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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Abutre e o Sol Negro

(Alexandre Machado)
Alto vôo.
Fim de madrugada.
A lua vermelha,
como sangue,
vai se despindo
de seu brilho,
e o dia vem
aos poucos,
tocando de leve
o alto vôo
do abutre.
Seus olhos afiados
se moldam para acomodar
o contraste da luz da noite
e do dia.
E o sol desponta no infinito,
diferente,
imenso círculo prateado,
raios negros,
insondável,
quase que engolindo
o mundo inteiro.
O medo nos olhos afiados,
a ansiedade movendo as asas,
e o inevitável encontro...
face a face,
o abutre e o sol,
como uma morte...
como um beijo.
E os raios negros do sol
se confundem com o negro corpo
do abutre
em transe.
Sua carne se desintegrando
no calor sem limites
do sol,
como se este fosse
o abutre do abutre,
comendo-lhe o corpo ainda vivo.
E ambos se entregam
a esse indescritível encontro,
enquanto o dia fica
cada vez mais claro
e mais brilhante,
iluminado pelo amor,
pelo sexo,
de um abutre e um sol
de raios negros.

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