filhos). Somente de uns anos para cá, quase recentemente, já com alguns filhos
adquirindo situação financeira mais elevada, foi que a Dona Marieta parou de
trabalhar e desfrutou um pouco mais de lazer. Mas, há um motivo para essa
“parada” de trabalho. Tenho plena certeza de que minha sogra Dona Marieta
Machado trabalharia nos serviços domésticos caseiros (cozinhando seus
deliciosos almoços e jantares para a família) ainda hoje com muito prazer,
apesar da idade, se não fosse o tal motivo: Dona Marieta Machado está com
artrose nos joelhos, não movimenta mais com vigor e agilidade os joelhos (mas,
mesmo assim, demonstrando sua resistência aos problemas da vida, impõe-se
caminhar com as próprias pernas enfraquecidas, com dificuldade e bengala, é bem
verdade, mas com alegria por viver). Excetuando a artrose dos joelhos, Dona
Marieta Machado transpira saúde.
Como fui parar no animadíssimo
clã de Dona Marieta Machado, para meu único, inclusivo e exclusivo gáudio?
Lá pelo início dos anos sessenta,
o filho dela, o primeiro, o Teófilo Machado, viu-me a passear com as minhas
primas, à noite, na pracinha de um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, e em
um domingo de carnaval. Aos meus pais Antônio e Joana, já na semana seguinte, o
Teófilo pediu-me em namoro (naquele tempo, para namorar as jovenzinhas, os
rapazes tinham de pedir autorização aos pais, e era namoro severamente
vigiado). Eu estava saindo da adolescência, uma mineirinha acaipirada lá da
cidadezinha de Carangola de Minas Gerais, recém-chegada em caminhão de mudança
na cidade do Rio de Janeiro (e, acreditem em mim, naquele domingo de carnaval,
meus pais mineiros estavam ali por perto a vigiar-me). Teófilo Machado, o filho
primogênito de Dona Marieta Pereira Machado (todos mineiros também), estava com
pouco mais de vinte anos e a Dona Marieta, uma senhora jovem e muito bonita,
não contava ainda quarenta anos de idade (e já era mãe de onze filhos). Dona
Marieta casou cedo (com seu primo Bolivar Machado), aos dezesseis anos,
em Piacatuba, Minas Gerais (Distrito de Leopoldina), e foi mãe do Teófilo aos
dezessete anos. No final do ano seguinte, posterior ao nascimento de seu
primogênito, nasceu o segundo filho (uma filha, a Sônia) e, logo em seguida,
cada ano acabando e cada ano começando, com pequenas distâncias temporais,
nasceram mais nove filhos, todos perfeitos e com saúde (no total foram seis
homens e cinco mulheres). E houve também, capitaneada pelo marido Bolivar
Machado, uma infinidade de mudanças de residências, desde Minas Gerais ao
Rio de Janeiro. O meu sogro Bolívar Machado (que Deus o tenha no Reino da Glória,
pois já é falecido) foi um homem dinâmico e, por exigências de trabalho,
inicialmente no Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (emprego que
abandonou ao vir com a família para o Rio de Janeiro), e, posteriormente, como
autônomo, para criar os filhos, não havia tido residência fixa até o início
dos anos sessenta (já contando os onze filhos, pois a caçula, Marisa, nasceu em
fevereiro de 1959). Em seus diversos deslocamentos em busca de trabalho, o meu
sogro Bolivar Machado levava a família com ele (a esposa Marieta e os
inúmeros filhinhos). Os muitos filhos nasceram em cidades diversas de Minas
Gerais (penso que só a caçula Marisa nasceu no Rio de Janeiro).
Mas, voltando ao assunto inicial,
de como entrei para o clã de Dona Marieta e nele continuo até hoje, foi lá pelo
início dos anos sessenta que a Dona Marieta foi com o Senhor Bolivar à casa de
meus pais, em um dia 13 de junho, dia do aniversário do Teófilo, para
sacramentar o noivado e a data do casamento. Naquela noite estava a família
Machado e os muitos amigos festejando o aniversário do Teófilo. Eu estava ali
como convidada, sem a presença de meus pais, que foram convidados, mas não
compareceram por motivos pessoais. Dona Marieta não aceitou as desculpas de
meus pais (apresentadas à família por mim) e disse-me que iríamos buscá-los de
automóvel. A festa de aniversário do Teófilo já estava acontecendo na casa do
Senhor Bolivar e de Dona Marieta, e eu ali, como namorada convidada (feliz da
vida, no meio de uma família feliz e amigos felizes), quando me disseram que
iriam até a minha casa (que se situava ali por perto) para buscar os meus pais
para a festa (não desconfiei de nada sobre festividade de noivado e, inclusive,
meus pais também não sabiam de nada). E fomos (eu, o Teófilo, Dona Marieta e o
Senhor Bolivar). A decisão por buscar os meus pais Antônio e Joana foi pelo
fato de que eles não quiseram sair de casa para a festa do namorado da filha
(não estavam acostumados com festas familiares, mas gostavam muito do Teófilo e
me deixaram ir sem a vigilância deles; meus irmãos também não compareceram;
eram rapazes e estavam aproveitando a noite de folga com outras diversões).
Então fomos à minha casa e, ali, na sala de visitas, aconteceu o inesperado
pedido de casamento (fora da festa de aniversário que foi, na verdade, sem que
eu soubesse de antemão, a festa de meu noivado). Foi tudo muito rápido, e eu
não sabia de nada, posso jurar-lhes, pois ainda era uma jovenzinha inexperiente
(mas, nunca me arrependi por ter aceitado o pedido de casamento). O pedido foi
inesperado até para os meus pais Antônio e Joana.
