A HISTÓRIA DE ANTÔNIO:
SINHÔ JOAQUIM PEREIRA, A ESCRAVA MARGARIDA E O FILHO EUZÉBIO
ANTÔNIO DE SOUSA COSTA
Voltando ao meu avô Joaquim
Pereira, o de sangue mestiço, quero falar sobre uma escrava por nome Margarida.
Eu tenho uma recordação dela, de quando ela já estava bem velhinha. Ela tinha
uma filha por nome China, e vinha sempre com a filha em nossa casa, pois era
muito amiga de minha mãe.
Margarida era uma escura já velha, mas tinha o corpo
aprumado e era bem feita de feição. Tinha também um filho por nome Euzébio. Euzébio
era um mulato de boa estatura, muito alegre, vivia sempre sorrindo, e tocava
viola e violão muito bem. Era muito amigo de nossa família. Era também um bom
carpinteiro e bom marceneiro. Quando meu pai Zeca de Souza precisava de um
carpinteiro, para fazer qualquer serviço, mandava chamá-lo, e ele vinha de muita
boa vontade. Já chegava fazendo bizarria. E assim ele trabalhava em todo
serviço de carpinteiro. Diziam, todos da família, que Euzébio era filho de meu
avô Joaquim Pereira. Minha mãe Antoninha nunca disse nada desse assunto, mas
tia Olívia era muito brincalhona e, de vezes, até nos bailes, ela puxava
Euzébio pelo braço e dizia para todos: “– Agora vou dançar com meu irmão”. Ele
parecia até muito satisfeito com a brincadeira.
Euzébio era também muito vaidoso. Ele era casado com
uma escura, por nome Redosina, e era pai de vários filhos, e todos
trabalhadores. Redosina trabalhava com os filhos na roça, fazia plantio de
cereais, tocava lavoura de café, e tinha em casa muita fartura de mantimento,
criações de porcos, de galinhas, mas, Euzébio era quem administrava tudo.
Quando chegava a colheita de café, Euzébio vendia o café, botava o dinheiro no
bolso, ia pra o Arraial, e ficava o
dia todo bebendo cachaça, e só voltava de noite, mas sempre unido à família.
Euzébio era um bom trabalhador, o serviço que fazia era feito com muita
perfeição; era sossegado, não tinha pressa; serviço que podia fazer em um dia,
ele gastava dois; sempre muito conversado, batendo
folia nos outros; também era
criticado por alguns, que não gostavam dele, porque ele andava sempre bem vestido
e bem calçado, camisa e calça de brim amarelo, um bom chapéu de lebre na
cabeça, um bom calçado de pelica nos pés, e era metido a conquistador, mas era
um homem de paz, conhecedor da Bíblia, mas não era religioso.
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