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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

RIO DE JANEIRO, 25 DE NOVEMBRO DE 2001: EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO

NEUZA MACHADO


EPÍSTOLA AOS HOMENS E MULHERES DO FUTURO

NEUZA MACHADO



RIO DE JANEIRO, 25 DE NOVEMBRO DE 2001



Meus Amigos e Amigas do Futuro! Hoje mudarei o rumo do meu missivo. Quero enviar-lhes outros assuntos. Não lhes escreverei sobre Guerras e muito menos tristezas. O motivo desta decisão se encontra em meu Mapa Astrológico de Nascimento. Descobri que o Mistério do Futuro me fascina e possuo, graças ao meu Sol Astral, a faculdade de conversar com vocês através de cartinhas. Descobri, também, que, até este preciso momento, ainda não lhes falei de mim. Sou apreciadora de Oragos Astrais e Culinárias Exóticas. Além disso, gosto de escrever textos reais ou insólitos e não sei lidar com imposições que limitem meus procedimentos existenciais. Por uma grande sorte do destino – os sagitarianos sempre se acham proprietários da Sorte Benfazeja, não aceitarão nunca a tal sorte malfazeja –, nasci em um lugar fora do comum e, ali, aprendi a Arte de Cozinhar. Por isto, quero que conheçam meus segredos culinários, em outras palavras, OS SEGREDOS DE CULINÁRIA DE ODISSÉIA MARIA.

Desde meu nascimento, eu, Odisséia Maria, vi-me envolvida com a arte de comer bem. Só para vocês terem uma idéia, pendurei-me aos seios de minha Mãe (a Jane Mamãe dos Martins Briseides) e mamei seu precioso leite, ininterruptamente, até aos sete anos. Ocorre que Mamãe era uma camponesa saudável, uma descendente de Valerosos e Másculos Imortais Caçadores de Onças Pintadas, de Jaguatiricas Noturnas e de Gattas do Matto, Caçadores, os meus Masculinos Ancestrais Tão Gigantes, de Mineiras Matronas Fermosas (meu Papai Antônio Aquileu também), habitantes lendários de Minas Gerais, uma região mítica, mágica, sem-igual no Mundo Global, localizada na parte Leste do Brasil Varonil. Assim, graças à genética saudável dessa descendência tão ilustre, Mamãe agüentou, com galhardia, o apetite descomunal de sua excêntrica filhinha. Quomodo vocês já notaram, nasci em um Alto de Serra Of Hinterland de Minas Gerais (aqui, em minha Pátria Natal, no Brasil Cor de Anil governado pelo FHC, neste Anno de 2001, adoramos os idiomas estrangeiros; principalmente o idioma inglês) e, quomodo serrana caipira, possuo o conhecimento dos segredos inumeráveis, mitológicos, sobre culinária, ervas, simpatias e muito mais, que estavam e estão ainda guardados a Sete Chaves pelas Matriarcas Mineiras. Obtive o direito de aprender as sigilosas receitas de minhas ancestrais cozinheiras com minha Avó Justiniaña de Ogiges, descendente da lendária Calipso, aquela que muito amou o navegador grego Ulisses, o Eversor de Cidades, também parente distante do Centauro Quirón. Foi graças a essa minha inesquecível Avó Camponesa (entretanto, mui Lady, uma senhora da roça mui fidalga), a poderosa Maga Quiromântica Justiniaña, neta de uma portuguesa de olhos glaucos, misteriosos, oriunda da indescritível Ilha de São Miguel, aquele Arcanjo Poderoso, que Jane Briseides Mamãe, filha de Emiliano de Brises, teve a feliz idéia de batizar-me, nas águas eternais do Rio Carangola, com o nome de Odisséia Maria. Depois destas explicações, necessárias, e antes de revelar-lhes os meus Segredos, gostaria de dizer-lhes que esta minha predileção por culinária (incluindo a minha vocação para literatura) já havia sido pressagiada pelos Astros que presidiram o instante, aquele espaço pequeníssimo, mas indeterminado, de tempo, de meu nascimento. Naquele momento, a Lua estava a 19o graus do meu signo de Sagitário, em minha Casa Dois do Dinheiro Vagamundo, se penso em meu ascendente a 21o do signo de Escorpião. Ocorre que o meu Sol de Nascimento estava a 3o do Centauro, na Casa Um, compartilhando com Escorpião o privilégio de também direcionar a minha vida interior práláde agitada. Por esta razão, o meu signo de nascimento sempre se imiscuiu na Casa Um do Ascendente e, também, na Casa Dois do Dinheiro Volátil, a bagunçar para sempre as misteriosas exigências de vida de meu misterioso Ascendente Escorpionino. Também por esta razão, a minha paixão por horizontes dilatados, sem preocupações existenciais, quomodo as preferências das Sagitarianas Sortudas, encontrou, por parte do Ascendente, a intimação, em função de direito suposto, de impulsionar, para minha vida, uma série de transformações radicais. Ah!, meus Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro!, durante esses muitos annos de vida, completados hoje, às 4h20min/horário Verdadeiro no Brasil Varonil (5h20min/horário de Verão), nesse Domingo práláde radioso, foram inúmeras as minhas transfigurações. Saibam Vocês qu’eu nasci em uma Segunda-Feira Misteriosa, dia de Lua Nova, em meados do Século XX, e, desde esse dia, tive a sensação de que o mundo seria, exclusivamente para mim (vejam Vocês!, eu, Odisséia, sou uma Serrana Caipira Ficcionalmente Egocêntrica), uma Grande Aventura. Jane Mamãe, em nossas discussões homéricas, vyásicas e dantescas, nas quais não faltaram as famosas chineladas, acusava-me de ser portadora da chamada Mania de Grandeza (a Mania de Grandeza Sagitariana, tão propalada pelos Astrólogos do Brasil Varonil). Pensando bem, Jane Mamãe e os Astrólogos tinham razão! Não foi sem motivo que Júpiter, patrono de meu nascimento, soprou nos ouvidos dela (de Jane Mamãe, naturalmente) o nome que faria de minha humilde pessoa uma Incansável Viajante Transtemporal.

