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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

GUIMARÃES ROSA: TEORIA LITERÁRIA x FILOSOFIA BACHELARDIANA - 2

NEUZA MACHADO



TEORIA LITERÁRIA x FILOSOFIA BACHELARDIANA

NEUZA MACHADO


Restabelecendo um importante juízo de Bachelard, registrado em seu livro A Dialética da Duração, no qual admite a possibilidade de intervalos temporais propiciando o surgimento de obstáculos, desvios, impedimentos, que poderão ou não quebrar as cadeias causais (ou seja, entre causa e efeito há sempre uma intervenção de acontecimentos possíveis que não estão ligados ao dado causal), colocarei aqui em evidência meus pensamentos dialetizados, situando-os exatamente nesse plano de probabilidades. Este meu ponto de vista teórico-crítico, interagindo aqui com a filosofia bachelardiana, é uma teoria não-causal no plano da Arte, uma vez que estarei buscando novas argumentações críticas (transmutando pensamentos já avaliados, aspirando a uma renovação nos atuais estudos da literatura brasileira), próximas de nossa realidade cultural, objetivando desenvolver um intercâmbio de idéias comunitárias com nossos artistas literários.

Não estarei presa simplesmente à causa, mas interessada em ultrapassar os obstáculos, visando muito mais o que poderá surgir como novidade no âmbito da Teoria ou da Crítica Literária, neste início de Terceiro Milênio. Penso assim movimentar-me para um novo posicionamento teórico-crítico, que abarque a realidade literária da qual faço parte como leitora-intérprete consciente da urgência de invenção de uma variante crítica autóctone que acompanhe a criação literária de nossos escritores. Uma teoria causal, objetivando um fim imediato, por ora, seria impossível, devido aos inevitáveis obstáculos, mas nada irá impedir-me de aventurar-me nas veredas das probabilidades quantificadas, probabilidades estas que darão conta posteriormente dos resultados que procuro obter.

Nestas páginas iniciais, torna-se indispensável esclarecer que o meu envolvimento intelectual com a filosofia bachelardiana surgiu de uma íntima recusa em seguir fielmente os modelos europeus ― analítico-cientificistas ― de como se desenvolver um estudo literário. É importante realçar que esses modelos foram projetados para o estudo de obras literárias voltadas para a realidade européia, as quais, em absoluto, não se ajustam à nossa realidade. As pesquisas acadêmicas, sobre a literatura brasileira, deveriam pautar-se por um conhecimento teórico-interpretativo próprio, um direcionamento crítico que se identifique mais com as idéias criativas de nossos narradores e poetas. Por tais motivos, repito: as teorias e críticas literárias européias foram inventadas para suprirem as necessidades de análise e/ou compreensão de textos literários europeus. É preciso enfatizar que essas teorias não abrangem o todo de nosso universo literário, uma vez que não foram pensadas em função de nossas vivências. Entretanto, mesmo afirmando a minha intenção de dialogar com os conceitos bachelardianos (conceitos filosóficos oriundos da Europa), quero reafirmar que, ao longo desta sondagem interdisciplinar, o meu ponto de vista sobre a ficção roseana desenvolver-se-á sob uma particular interpretação dessas idéias.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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