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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

RIO DE JANEIRO, 30 DE SETEMBRO DE 2001: EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO


EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO
NEUZA MACHADO



RIO DE JANEIRO, 30 DE SETEMBRO DE 2001

Hoje, Domingo, 30 de Setembro de 2001, Primeiro Anno do Século XXI e Primeiro Anno do Terceiro
Milênio, conforme o prometido, eis-me aqui novamente.

Meus Amigos! Espero que,
aí, no Futuro, o mundo
continue existindo. Desejo,
sinceramente, que vocês estejam gozando boa saúde, paz e felicidade. Ab imo pectore (espero ter escrito corretamente a expressão latina, atualmente, em desuso), do fundo do peito, do mais íntimo recanto de minha alma, anseio que o mundo de vocês continue belo e grandioso. Todos os dias, desta minha existência terrena, rogo por vocês ao Deus de Bondade da Fé Cristã. Continuarei rogando, ad infinitum. Espero que a Floresta Amazônica, o pulmão do mundo, continue existindo. Sem ar puro, vocês não existirão. Neste meu tempo de calamidades sem-fim, as centenárias árvores do Brasil Varonil são derrubadas, diariamente, em grandes quantidades. E os peixes? E os animais selvagens? Estão quase desaparecendo da face da Terra, graças às ações insensatas dos homens. A água está por um fio. Os grandes rios estão secando. Os rios da Floresta Amazônica (o Pulmão do Mundo), neste início de Terceiro Milênio, ainda são grandiosos, volumosos, mas, não sei não!, se continuar assim, com os homens a derrubar as árvores da Grande Floresta, eles (os rios, as árvores e os homens) perecerão, com certeza.

Mas, a vida continua aqui como dantes, nada mudou no Quartel do Abrantes. O Sol Hipercariocjônio brilhou nos céus do Rio de Janeiro. Muitas famílias foram passar o dia na praia; levaram suas crianças, cachorros, barracas de sol, água, cervejas, refrigerantes, e muita disposição para enfrentar os longos engarrafamentos de carros, na ida e na volta, nas largas ruas de minha Cidade Maravilhosa. Os cachorros também vão à praia, com seus donos. Que problemão! As areias repletas de lixo e cocô de cachorro! Os cachorros de estimação, de alguns ilustres senhores e de algumas impecáveis damas, são um problema à parte. Pela manhã, ou então à noite, na calada da noite, seus donos saem com eles pelas ruas de seus Bairros tradicionais. Não se assustem, Amigos do Futuro! Eles estão apenas passeando com seus bichinhos, os quais ficam confinados, durante o dia, nos micro-apartamentos. Entendam, são os cachorros que defecam nas ruas e, cá entre nós, abaixar, para limpar a sujeira, é muito humilhante! Que se dane a limpeza da Cidade Maravilhosa, neste ano de 2001! Que se danem os pedestres distraídos, aqueles que pisam nos cocôs de cachorro espalhados pelas calçadas.

Mas, continuando com as minhas notícias, outras famílias foram aos Templos de suas religiões, cumprindo, assim, suas obrigações religiosas; outros foram às suas Igrejas porque estão, realmente, iluminados pela chama da Fé. E haja fé nos dias de hoje! É preciso muita fé em Deus, para agüentar as pressões do cotidiano. A ameaça de Guerra continua a nos assustar. No Oriente Médio, no Nordeste do Brasil Varonil, em outras partes do Mundo, há crianças e adultos passando fome e sede, morrendo desamparados. Não sei quomodo relatar-lhes a permanente miséria que invade algumas partes do Planeta. A pobreza é uma realidade, até mesmo em alguns países do Primeiro Mundo. Mas, no Brasil Varonil, meu país abençoado por Deus, ser pobre é uma coisa normal. Todos lutam para ganhar o pão de cada dia. O salário do pobre não é suficiente para pagar as despesas com roupas, calçados, alimentação; uniformes escolares para as crianças, cadernos, lápis, impostos altíssimos, et cetera. Entretanto, somos um povo feliz! O Sol hipercariocjônio não deixa de iluminar a Cidade do Rio de Janeiro, a mais bella Megalópole do Mundo.