Mas, voltando ao assunto principal – quomodo aprendi a Famosa Culinária de Meu Estado Federativo Natal –, o fato de ter nascido em uma Segunda-feira, dia consagrado ao culto da Lua, também o fato de estar a Lua – por supuesto, muito de bem com o Sol – localizada em Sagitário, um signo famoso por possuir nativos adeptos da boa mesa e, principalmente, pelo fato de Jane Mamãe, uma dominadora ariana de 01 de abril de 1917, casada com um aquariano (acho que Papai era do signo de Peixes, 18 de fevereiro de 1910/noite), não ter sido uma boa cozinheira – Mamãe, coitadinha, não sabia cozinhar –, repetindo, penso que tudo isso me converteu em uma apreciadora da Arte de Cozinhar. Valorizo, também, para explicar esta minha qualidade excepcional – este meu Talento Extraordinário –, o fato de possuir cinco planetas domiciliados nos signos de fogo: o Sol, a Lua e Marte em Sagitário, Plutão e Saturno em Leão, acrescentando o Meio do Céu em Leão (pelo Ascendente Escorpionino), a Cauda do Dragão de São Jorge Guerreiro em Sagitário, e a Lílith, a outra Lua Misteriosa, também em Sagitário. Convenhamos, meus Amigos do Futuro!, o Mítico Fogo teria de fazer parte de minha vida. Por todos essas causas, tornei-me uma fogosa cozinheira de deliciosas iguarias e uma avultada degustadora de comidas apetitosas.

Além da culinária mineira, aprecio qualquer outra culinária que satisfaça o meu paladar exagerado. Já aprendi, por exemplo, a cozinhar de acordo com os preceitos chineses, japoneses, indianos, et cœtera – sou fanática por comida oriental –; aprendi também a cozinhar de acordo com os costumes dos Caboclos de Manaus, quomodo, por exemplo, um Peixe ao Iskabaj à Moda Cabocla (escabeche: molho, conserva de temperos refogados, especialmente cebolas, aos quais se adicionam coentro, vinagre e muito azeite doce e, principalmente, muita pimenta murupi e pimenta doce, além de muito amor pela culinária manauara), iguaria deliciosa, sem-igual, realmente, um Alimento dos Deuses de Homero Beocianato.

Meus Amigos e Amigas do Futuro! Neste final de Novembro de 2001, e, por agora, terminando de digitar este meu missivo, estarei, aqui (espero que por um bom tempo!), passando-lhes os meus segredinhos da incomparável cozinha mineira e, também, de outros Estados do Brasil Varonil e do Mundo Rotundo, para que, aí, no Futuro Sem-Muro, vocês possam conhecer a Arte de Cozinhar de Meu Tempo Histórico (a mania que se instalou por acá, neste Primeiro Anno do Século XXI, um século pré-anunciador de Guerras, Crianças Desnutridas e Fome Implacável na maior parte do Planeta Terra).

Quanto às notícias dominicais, estarei de volta no Domingo que vem!

Recebam, Homens e Mulheres do Futuro, o meu afeto incondicional e um imenso, amplo e carinhoso abraço transtemporal.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane de Brises, descendentes de imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região incrivelmente mágica insólita diferente situada na parte Leste do Brasil Varonil.

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