DRUMMOND E “A LAMENTÁVEL HISTÓRIA DOS NAMORADOS”
NEUZA MACHADO
Neste final de ano de 2010, em um momento em que o Rio de Janeiro se transformou em uma praça de guerra, nada mais foi tão gratificante do que ficar em casa a repensar as anteriores crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Ao longo desses anos, contemplei-me a cultuar várias crônicas de Drummond, devidamente destacadas do Jornal do Brasil. Possuo vários recortes, e o receio de perdê-los fez-me digitá-los pacientemente, procurando resguardar a forma em que foram impressos no jornal.
Em uma dessas crônicas, datada de 11 de junho de 1983, Drummond retrata a caótica realidade amorosa da mocidade daquele momento histórico do Brasil. O povo brasileiro estava saindo de um período de ditadura militar e o futuro se revelava uma incógnita, principalmente para os mais jovens. O medo de viver tranquilamente continuou, mesmo depois do término da ditadura. Tornava-se necessário ao brasileiro recolher os cacos de uma antiga suposta serenidade e continuar em frente. Namorar então, à moda antiga, com resguardo virginal e romantismo, tornou-se algo ultrapassado. E Carlos Drummond de Andrade com uma genial agudeza de espírito soube descrever, em forma de crônica-poema, os semblantes apreensivos dos jovens enamorados do ano de 1983. Entretanto, a preocupação com o futuro continuou. No Brasil dos anos finais do século XX ainda não havia lugar para as alegrias sentimentais.
Novos medos e imposições foram surgindo e a juventude brasileira prosseguiu acuada, refém de novas formas de ditaduras (não vou nomeá-las; deixo a tarefa para vocês que estão, neste momento, a ler este meu Blog).
Contudo, depois de um período de guerra (e, graças a Deus!, a guerra já está mais ou menos amainada!), sempre surge um largo momento de pura paz. Vamos esperar!
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