Enfim, são estas as notícias de hoje. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me!

Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes meu abraço carinhoso.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.

P. S.: Minha narrativa ODISSÉIA MARIA um dia será publicada em Brasilês Vulgar. Aguardem!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

RIO DE JANEIRO, 23 DE SETEMBRO DE 2001: EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO


EPÍSTOLAS AOS HOMENS DO FUTURO
NEUZA MACHADO


RIO DE JANEIRO, 23 DE SETEMBRO DE 2001

São 18 horas e trinta minutos de um Domingo Iluminado pelo Sol Hipercariocjônio no Brasil Varonil, em um 23 de setembro de 2001, apesar da ameaça de Guerra Mundial que paira no ar. Não sei se haverá a Terceira Guerra Mundial, só vocês saberão, quando esta cartinha aí chegar, no Futuro. Não obstante o Grande Sol que nos ilumina todos os dias, estamos com os nossos corações repletos de nuvens sombrias. O Mundo sofreu o seu pior abalo, desde a Guerra do Peloponeso (431 a.C.). Os americanos foram agredidos pelos terroristas invisíveis, no último dia 11 de setembro, e prometem agora uma revanche sem igual. As guerras da Antigüidade – cantadas em famosos versos épicos – passarão a ser insignificantes diante da hecatombe que se avizinha. Hecatombe, na Antigüidade, era uma palavra que significava “matança de cem bois”. Ainda não conheço uma palavra melhor para significar as carnificinas diárias que ocorrem no Planeta. Já não são cem bois sacrificados em louvor de um determinado deus dos antigos pagãos. Agora, são milhares e milhares de vidas humanas, inocentes que pagam pelas brigas, políticas ou religiosas, dos dirigentes do mundo. Mas, a despeito das ameaçadoras nuvens escuras, hoje o Carro de Apolo brilhou na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.

O Domingo iluminou-se, porque tive o privilégio de apreciar uma das mais belas Exposições da Arte do Século XX. Neste mês de Setembro, o Rio de Janeiro encarregou-se de hospedar uma boa parte das obras de grandes pintores e escultores do Surrealismo.

Retorno da visita com a inquebrantável certeza de que os ideais dos surrealistas de 1924 deveriam ser reativados. Abalados pela Primeira Guerra Mundial, pregavam a explosão do Continente interior, rejeitando os valores de uma civilização progressista e industrial. A Arte como instrumento de conhecimento de planos não-substanciais da realidade. A apreensão do insólito que se entremeia entre as camadas conceituais do pensamento formal. A invenção de uma escrita nova – juízos novos, como diria Gaston Bachelard – com o objetivo de rejeitar a grande prostituta, a razão. Os surrealistas, desconcertados, buscavam no interior das imagens desencontradas, díspares, o fio condutor que proporcionaria ao mundo uma nova ordem. Infelizmente, a desordem, provocada por ideologias desencontradas, continuou imperando no Planeta, ao longo do século XX, e, neste início do Terceiro Milênio, ameaça continuar com seus desmandos. As imagens insólitas, que deveriam ficar apenas no plano da arte, tornaram-se reais. Não há mais como separar realidade e imaginação.

Nesta constante necessidade – dos Intelectuais – de nomear novas estéticas, pergunto-lhes, Homens do Futuro: qual será o nome que vocês darão à sensibilidade artística de sua época vindoura? Nesta fase desconcertada de minha tumultuada realidade, os diversos segmentos da Arte, do meu Brasil Varonil e do Mundo Global, se rotulam PÓS-MODERNISTAS.

Enfim, são estas as notícias de hoje. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me! Enquanto isto, o Mundo continua a girar em torno do Sol Apolíneo.

Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes o meu cordial abraço.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.


P. S.: Meus Caros Amigos, espero que, no Futuro, estejam lendo e apreciando a minha narrativa ODISSÉIA MARIA. Infelizmente, ainda, não consegui publicá-la. Saibam que, neste meu momento histórico, não é nada fácil publicar livros!