Depois, voltei com eles para a
festa (sem a presença de meus pais), já com a aliança de noivado na mão
direita, onde fui recebida pelos convidados com muita alegria e muitos parabéns
e desejos de muitas felicidades; com música na grande vitrola da época (música
daquele início dos anos sessenta), danças, salgadinhos, deliciosos doces
variados e muita animação. No finalzinho do ano seguinte (31 de dezembro), aconteceu
o casamento católico e civil (com tudo certinho, com vestido de noiva rendado e
branquíssimo e a sagrada idolatrada virgindade guardada para a ocasião). Mas,
esta, é outra história que será contada depois.
Foi assim que eu passei a fazer
parte do clã de Dona Marieta Machado, minha querida sogra que hoje está a
completar noventa anos, ela que é uma grande matriarca à moda mineira, reinando
absoluta em seu reino caseiro particular (o seu marido Bolivar vivia fora de
casa, em constante lida de trabalho, às vezes, passava quinze dias sem aparecer
em casa). Dona Marieta Machado, como já lhes afirmei antes, trabalhou muito
para criar os filhos (serviços do lar, deliciosas refeições para os muitos
filhos e agregados), apenas como dona de casa e sem salário (o seu marido
Bolivar, por meio de trabalho suado, e os filhos maiores, que já trabalhavam
fora, foram os provedores do dinheiro, para as despesas imensas da casa e para
a educação colegial dos filhos menores, até suas adolescências).
Por muitos anos, Dona Marieta se
viu obrigada a acordar às 5 horas da manhã, ou antes, para providenciar o café
da manhã dos filhos maiores, que levantavam cedo para irem ao trabalho, e, dos
pequenos, que também acordavam cedo para irem à escola. E, mesmo cansada de
tanta labuta diária, ia a Dona Marieta dormir por volta de meia-noite, apenas
desfrutando de um rápido cochilo, necessário, depois do almoço, que era servido
exatamente às onze horas (as filhas adolescentes arrumavam a cozinha depois de
todas as refeições do dia). Hoje, a minha sogra Dona Marieta Machado colhe os
frutos de sua renúncia dos prazeres da juventude (ela que foi uma mulher de
rara beleza, e beleza que durou por muitos anos e dura ainda aos noventa anos)
e colhe também os frutos de sua paciência existencial e de seu desvelo pelos
filhos.
Sobre a extraordinária vida de
Dona Marieta e sua paciência e amor pelos filhos, minha sogra, por mim
idolatrada, ainda poderei escrever interessantes casos incontáveis. Por
exemplo, como primorosa cozinheira de seu lar, naqueles anos dinâmicos de nossa
convivência diária, ela premiava os filhos e os convidados de sua mesa com
saborosas iguarias (realço aqui, que foi com ela que aprendi a cozinhar). Hoje,
Dona Marieta Pereira Machado não precisa mais dar duro nos trabalhos domésticos,
é amada, acarinhada e reverenciada por todos que com ela convivem (filhos,
netos e bisnetos, irmãos, e numerosos sobrinhos e primos, incluindo os parentes
por parte do marido Bolivar, os quais são também seus parentes de sangue; e são
muuuitos!) e por todos os outros de outras origens familiares (genros e noras e
outros agregados), os quais, paulatinamente e permanentemente, passaram a fazer
parte de seu núcleo familiar.
Atualmente, Dona Marieta Machado
só tem dez filhos (fez em fevereiro 53 anos a caçula Marisa, e, em 13 de
junho, setenta e dois, o primogênito Teófilo; as idades dos outros variam entre
esses dois). No final dos anos noventa, Dona Marieta passou por um terrível
sofrimento, pois perdeu uma filha, ainda jovem, com pouco mais de quarenta
anos. Minha sogra, Dona Marieta, sofreu a perda de sua filha Vera Lúcia. Não
vou comentar aqui o motivo da morte de Vera, minha cunhada querida. Os
maravilhosos noventa anos de Dona Marieta, comemorados hoje com muita alegria,
não pedem que eu comente aqui aquela triste doença que minou a saúde de Vera
levando-a para o céu (uma jovem mulher que queria muito viver).
Com estas recordações do pouco
que sei sobre os primeiros anos da história de vida de Dona Marieta Pereira
Machado e sua família, acrescido de um importante trecho, muito valioso para
mim, de nosso passado em comum, ficam registradas aqui as minhas homenagens
àquela que será permanentemente (enquanto eu viver) minha querida e estimada
sogra e carinhosa avó de meus filhos (Ana Lucia, Alexandre e Claudia), além de
considerá-la como minha segunda mãe.
À extraordinária e exemplar Senhora
Dona Marieta Pereira Machado envio os meus votos de muitas alegrias e
felicidades neste dia em que, com toda a família Pereira Machado reunida à sua
volta, realiza-se a comemoração de seus noventa anos. Junto com os meus votos
de felicidade, desejo augurar à Dona Marieta que ela esteja aqui conosco nos
próximos aniversários de noventa e muitos e muitos anos que, tenho plena
convicção, haverá de comemorar. E se Deus assim o permitir, eu particularmente
espero estar com vida e saúde, daqui a dez anos, para abraçar a aniversariante
de hoje na comemoração de seus cem anos de idade, pois quase poderei afirmar
que Dona Marieta Machado viverá ainda por muitos anos, lúcida e sempre alegre,
com seu belíssimo sorriso, e, como sempre, repleta de otimismo, para a
felicidade geral de seus familiares.
Que Deus abençoe Dona Marieta
Pereira Machado, sempre!
Neuza Maria de Sousa Machado
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